Os segredos das sociedades

Para iniciar o ano de 2017, o começo de um ciclo, escolhi algo de constrangedor para muitos: sociedades e grupos secretos. O segredo das sociedades. De algumas comunidades, sociedades ou grupos ditos secretos. Provavelmente mais selectos que secretos.

O secretismo de alguns grupos face ao que se designa de profano – contrapondo-se ao sagrado – é, no meu ponto de vista, perfeitamente justificado. O segredo das sociedades associa-se ao facto de só vermos aquilo para que estamos preparados. Quando se está preparado, o mestre aparece.

Ser-se, por exemplo, maçon ou rosacruz não é um apêndice histriónico à nossa identidade ou individualidade. Não é mostrar um cartão (aliás, inexistente) de membro e divulgá-lo publicamente; não é ter cartão de sócio do Benfica ou do Sporting.

Nada disso nos faz SER. Apenas nos confirma o TER.

Nas sociedades sérias, credíveis e não especulativas, há lugar ao estudo, investigação, pesquisa, trabalho voluntário – que pode revestir-se de muitas maneiras.

Foto de Dave Seymor

Há conhecimento, particularmente muito conhecimento na área da filosofia, teosofia, teologia, antropologia, entre outras. Não se pense que se pode ler de modo leviano obras como a Concepção do Cosmos de Max Heindel ou elaborar pranchas maçónicas por dá cá aquela palha.

Há uma progressão, um caminho que se faz muito devagar, uma construção do Ser em detrimento do Ter. Há uma iniciação, uma aprendizagem continuada e especialmente um trabalho interior de conhecimento que se vai consolidando. E nunca se sabe tudo – nem se poderia!

Os membros de uma mesma sociedade – ou de sociedades cujos princípios se interligam – são irmãos – porque a fraternidade é o parentesco de todos nós neste mundo que conhecemos vulgarmente como corpóreo e material. Acontece é que, para muitos, é muito mais do que corpóreo….

Ser “espiritual” – como muitos se autodesignam – não nos torna rosacruz ou maçon ou com qualquer outra designação. Falar e escrever sobre coisas que desconhecemos na sua essência – muito menos!

Habitualmente, um rosacruz ou um maçon não se identificam publicamente como tal – na sua humildade esperada, é apenas um constante aprendiz que vai subindo aos poucos, cada degrau do conhecimento. A regra do silêncio continua a ser um imperativo. Já os Essénios, assim como os Templários a cultivavam. Não por soberba ou vaidade. Mas por humildade e necessidade.

outofafrica

Nos tempos da globalização, internet e até Facebook, muito se escreve sobre as sociedades secretas – e muitos disparates se lêem também. É uma feira de vaidades em que muitos pretendem construir ao seu redor uma imagem que não corresponde à realidade e, pior ainda, tem como objectivo fins meramente comerciais e por vezes especulativos.

Numa verdadeira sociedade secreta – ou selecta – a dádiva, o voluntariado, a assistência gratuita, a empatia e o altruismo são a verdadeira tónica. Não se pretende valorizar nem humilhar ninguém. Pode-se dar mas também se pode colher – a mão que entra no saco pode pôr mas também pode tirar – se assim for preciso. E ninguém precisa saber. Aliás, “(…) que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.” (Mateus 6:3).

De resto, a fraternidade não se circunscreve aos membros de uma mesma sociedade. Os laços que nos unem a todos, o Uno ao Todo, são a tónica de qualquer Ser que se pretenda no caminho da evolução.

Como diria Carl Sagan, somos todos feitos de matéria estelar.

Um excelente Ano de 2017 para todos e um presente especial na animação La Luna.