Os irmãos mais novos

Ter irmãos mais novos é mais complicado do que parece. Tiram-nos a ribalta, culpam-nos por uma rajada de vento e usam-nos como forma de conseguirem o que querem. Tudo bem, não é assim tão mau, mas tudo o que referi é a mais pura das verdades (ainda que ligeiramente exagerada).

A minha irmã nasceu em 1997, já eu tinha cinco anos. Tem a mania de dizer que nasceu no mesmo ano em que a princesa Diana morreu e no dia de anos do Elvis Presley. A minha mãe costuma contar-me o que aconteceu quando fui à maternidade vê-la pela primeira vez, com outra criança que não eu nos seus braços. Não quis cumprimentar a minha irmã nem a minha mãe. Tive uma pequena crise de ciúmes que me levou a sair disparada do quarto. Como é obvio, não me recordo de nada disso.

Fui a primeira bisneta de dois dos meus bisavós, a primeira neta dos meus quatro avós e a primeira filha dos meus pais. Tinha o mundo a meus pés até quando me babava. Era a coqueluche da família, com os olhos do tamanho de azeitonas e as bochechas como pequenas almofadas. Mas o ano de 1997 foi complicado. A minha mãe cortou-me o cabelo e pôs-me umas repas indecentes (culpa minha, cheguei verniz ao cabelo). Fez-me usar um vestido para o baptizado da minha irmã. E, para finalizar, eu ainda não me tinha recomposto do facto da minha mãe me ter dado o nome de Bárbara Rafaela. É difícil para qualquer criança.

Como tenho uma diferença de cinco anos relativamente à minha irmã, sempre tive a felicidade de nunca partilhar mais do que um ano na mesma escola do que ela. Mas, ainda assim, penei muito. A minha irmã era um bichinho do buraco, fugia do Sol e tremia com um sopro. Lembro-me de uma ocasião em que a rapariga do ATL veio interromper um jogo de futebol no qual eu estava a jogar como titular, para me dizer que a minha irmã precisava de falar comigo. Acedi e fui ter com a criatura. Chegada à beira dela, selou os lábios com cola e não me disse nada. Baixou a cabeça como se não me conhecesse de lado nenhum. Voltei para o jogo. Cinco minutos depois recebo nova chamada. Fui ter com ela. A cola não esmorecia. Avisei-a para não me tornar a chamar caso não quisesse dizer-me nada. E não é que a criatura volta a chamar-me só para ficar a olhar para o chão?

Nunca me dei muito bem com ela. Irritavam-me os olhinhos de cordeiro mal morto e os pedidos constantes de mimo aos meus pais. Enfureciam-me os momentos em que ela caía ao tropeçar num paralelo e culpava-me por todos os desastres do mundo. E lá andava eu a fugir da vassoura da minha avó. Mas eu também lhe armei algumas, admito. É normal os irmãos andarem à bulha, mergulhados em picardias e discussões sem sentido.

Não sei bem em que altura comecei a conviver pacificamente com ela. Talvez no ano em que os meus pais se divorciaram. Já lá vão quatro anos e ainda me irrito muitas vezes com ela. Mas sei cumprir o papel de irmã mais velha. Digo-lhe sempre: “toma os meus maus exemplos como bons exemplos para ti”. Junto-me aos meus primos mais novos para lhe dar um enxerto de insultos que ela nem sempre entende. Leva-os na brincadeira até porque já nos conhece de gingeira e sabe que não é por mal.

Tem 16 anos. Gosta de ouvir música e dançar sozinha na sala. Gosta dos One Direction mas pouca gente sabe. E, apesar de tudo, não tem aqueles dramas típicos de adolescente (saiu a mim que também não os tive). Continua a ser envergonhada à beira de pessoas que não conhece, mas já evoluiu. Agora quando me chama é capaz de dizer claramente: “Bárbara, não me podes vir buscar à escola?”. E eu, como boa irmã mais velha, só lhe respondo: “Anda a pé. Eu também vinha a pé e não me queixava”. Dez minutos depois está em casa. Toca à campainha porque se esquece sempre das chaves. Quando chega põe-se em fato de treino e faz um puxo no cabelo. Dei um nome especial a esse penteado: poio. Eu sei, sou uma irmã mais velha incrível.

A verdade é que ter irmãos mais novos é sempre complicado. Copiam tudo o que fazemos e, muitas vezes, nem sempre fazemos as coisas bem. Mas crescemos com eles tanto quanto eles crescem connosco. O mimo é repartido e as oportunidades são as mesmas. E a melhor coisa é termos sempre alguém com quem falar, mais não seja numa discussão sem sentido algum. Ter um irmão é nunca estar sozinho.

BárbaraBorralhoLogoCrónica de Bárbara Borralho
Riso sem siso