Os melhores álbuns de 2013 – Parte 2 – Bruno Neves

Eu sei, parece mentira, mas o que é certo é que chegámos à última crónica do ano de 2013! Esta é a altura em que por excelência fazemos um balanço do ano que passou. Balanço esse que atinge todas as áreas, e a música não é excepção. O objectivo é eleger os melhores discos do ano (tanto nacionais como internacionais), mas sem uma ordem específica: cada leitor fará o seu top consoante os seus gostos e preferências. Para esta tarefa de propulsões bíblicas pedi ajuda a um bom amigo (entendido nisto da música). Pela segunda semana consecutiva dêem as boas-vindas ao grande Gonçalo Matos!

Avicii – True

O primeiro álbum de Tim Bergling, verdadeiro nome do Dj sueco conhecido como Avicii, foi surpreendente e muito mais genial do que qualquer um de nós poderia antever. O álbum é uma ecléctica mistura de sons e influências cuidadosamente colocadas sobre uma base electrónica que fazem deste um cd absolutamente único. O arranque é fortíssimo: “Wake Me Up” foi uma das músicas mais tocadas este ano (a colaboração com Aloe Blacc foi indiscutivelmente uma das mais bem conseguidas de 2013) e consegue transportar-nos para um pôr-do-sol à beira-mar mesmo que lá fora estejam temperaturas a rondar os zero graus; “You Make Me” e “Hey Brother” são marchas imparáveis que vão desembocar no viciante e inspirador “Addicted to You” que só peca por ser demasiado curto. Para ouvir, mas essencialmente para dançar, e muito!

Rhye – Open

Duas perguntas. Quem são? E está a cantar uma mulher ou um homem? É na verdade um homem, Mike Milosh, que em conjunto com Robin Braun, forma os Rhye. O álbum de estreia “Open” apanhou toda a gente de surpresa pela sua simplicidade e beleza. Aliando a lindíssima voz de Milosh ao belíssimo arranjo musical, fizeram deste duo uma das revelações do ano, e o concerto no Optimus Alive provou isso mesmo.

Márcia – Casulo

A cartilha de opções de Márcia não é muito vasta mas nem é necessário. A estrutura das canções é simples, o discurso cuidado e os arranjos aventureiros. Este «Casulo» é tecido com grande carinho. O tom raramente ultrapassa a delicadeza mas Márcia nem sequer é daqueles casos em que a fragilidade cria no ouvido medo de tocar para não partir. Este é um álbum tranquilo e pacifista de quem acredita que as canções são um antídoto possível para as tormentas pessoais de cada um de nós. “Menina” nasce de um poderoso dueto com o seu bom amigo Samuel Úria e é uma daquelas faixas que não pode deixar de ouvir antes do final do ano. Esta é a prova de que Márcia continua a consolidar a sua carreira com passos curtos e firmes, nunca arriscando demasiado mas acertando sempre nas suas escolhas.

James Blake – Overgown

Após 2 anos do álbum homónimo, “James Blake” traz-nos “Overgown”. Usando a mesma fórmula do disco anterior, concentra toda a atenção na sua voz, bem apoiada por sintetizadores ou pelo piano, está nomeado para o grammy de artista revelação (a sério, só agora?) e é sem dúvida um dos grandes discos de 2013.

Haim – Days Are Gone

Donas de uma carreira (ainda) curta mas extremamente promissora, as manas Haim gravaram finalmente o seu muito aguardado álbum de estreia em Los Angeles, por entre uma tour com os Mumford & Sons. Contaram com a produção de Ariel Rechtshaid (Usher, Vampire Weekend) e James Ford (Florence and the Machine, Arctic Monkeys). Danielle, Alana e Este podem até não trazer nada de extraordinariamente novo à cena musical (mas quem é que o consegue fazer actualmente?), mas talvez a familiaridade seja precisamente um ponto a favor das californianas. Este é um álbum para ouvir de rajada. Se ainda não conhece estas irmãs da Califórnia nem sabe o que está a perder.

