Os Emigrantes de Outrora e os Emigrantes de Hoje – Júlio Silva

As notícias relacionadas com os novos emigrantes, e as notícias que a RTP passou no seu horário nobre que é a hora do noticiário, parece que está a deixar os emigrantes que se encontram já instalados há vários anos, alguns já há algumas décadas por essa diáspora fora, principalmente na velha europa um tanto ou quanto incomodados e preocupados.

Estes Portugueses, alguns que emigraram nos anos 70,80,90 e no ano 2000, habituados a serem catalogados como emigrantes trabalhadores, empreendedores, zelosos pelo seu bem-estar não se revêem nesta nova vaga de emigração. Chegando ao ponto de criticarem a chegada de alguns Portugueses ao país onde se encontram.

E eu digo alguns, porque me refiro há queles que vendo o estado deplorável de que se encontra Portugal, e sem verem futuro nem a curto nem a longo prazo, arriscam por sua conta e risco a emigrar há aventura sem planos calculados.

Muitas das vezes estes novos emigrantes vão com a ilusão, de que vão encontrar o eldorado, talvez até a galinha dos ovos de ouro. Porque ouviram uma conversa, no passado mês de Agosto, no café la da terra, que fulano estava a contar o quanto ganhava por mês lá naquele pais em que ele estava emigrado, há coisa de pouco mais de um ano.

E mais admirado, ficou ao saber que o tal sujeito já era encarregado dos manobras, na empresa em que trabalhava, apesar de ser uma pequena empresa e ainda só ter um manobra, para maior espanto o tal sujeito, que lá na terra nunca tinha tido carro nem tão pouco sabia conduzir, no país para onde tinha emigrado já conduzia uma broette. Ora vejam lá, se este sujeito era capaz de fazer tudo isto no prazo de um ano, também ele seria capaz de fazer melhor, até porque ele tinha o 9ª ano tirado nas novas oportunidades. E é assim com estas ilusões que muitos emigram ao Deus dará.

Eu falo por experiência própria, pois eu fui um dos milhares (talvez milhões) de Portugueses que emigraram para a Europa, no meu caso foi para o Luxemburgo onde eu lá estive cerca de 20 anos.

E eu próprio, sempre aconselhei e ainda hoje aconselho, que quem pretende emigrar deve de pensar muito bem no salto que estás prestes a dar, pela seguinte razão. É que nem tudo o que parece é. Na realidade, um emigrante que decida emigrar nos dias de hoje, em princípio deveria de ter a vida mais possibilitada do que os emigrantes que emigraram há 50, 40 ou 30 anos atrás, e alguns têm essa vida possibilitada.

Não sei se me estou a fazer entender mas vou tentar explicar este meu raciocínio. Quando eu falo que alguns têm mais possibilidade do que outros, refiro-me há queles que já sai em de Portugal com trabalho e casa arranjada.
Porquê, existe duas classes de emigrantes que são muito distintas, e que são os aventureiros e os emigrantes (comodistas) desculpem-me a expressão para quem se considerar do segundo escalão, pois eu pertenci sempre ao primeiro. Agora perguntar-me-ão vocês o porquê de eu chamar ao segundo escalão de comodistas e eu explico-vos, com todo o prazer. Os emigrantes comodistas, são aqueles que tem por lá um irmão, um tio, ou um primo que por sinal até está bem visto na empresa que trabalha, seja por ele ser um lambe botas do patrão, ou por ele ser um bom trabalhador nalguns casos até bons profissionais. Outros porque, quando bem a Portugal, levam a bagageira carregada de garrafões de bagaço caseiro, ou de vinho caseiro, seja ele maduro, verde ou do Porto, levam uns bons presuntos e uns salpicões juntamente com umas farinheiras. E ao chegar lá, ao país onde estão emigrados, vão descarregar no mesmo dia ou noutro dia pela noite a dentro a casa dos seus patrões a maior parte desse condimento, dai eles serem os empregados exemplares e bem vistos dessas empresas. O que faz com que, caiam na boa graça dos patrões e consigam meter lá a trabalhar por vezes famílias inteiras. Ora quem emigra assim, nunca chega a dar o valor a quem emigrou sem por lá ter um único familiar, nunca chega a sentir o que é o sacrifício de ser emigrante, de ter que lutar sozinho contra tudo e contra todos. E são estes mesmos emigrantes, que depois criticam quem vai há aventura, (quem vai de cabeça) como era costume dizer-se nos anos 70 a quem emigrava. É claro, que estes têm logo há partida a vida toda ela possibilitada, em alguns casos chegam num dia e no dia seguinte já vão trabalhar, sem preocupações de maior.

