Foto by Raquel Escudero, National Geographic

Olhos cor de céu

Gosto de olhar o céu. Meus pés pisam pedras, e ainda assim é o movimento das pessoas e o seu passear que me deixa assim, embevecida. Este sol que vai aquecendo a nossa terra, castanha, fresca, com um cheiro só dela. E é por isso, que às vezes me deixo só assim, a olhar. Às vezes nem sei para o que estou a olhar ou porque estou a olhar mas vou escutando as vozes que falam e caminham depressa, as pessoas a acotovelarem-se e as gargalhadas dos que como eu, vivem no rosto da brincadeira.

Ouvi dizer que Malala Yousufzai foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz. Ela dirigiu o seu prémio a ‘todas as crianças sem voz’. Não sei bem o que ela quis dizer. Talvez falasse sobre a liberdade de expressão e os direitos humanos –

“Não interessa a cor da pele, a língua que falamos, a religião em que que acreditamos, devemos considerar-nos todos seres humanos e devemos respeitar-nos e lutar pelos direitos das crianças, das mulheres e de todos os seres humanos.” (Jornal Público)

Os turistas compram as especiarias aqui da região. Será que na terra dele, não as têm? Acham piada aos nossos saris e dizem que os nossos templos são muito bonitos. O costume dos nossos saris demarcam a independência da nossa Índia e os nossos templos representam os deuses a quem adoramos. Aí pelo mundo, devem de existir outros costumes assim como os nossos e outros templos também. No fundo, acabámos todos por nos encontrar no nosso templo interior.

Aprendi que tenho de pensar que o paquistanês não presta, pelas dificuldades que tem colocado às nossas famílias; é por causa dos limites de território. Mas as crianças paquistanesas são assim como eu, gostam de rodopiar e dançar, de gracejar e brincar ao kabaddi. Vejo os mercadores felizes por terem mais umas moedas em suas mãos para alimentar a família. As mulheres também têm lutado por conquistar o seu lugar; mas às vezes ao ver o seu sofrimento nem sei se vale a pena. Malala disse para termos coragem e às vezes são exemplos como os dela que nos fazem sonhar em silêncio, assim como eu permaneço. Nem sempre tenho coragem, muitas vezes olho apenas…e deixo-me assim, a contemplar.

Os Turistas quando me veem, dizem ficar impressionados com os meus olhos e os vizinhos desde que nasci, dizem que tenho o olhar do Rio Ganges em toda a sua purificação. A água do ganges nasce no céu e purifica a alma de todos os pecados; por isso ao amanhecer as pessoas se banham no rio. A mãe comentou que o governo está a tentar desintoxicar o rio, visto que ele já não se encontra com as águas límpidas…mas com poluição. Mais uma luta da nossa Índia. Às vezes penso: ‘Como será do outro lado onde existe mar?’. Nós temos a frescura de nossos rios, mas dizem que os mares são bravios e a sua espuma é como as nuvens ou a lã dos carneiros e que o odor é um tanto salgado…isto sou só eu a pensar! Varanasi, a minha cidade é chamada a ‘Cidade da Luz’ e considerada uma das mais antigas da Índia; as flores, os cheiros, as preces e orações no rio ganges chegam até aos nossos ouvidos…já é natural! Agora, vou juntar-me ao resto da família a almoçar! A avó e a mãe capricharam, o cheirinho já chegou aqui…elas vivem para satisfazer a família inteira; eu não sei se também terei de ser assim… mas até gostava de ir ver o mar um dia desses!