Os Novos Clássicos do Cancioneiro de Natal

“É a época mais maravilhosa do ano” – já diz a canção, e com verdade. Di-lo há 65 anos para sermos precisos. Um clássico enraizado na tradição popular, ainda que um tanto datado. Como a grande maioria das canções que preenchem playlists e o nosso próprio imaginário festivo, ano após ano.

Haverá sempre espaço e paciência para um “Last Christmas” ou “All I Want For Christmas Is You”, mas a perenidade destes e outros êxitos é um obstáculo à prosperidade de outros mais recentes. A grande maioria não consegue prolongar a herança dos seus antecessores, mas outros há que já garantiram a sua entrada no Grande Cancioneiro de Natal.

São estes os melhores inéditos natalícios do séc. XXI:

Kelly Clarkson- “Underneath the Tree”- A existir um equivalente neste milénio ao “All I Want For Christmas Is You” de Mariah Carey, terá de ser este: o mesmo júbilo natalício, a compreensão de que o amor é uma peça chave na configuração festiva, e aquela voz imensa que tudo adorna com encanto e primor.

Leona Lewis- “One More Sleep”- Em 2013 a relação de Leona Lewis com a Syco de Simon Cowell era já um pouco tremida, mas a relação profissional durou mais uns tempos para assistir à chegada do seu primeiro registo festivo. Entregue na melhor tradição da Motown, “One More Sleep” versa sobre contarmos as horas, minutos e segundos até estarmos na companhia daquele alguém especial na quadra natalícia.

Glee- “Extraordinary Merry Christmas”- Glee está fora do ar há mais de três anos, mas perdura ainda o seu impacto na cultura pop. Reservado para esta época estava sempre um especial de Natal que, volta e meia, originava um registo temático: “Extraordinary Merry Christmas” assinala o primeiro inédito festivo interpretado pelo elenco, em 2011, com Darren Criss e Lea Michele a conduzirem um inescapável tema pop banhado numa chuva de confettis. Em forma de estrelas e bengalinhas, claro.

Coldplay- “Christmas Lights”- Nas sessões de gravação que conduziriam a Mylo Xyloto (2011), Chris Martin e companhia teceram “Christmas Lights”, espécie de manto natalício que conforta quem não tem tantas razões para celebrar a quadra, concentrando a sua força no calor e esperança traduzido pelas luzes e decorações de Natal. Um foco de luz que vale sempre a pena ter por perto nesta época.

Kylie Minogue- “At Christmas”- Em 2015 Kylie Minogue aventurava-se na sua primeira colecção natalícia – e foi fantástico. No ano seguinte juntava-lhe um punhado de novas canções e nascia a Snow Queen Edition de Kylie Christmas: foi assim que surgiu “At Christmas”, que transporta consigo a nostalgia e saudade de um amor ido e que vem dar todo um novo significado à expressão “comendo filhós de lágrimas nos olhos”.

Michael Bublé- “Cold December Night”- E se Mariah é tida como a Rainha do Natal, bem que podemos proclamar Michael Bublé como o Rei. O seu monumental disco de 2011 é o registo festivo mais vendido do milénio, uma aprumada colecção de clássicos da quadra em atmosfera pop tradicional, jazz e swing. “Cold December Night”, o único original do alinhamento, mantém intacto o charme com o seu repto de “rapaz procura companheira este Natal”, patrocinado pelo belo do azevinho.

Ariana Grande- “Santa Tell Me”- Fervorosa adepta da quadra natalícia, Ariana deu-nos canções festivas durante três anos consecutivos. O pináculo esteve no meio das edições, em 2014 – precisamente no ano da sua ascensão à primeira liga do mainstream – com “Santa Tell Me”, uma enternecedora canção de pendor R&B que deposita no Pai Natal a crença de que este lhe servirá como oráculo do amor. O Cupido mora na porta ao lado.

Kelly Clarkson- “Wrapped In Red”- Pode um álbum festivo representar o zénite do percurso de um artista? Se pode. Wrapped In Red (2013) é um portento dos sete costados (iglus, diga-se): da produção imaculada, passando pela perfeita selecção do alinhamento (entre clássicos e inéditos), até ao triunfo da interpretação de Clarkson. O fulgurante tema-título arrebata-nos com a sua toada soul/pop e pela sua inabalável vontade de confessar um amor potencialmente não correspondido. Aguenta coração.

The Killers feat. Toni Halliday- “A Great Big Sled”- Durante uma década, os The Killers foram os principais defensores da causa natalícia na facção alternativa. Inspirados pela Product Red de Bono e Bobby Shriver que angaria fundos para a erradicação do vírus da sida, a malária e a tuberculose no continente africano, editaram de 2006 a 2016 canções com um travo bem mais cáustico que a típica faixa festiva. A inaugural “A Great Big Sled” ainda é o ponta-de-lança da compilação a que chamariam Don’t Waste Your Wishes.