Ao contrário de que quem vai há aventura, tem que procurar trabalho em princípio em agências ínterim procurar arranjar onde dormir, o que por vezes não é fácil de conseguir, estes candidatos a emigrantes e falo neste caso do Luxemburgo, procuram os cafés Portugueses, para obterem informações. Posso dizer-vos que esse é o erro mais grosseiro (mais errado) que estes podem fazer, porque ao pedirem uma informação a um Português que se encontre num café durante o dai, ou é ele próprio um candidato a emigrante, ou é um utente da chomage, ou é cliente da maladie, e estes só olham pelo interesse deles a resposta que lhe podem dar é. Ó pá isto está muito mal, não há trabalho, se o candidato a emigrante entra nesse estabelecimento com pouco ânimo sai da lá desanimado. No entanto, existe alguns Portugueses que andam por esses cafés há procura de estes candidatos, os quais lhe oferecem trabalho mas a baixo preço e sem contrato e sem horário para largar porque para pegarem ao serviço isso é logo das primeiras coisas que eles dizem.

É triste, mas é a realidade seja no Luxemburgo, em França na Alemanha ou noutro país qualquer, há de haver sempre uns Portugueses que enriquecem há custa do trabalho, por vezes a quase escravo de outros Portugueses. Quanto a estar mal para trabalhar na Europa, é claro que não está como nos anos 70, uma vez que a crise atravessa toda a Europa, mas estou convencido e isto no caso do Luxemburgo, que é de onde eu tenho experiência, que quem quiser trabalhar arranja sempre alguma coisa. É claro que sendo do escalão dos aventureiros, torna-se mais difícil conseguir alguma coisa, mas batendo ás portas certas de certeza que conseguem arranjar alguma coisa. E quando digo para baterem ás portas certas, é para irem bater ás portas das associações Portuguesas e algumas Luxemburguesas.
Não se fiem no patuá dos Portugueses, que dizem sempre que isto está mau, pois eu próprio já ouvi essa lengalenga em 1982, até 1988, altura em que regressei a Portugal, depois voltei a ouvir em 1992 quando regressei de novo ao Luxemburgo, até 2006 ano em que regressei de vez a Portugal. E ainda, voltei a ouvir mais uma vez em 2011 quando visitei o Luxemburgo em trabalho de um Jornal do Distrito de Aveiro. O dizer isto aqui está mau, é um síndroma que alguns Portugueses sofrem, como o mal das costas o chamado Reumatismo que é o mal que 90% dos Portugueses sofrem seja no Luxemburgo seja em outro país qualquer. No entanto, e apesar de eu ouvir todos estes anos esses Portugueses a dizerem isto está mau, continuámos a ver os autocarros sempre a chegar cheios de novos emigrantes todas as semanas ao Grão Ducado do Luxemburgo e uns mais mal, outros melhor todo o mundo se tem safado.
Muito mais havia por dizer acerca deste assunto, talvez para a semana eu continue a escrever à cerca deste mesmo problema para uns, tábua de salvação para outros haver vamos.

 

Crónica de Júlio Silva
A opinião de Júlio Silva