Opiniões – Mara Tomé

Às vezes perguntam-me que método é utilizado nas terapias com as piolhas. Não sei bem o que responder pois não sou adepta de nenhum programa/modelo terapêutico em particular – sou adepta do que funciona, sejam programas comportamentais, cognitivos, direcionais, etc. – não me interessam especificamente os seus nomes ou designações mas sim quais os objetivos que se propõem atingir. Acho até, na minha opinião de leiga – e mãe observadora – que o que melhor vai funcionando com as minhas piolhas é uma mistura de todos. A verdade é que noto, em algumas sessões de terapia da fala, que os exercícios e atividades propostos tocam um pouco de cada programa sem que entremos profundamente nos seus conteúdos.

Não faço muitas pesquisas sobre os métodos que existem pois não quero viver a minha vida – ou forçar a das piolhas – em função do que existe e como posso pôr tudo isso em prática – been there done that -; gosto quando o que fazemos espontaneamente no nosso dia-a-dia se reflete na sua aprendizagem e até acaba por coincidir com um modelo qualquer, criado por um qualquer estudioso. Não me interessa se é bom ou mau, se foi criado pelo Dr.A ou Dr.B; interessam-me resultados e ver se funciona. Acho que, acima de tudo, há que confiar no nosso instinto maternal/paternal e ter bom senso. Não há nada infalível ou milagroso mas há pequenas vitórias e ajudas que se assemelham a milagres.


Não acredito que o autismo – em qualquer das suas variantes e graus – tenha cura através das células estaminais – do próprio ou de um dador; não concordo com a distinção entre “ser autista” e “estar autista”; não acredito que por si só as vacinas/flúor/suplementos vitamínicos/etc. causem autismo – acredito que, em conjunto, com outros fatores como organismos fragilizados propensos à não-eliminação correta de metais (presentes não só em vacinas mas também em alimentos, na água, no vestuário, em utensílios, tintas, etc.) ou questões genéticas ou a contração de doenças durante a gestação ou nascimentos muito prematuros ou derrames cerebrais ou outras questões ambientais (ou não) possam causar autismo. Mas, tal como a sua cura, a sua causa ainda é, hoje, algo incógnita (de acordo com alguns estudos e opiniões médicas). Os testes genéticos ajudam a tentar encontrar respostas  mas nem sempre dão a indicação de algo – no nosso caso, a maioria dos especialistas com quem falámos acreditam que esses testes não nos dirão nada… E não nos disseram nada em relação ao autismo porque não há um marcador genético, um gene visível para o autismo…

Não sou inflexível , aprendi a aprender, todos os dias. Por isso, qualquer informação sensata e lógica é bem-vinda – de falsas esperanças fica a distância porque isso mói e desgasta. Ninguém precisa disso na sua vida. Na minha perspetiva, o mais importante, neste momento, é resignarmo-nos e saber viver com esse diagnóstico – o diagnóstico presente, atual -, mesmo sabendo que há momentos negros e revoltantes e injustos e cruéis. E aprender. Aprender a saber estar, a saber fazer: as atividades e exercícios que a equipa trabalha com as piolhas e saber adaptá-los ao nosso dia a dia real. E continuar a (tentar) fazer uma vida normal como qualquer criança faz, até porque, independentemente do tempo que elas precisem para terapias/apoios/auxílios, uma das minhas mais veementes exigências é que elas tenham tempo para ser crianças.

Crónica de Mara Tomé
T2 para 4