Kendrick Lamar – Good Kid, M.A.A.D City

Nomeado para 5(!) grammys, entre eles artista revelação e melhor álbum, Kendrick é uma verdadeira bomba, vinda do nada, no mundo do hip-hop e rap. Com apenas dois álbuns lançados, “Good Kid, M.A.A.D City” conta com participações de Jay-Z, Dr dre, Mary J. Blige e Pharell, para lançar uma valente pedrada no charco. Em modo storyteller, Kedrick lança-se numa poesia enquanto conta a sua vida de gangues e drogas em Compton na Califórnia. Se o Hip-Hop está morto, ouvindo este disco ninguém diria… O que virá a seguir?


Samuel Úria – O Grande Medo do Pequeno Mundo

Associado à editora FlorCaveira, Úria soube desde sempre atrair as atenções graças às suas letras incomuns e a algumas melodias bem conseguidas e que facilmente nos ficam no ouvido durante largos dias. Este é, sem sombra de dúvidas, o disco de afirmação de Samuel, aquele em que finalmente chegou aos ouvidos, e aos corações do grande público. As participações especiais dão um brilho ainda maior a este disco (nomeadamente Márcia na fantástica música “Eu seguro”, que mereceu um videoclip à altura). Este é um álbum de fácil audição mas certamente demasiado longo para o comum ouvinte.

Disclosure – Settle

Dois irmãos, um surpreendente álbum “Settle”, e uma merecida nomeação para o grammy de melhor álbum de eletrónica/dança. Com colaborações de AlunaGeorge, Sam Smith e Jessica Ware, destaca-se pela batida na certa sempre com letra inteligente e de alguma forma sensual. Sem dúvida um disco a ouvir onde é impossível escolher uma música preferida!

Arcade Fire – Reflektor

Em 2013 decidiram dar um grande passo em frente e um salto na sonoridade, com a ajuda na produção de James Murphy, mentor dos acabados LCD Soundsytem.  O primeiro de dois discos, começa com o tema que dá nome ao álbum. “Reflektor” são uns épicos e dançáveis 7 minutos e meio, que a abono da verdade, nem parecem tanto tempo, no meio de sintetizadores e saxofones. Por sua vez o segundo volume quase que parece um álbum diferente, com canções bem mais fracas que o primeiro. Reflektor é um álbum arriscado na medida em que se distancia de tudo o que a banda tem feito, mas o risco nem sempre tem que ser mau. Neste caso valeu a pena e temos um dos melhores trabalhos deles em termos de produção sonora.

Rudimental – Home

Com origens inglesas, esta banda de drum & bass apresentou para muito um dos álbuns mais inesperados do ano. “Home”, lançado em Maio, apoia-se em poderosas vozes mais ou menos desconhecidas do público (John Newman, Emile Sandé, Ella Eyre, Becky Hill) retirando singles em catapulta, destacando-se as belíssimas “Feel the love”, “Not giving in” e “Waiting all night”. Com um álbum assim, fica a faltar um concerto em Portugal.

Não posso terminar este artigo sem deixar aqui duas menções honrosas. Ou seja, tenho de mencionar aqui dois álbuns que embora não tenham feito parte desta selecção final merecem claramente um forte aplauso. O primeiro pertence ao João Só e dá pelo sugestivo nome de “Coração no chão” e o segundo pertence ao estreante Sensi e tem como título “Pequenos Crimes entre Amigos”. São ambos jovens praticamente acabados de chegar à primeira linha da música em Portugal mas já são um sucesso nas redes sociais e fora delas. Que este seja apenas o primeiro de muitos álbuns e que continuem a crescer a evoluir são os desejos para ambos os interpretes. Posto isto é tempo de voltar a referir que nada disto seria possível sem a preciosa ajuda do grande e mui talentoso Gonçalo Matos (apontem este nome porque certamente vão ouvir falar muito dele no futuro).

Quanto a 2014 desejo-vos a todos, sem excepção, muita saúde, muita sorte, muito sucesso, mais trabalho (nos dias de hoje é quase um luxo), mais dinheiro e também que regressem ao Mais Opinião para mais e melhores crónicas. Entrem com o pé direito porque para a azar já basta aquele que o destino nos traz ok? Uma boa passagem de ano, com muita festa, alguma bebida e uma boa dose de loucura e ramboia é o desejo deste que vos assina.

Boa semana.
Boas leituras.

Esta crónica teve a co-autoria de Gonçalo Matos

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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