Portugal's players celebrates after winning FIFA Beach Soccer World Cup Portugal 2015 Final between Portugal and Tahiti at Espinho stadium, in Espinho, North of Portugal, 18 July 2015. FERNANDO VELUDO/LUSA

Os Heróis da Praia

Água mole em pedra dura… Vocês sabem o resto. A diferença é que desta vez a pedra era mole e água só a do suor escorrido pelo campo fora. Foi assim que se fez a caminhada vitoriosa da equipa das quinas na praia de Espinho. Num super evento organizado sobre a chancela da FIFA em Portugal, o nosso pequeno país à “beira-mar plantado”, ganhou a competição que organizou, tornando-se assim a 4ª seleção a vencer um Mundial, que já conta com 8 edições.

Os nossos guerreiros das areias passaram por mares nunca antes navegados e chegaram a bom porto. A um porto seguro. Não morreram na praia. Mas fizeram morrer. A caminhada gloriosa começa logo pela vitória frente ao Japão, que é seguida de um precalço, uma tempestade de areia chamada Senegal. Logo após dos dois primeiros embates, já havia quem preconizasse uma eliminação vergonhosa. Pois bem, parece que os “velhos do Restelo” falharam o prognóstico. Seguiu-se o país das Pampas, a Argentina. Os argentinos, terra de prodígios com bola nos pés, foram vergados com relativa facilidade. Agora tinhamo-nos de enfrentar o pior: a fase do “mata-mata”. O problema é que o verbo matar não fez reflexo, os únicos que morreram foram os nossos adversários. Primeiro enfrentámos a Suíça, país sem praias mas com uma equipa poderosíssima na areia. Foram vencidos sem espinhas. Espinhas essas que ficaram por certo encravadas nas gargantas dos nossos gelados amigo russos. A bi-campeão Mundial, Rússia, caiu aos pés da nossa seleção, sendo derrotada por 4-2 e perdendo toda a bazófia a si inerente. Por fim, chegou o Tahiti. Os ilustres desconhecidos para quem pouco liga ao desporto em si. Um bom destino de férias, dizem alguns. Um conjunto de homens predestinados para o futebol de praia, diz quem viu este Mundial. Os tahitianos foram exímios em tudo, ganhando todos os seus jogos – inclusive contra a Rússia -, tendo perdido apenas um… O da final. Foi assim, sem atirar areia para os olhos de ninguém, que heroicamente os portugueses dobraram o cabo bujador em Espinho e passaram a chamar-lhe “palco da primeira grande conquista mundial”.

Muito há por dizer, no entanto, ninguém pode tirar mérito ao trabalho realizado por todos. Todos estão de parabéns, mas mais que isso, todos mereciam este título há muito, mesmo muito tempo. A final perdida com a França em Copacabana, ainda não foi esquecida por todos os portugueses, mas este triunfo, vai levar a seleção aos píncaros e fazer com que de lá não saiam. Alan, Madjer, Belchior. Os três reis magos das areias que não levaram presentes ao menino Jesus mas presenteiam-nos há anos e anos com as suas proezas no campo. Creme de la creme. A nata da nata. É assim que podemos falar dos três da vida airada que marcam, marcaram e marcarão uma era no futebol de praia, não só ao nível nacional – onde têm o seu lugar no corredor da fama bem reservado -, mas também ao nível mundial. Esta tripla portuguesa tem feito um caco de todos os adversários que ousam pisar as mesmas areias que eles. Os reis das areias foram, contudo, muito bem escudados pelos seus aprendizes, que neste Mundial foram tão ou mais importantes que os mestres. Coimbra, Torres, Bruno Novo, Andrade, Zé Maria e os gémeos Bê e Léo Martins. Todos eles, sem excepção – talvez para o guarda-redes suplente… – foram preponderantes na maior conquista de sempre do nosso futebol. Sim, está bem escrito, futebol. A Federação Portuguesa de Futebol ganhou o seu primeiro título de seniores. Primeiro. É, sem dúvida alguma, um marco histórico.

O certo é que a idade já pesa. Os 38, 40, 33, 36, e por aí em diante, não permitem projectar um futuro longíncuo. Não há grande formação de futebol de praia, e o nosso campeonato, além de fraco, começou agora a dar os primeiros passos. O futuro não parece brilhante. Mas o que interessa isso neste momento? Vamos é desfrutar a caminhada extenuante e formidável realizada pelos nossos jogadores. Afinal de contas, não é todos os dias que nos podemos gabar de ter sido campeões do mundo – seniores, atenção -, de uma competição de futebol. Os guerreiros das areias merecem tudo, eles subiram os montes e no cimo do Sahara das emoções, gritaram a bons pulmões: “Aqui venceu Portugal!”.