Gwen Stefani feat. Blake Shelton- “You Make It Feel Like Christmas”- Na extensa carreira de Miss Stefani, só lhe faltava mesmo inscrever o seu nome no grande cancioneiro de Natal. A oportunidade chegou no ano passado, quando You Make It Feel Like Christmas se atirou com eficácia à premissa. O tema-título requisita os préstimos do maridão Blake Shelton, para um amoroso número pop apto para ser voado num veloz quickstep na pista de dança, à boa moda de “You Can’t Hurry Love”.

Mariah Carey- “Oh Santa!”- Rainha do Natal que é Rainha, prolonga a sua marca décadas a fio. Dezasseis anos volvidos de Merry Christmas, Mariah voltava às edições festivas com Merry Christmas II Youduh, what else? – pontuado sobretudo pelo irresistível “Oh Santa”, algo como a versão Motown de azevinho e sinos em riste desse clássico dos Outkast que é “Hey Ya!”.

Sia- “Santa’s Coming For Us”- Na fantástica jornada de Sia enquanto estrela pop nos seus próprios termos, faltava apenas o quase obrigatório álbum natalício. Everyday Is Christmas chegou no ano passado e proporcionou uma das colecções festivas mais divertidas e upbeat em anos recentes, guiado por este “Santa’s Coming For Us”, de toada gingona quase reggae forjada por Greg Kurstin.

Pentatonix- “That’s Christmas To Me”- Não podemos falar de novos clássicos de Natal sem mencionar os Pentatonix, de longe o grupo que musicalmente mais tem investido na quadra ao longo dos últimos anos. No seu segundo registo festivo aventuravam-se com o inédito “That’s Christmas to Me”, uma composição de harmonias aladas sobre a essência e significado pessoal da época. Quanta magia.

Justin Bieber- “Mistletoe”- Ainda antes de “Boyfriend” ter tentado romper a imagem imberbe da estreia, Bieber aproveitou o embalo para rentabilizar o filão natalício. Surpreendentemente, “Mistletoe” pautou pela sobriedade bem como pelo amadurecimento vocal e estilístico do seu autor: uma relaxada e calorosa construção pop/R&B de inflexão reggae algures entre Jack Johnson e Jason Mraz.

Ariana Grande- “Wit It This Christmas”- E porque a líbido da população não tem que ser necessariamente inversa ao consumo de azevias e rabanadas na temporada natalícia, convocamos novamente Ariana Grande para adicionar aquela pimentazinha na casa de gengibre. De Christmas & Chill, o seu segundo EP natalício, “Wit It This Christmas” encerra flocos de neve, batidas trap e devassidão no sapatinho.

Train- “Shake Up Christmas”- O mais incrível nesta canção dos Train é que não parece uma canção esquadrinhada de propósito para a época – acontece que é apenas uma canção espantosa com o espírito do Natal dentro. Surgida a propósito da reedição de Save Me, San Francisco – álbum de 2009 que devolveu a banda de Pat Monahan à vida – ficou também conhecida por musicar um anúncio catita da Coca-Cola.

Hurts- “All I Want for Christmas Is New Year’s Day”- Como esquecer o fortíssimo debute dos Hurts, a provar que a felicidade também se podia tingir de tons monocromáticos e semblante carregado? Recuperada à edição deluxe de Happiness, a contribuição festiva do duo britânico é um tanto mais soturna que o esperado – a pedir o funeral antecipado da quadra – mas não sem conservar uma réstia de esperança, de que as coisas sejam diferentes no ano que vem. Interpretação, produção e refrão esplêndidos.

George Michael- “December Song (I Dreamed of Christmas)”- Há trinta e quatro natais que “Last Christmas” faz parte do nosso imaginário. Há dois que George Michael nos deixou. Pelo meio ficou esta tocante e reflexiva composição acerca da recordação de Natais idos, que remontam ao tempo da infância. Foi escrita a pensar nas Spice Girls e proposta a Michael Bublé, mas foi mesmo George a conservá-la e a dar-lhe um superior encanto.

Kelly Clarkson- “Every Christmas”- Terminamos como começámos, com o melhor disco festivo da década (quiçá do milénio?). “Every Christmas”, um dos cinco originais do registo, põe à prova as cordas vocais de ouro da American Idol inaugural e expõe os seus anseios de esperar (e desesperar) por uma cara-metade que venha dar ainda mais significado à época natalícia.

Que a vossa quadra possa estar repleta de amor, alegria e calor no coração. E, se possível, com um bocadinho mais de música contemporânea em redor.

Um feliz natal a todos!