Os Rótulos Psiquiátricos

A minha mãe partilhou comigo um vídeo sobre rótulos psiquiátricos, o que está muito na moda hoje em dia. Se uma pessoa está mais em baixo diz-se logo que tem uma depressão.

A verdade é que os problemas psiquiátricos são uma realidade e a vergonha que acompanha as pessoas que os têm também é bem real.

No momento em que se sabe que uma pessoa é bipolar, ou sofre de ansiedade, ou uma criança é hiperactiva esse individuo passa a ser a sua condição psiquiátrica.

Essas pessoas passam a ser “menos normais” ou mesmo “anormais” por causa do que sofrem. O que as outras pessoas não sabem é que esses rótulos as condicionam ainda mais.

A culpa não é só da sociedade, o rótulo começa no próprio psiquiatra. Dá-se um nome ao desequilíbrio (atenção, digo desequilíbrio porque todas as doenças psiquiátricas são mesmo um desequilibro químico que ocorre no nosso cérebro), a maior parte dos médicos acha que é bom dar um nome à coisa, mas será mesmo?

Penso que isto seja uma faca de dois gumes porque se pensa que dar nomes às coisas pode aliviar, mas um dia o nome explode-lhes na cara.

A verdade é: Todo o diagnóstico psiquiátrico é subjectivo porque toda a gente é diferente e responde de maneiras diferentes a diversas situações, com ou sem problema psiquiátrico.

Nesse mesmo momento começa a própria alienação “Eu não sou normal”, no momento em que as pessoas à sua volta têm conhecimento desse rótulo dizem ou pensam “Ele não é normal”. Poucas são as pessoas que continuam a ver o mesmo individuo que sempre conheceram, poucas são as pessoas que aceitam o individuo que tem essa bagagem.

Depois do rótulo vem o facto de que essa pessoa toma aqueles comprimidos com nomes assustadores como, anti psicóticos. A pessoa tem que aceitar que tem mesmo de tomar aqueles medicamentos e que se não os tomar, se vai sentir pior e que pode mesmo levar ao suicídio.

Vai haver sempre uma altura em que os vai deixar de tomar por se sentir melhor.

É a esperança que lhes berra aos ouvidos e diz que está melhor. O desequilíbrio deixou de existir.

Poucos dias depois vem o monstrinho avisar que “Não és normal”. Tenta-se não tomar os medicamentos na mesma por negação e por vezes o pior acontece.

Também há aquela “Andas sempre metido em médicos”. Pois é, a visita semanal ao psicólogo, porque a psicoterapia é essencial.

Ter uma condição psiquiátrica dá trabalho, são as consultas, os comprimidos, a luta interior para não se ir abaixo e desistir da vida, ignorar aquele grito de esperança enganoso, o desgosto porque afinal nem todos os amigos aceitam ou compreendem, acabando por se afastar e principalmente aceitar que se continua a ser uma pessoa como todas as outras.

Vai sempre haver rótulos, vai haver sempre gente ignorante que vai segredar ao vizinho que “Ele não é normal” ou então o pior comentário de todos “Coitadinho”.

Há poucas iniciativas para informar as pessoas sobre condições psiquiátricas e essas poucas iniciativas, vejo-as como tentativas vãs porque ninguém lhes liga e são pouco divulgadas.

No fundo as pessoas continuam a achar que quem luta com a doença psiquiátrica (odeio a palavra “doença”) é um pobre coitado, sem futuro e anormal.

Felizmente há casos em que as pessoas têm de engolir o que dizem, porque eventualmente o “anormal” se sai melhor que elas na vida e possui mais sabedoria que elas, porque é isso que a luta diária lhes dá, é sabedoria e muita força.

A família acha que és “anormal”? Ri-te na cara deles todos porque um dia vão engolir aquilo que te dizem.

A sociedade diz-te que por teres uma depressão és mais fraco? Ri-te na cara da sociedade, porque eles são uns grandes ignorantes e nem se esforçam por não ser.

Pessoas com rótulos psiquiátricos?

Nada disso, pessoas normalíssimas com personalidade, como todas as outras a têm.