Diz que… – Ora diz que é A, ora diz que é B…

Temos – e teremos durante mais 4 anos – um governante que ora diz que o Sr Silva (o Cavaco, entenda-se) devia ter vergonha do que diz, ora diz que o Sr Presidente da República (o Sr Silva) é uma pessoa integra e competente. Ficaram confusos?

Temos também – e teremos, até 2015 – alguém que, antes de 2011 dizia que a crise era nacional e tinha um rosto: José Sócrates. Agora a mesma pessoa diz que a crise (afinal) é mundial e sistémica. Mais ainda?

Temos alguém que antes de 2011 dizia que os governantes deviam ser criminalmente penalizados pelos seus actos enquanto titulares de cargos políticos. Agora, que é governante, evita falar no assunto.

Temos alguém como governante que disse em campanha que, se fosse Governo, não aumentaria impostos. Agora é ministro de Estado e o Governo do qual faz parte não faz mais nada que não aumentar impostos.

Temos uma Assembleia da República onde a maioria dos deputados decidiu ser a única solução para poupar cortar no subsidio de férias e Natal dos funcionários. Convenientemente o orçamento da Assembleia foi aprovado anteriormente e lá constava que todos na AR iriam receber ambos os subsídios.

Temos quem corte milhões na saúde, na educação, na acção social, na cultura, nos bolsos dos trabalhadores. No Governo, cortam-se as viagens em executiva (que, sejam em executiva ou em turística, pagam o mesmo, ou seja, zero), as gravatas aos funcionários (de alguns) serviços do Ministério da Agricultura e o ar condicionado. E dizem que isto obedece a uma regra de 1/3 nas receitas, 2/3 na despesa. Se calhar sou eu que já fiz matemática há muitos anos e as coisas mudaram.

Por fim, mas não menos importante, paga-se (dinheiro de todos nós contribuintes) para ser feito um estudo sobre a televisão pública e recebe-se um relatório – perdoem-me a franqueza – ignóbil, que justifica o fecho de um canal como a RTP Informação com “os privados já têm oferta que chegue” e defende a ideia de uma RTP como empresa sem fins lucrativos (ou eventual privatização total) com a ideia de que a história revela que todos os ditadores usaram os meios de comunicação públicos para iludir a opinião pública (entre outras pérolas). Eventualmente o ministro Relvas terá dito que esperava um dia vir a ser ditador, para que o grupo de trabalho tivesse tido tal ideia. Não creio que haja outra justificação.

Não creio que seja preciso alongar-me. Valerá a pena confiar em algum deles, sejam eles quem forem?
Podem jurar a vida toda que o céu é azul. Tornam-se governantes e afirmam que desde pequeninos que o céu sempre lhes pareceu verde.

Crónica de João Cerveira
Diz que…