Os portugueses estão a ficar estúpidos… – Ricardo Espada

E pronto. Depois de um título assim, tenho a plena consciência que acabei de perder os cerca de três leitores assíduos que tinham a incrível perseverança para ler as minhas crónicas até ao fim. Tenham calma, e leiam isto mesmo até ao fim, pessoal. Se tomarem a devida atenção, irão reparar que o título afirma que os portugueses estão a ficar estúpidos, e não que TODOS os portugueses são estúpidos. Existe uma pequena diferença que faz, de facto, – e perdoem-me a redundância – muita diferença. Leiam a crónica até ao fim, e perceberão do que estou a falar. Mas, se no final a carapuça vos servir, então eu lamento imenso mas vós sois, lamentavelmente, uns estúpidos. E além de serem uns estúpidos, ainda têm uma pontinha de estafermos. Não há nada a fazer. São coisas da vida, portanto…

E porque é que eu vim para aqui armado em chico-esperto, afirmando que os portugueses estão a ficar estúpidos? Porque estão. Se não estivessem, eu não assistiria a situações completamente absurdas, praticadas pelos portugueses. Existem coisas que roçam o bizarro, mas a estupidez das pessoas não alcança esse facto, e nem as figuras tristes a que essa mesma estupidez conduz – e continuam a insistir em serem uns absolutos estafermos!

Mas ao que é que esta besta se está a referir?” (Tudo bem, podem tratar-me por “besta”, não se façam rogados… Eu mereço, pois sou uma enorme besta!), perguntam os leitores certo? Pois que estou a referir-me àquelas antas que, quando se deslocam a um Centro Comercial, optam por deixar o raio do carro mal estacionado nas redondezas do Centro Comercial, quando têm à disposição e totalmente grátis, um estacionamento subterrâneo. Estes energúmenos, acham mais engraçado deixar o carro mal estacionado, do que deixar o “boguinhas” sossegadinho, bem estacionado e longe de apanhar uma valente multa.

E, como se isto não bastasse, ainda se assiste a verdadeiros diálogos absurdos, quando esta corja decide estacionar – e mal, convém voltar a referir! – o automóvel nas redondezas do Centro Comercial. Normalmente, estacionam em sítios que não estão preparados para se colocar lá um triciclo, quanto mais um carro. Então, observando que a manobra está a ficar complicada, o homem normalmente decide mandar a mulher para fora do carro, para ajudar a efectuar o raio da manobra. E é aqui, que se assiste a mais uma prova do quão estúpidos estão a ficar os portugueses. Porque tal atitude, normalmente, resulta em diálogos deste género:

— Ó Toino, olha aqui um lugar! Estaciona aqui! Olha aqui! Aqui! Aqui! Aqui! Olha, aqui!

— Eh pá, já vi! PORRA! CALA-TE!

— Pronto… Raios partam o homem!

— Vá, não comeces! Ora, deixa-me lá estacionar… um pouco para direita… agora distorço… Ah, porra! Ó mulher, eu acho que não cabe…

— Cabe, cabe!

— Mas quem é que tem a carta? Sou eu ou tu? Hã?! Se eu digo que não cabe, é porque não cabe!

— Pronto… Olha, faz assim: coloca-te aqui ao lado do estacionamento, que eu meço se cabe ou não.

(Depois de ela ver – no seu entender de “pessoa que não tem carta de condução, e que só anda a pendura” – que, sim, que o carro cabe no estacionamento, eis que decide ficar de fora do carro para ajudar o marido a efectuar a manobra…)

— Vá, vem devagar para trás… Vira o volante todo! Vira! Vira! Eh pá, VIRA O VOLANTE! VIRA! ALTO! PÁRA! PÁRA! ASSIM NÃO CONSEGUES! ESTÁS A OUVIR?! ABRE A PORCARIA DO VIDRO, SENÃO NÃO ME OUVES! ESTÚPIDO!

— O que foi? Estou a ir bem?!

— Não! Estás a ir mal! Sai e volta a entrar… Devagar… Isso, vem devagar… Vira tudo… Vira… Vira… Agora distorce…

— Distorço para a esquerda?!

— Claro! Se torceste para a direita, agora tens de distorcer para a esquerda!

— Para a tua esquerda, ou para a minha…? Assim? Estou a ir bem?!

— ALTO! PÁRA! PÁRA! Pronto, estúpido d´um raio: já bateste no carro da frente!

— Estás a ver?! Eu não te disse que não cabia?! Hã?! Estúpida!

— E cabia, se tu não fosses um totó a conduzir! Vamos!

— Vamos para aonde? Então não é para estacionar aqui?

— Não! Com estas manobras todas, já fiquei com dor de cabeça! Vamos para casa, Toino! Vamos, imediatamente, para casa!

— Raios partam as mulheres! Da próxima, vens de autocarro!

Quando tudo era mais simples, se optassem por estacionar o “boguinhas” no estacionamento do Centro Comercial, como todas os portugueses normais e não estúpidos optam – e muito bem! – por fazer… Enfim, é o país que temos…

Até para a semana, malta catita…


RicardoEspadaLogoCrónica de Ricardo Espada
Graças a Dois
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