Os seis dias da criação – Laura Paiva

Segundo a Bíblia, Deus demorou seis dias a criar o Mundo e ao sétimo dia descansou e contemplou a sua magnífica obra.

Havia feito a luz, o céu, a terra, os mares, as árvores, as plantas, o sol, a lua, as estrelas, os pássaros, os peixes, os restantes animais e o primeiro homem, Adão. Por último mas não menos importante a primeira mulher – Eva, uma criação perfeita!

Perante a magnificência de toda a criação há algo que me deixa muito intrigada.

Em que estaria Deus a pensar quando criou as abelhas, as cobras e os tubarões?
Tenho quase a certeza que estava a pensar em mim e numa forma de me apavorar. E conseguiu…

Está escrito que as abelhas ferram quando se sentem ameaçadas mas eu hei-de jurar que elas não sabem disso. Eu não as ameaço, nunca, e elas não perdem uma oportunidade de demonstrar o quanto me odeiam. No entanto, a sua utilidade para o homem está mais do que provada – as abelhas polinizam, produzem mel e cera, entre outras substâncias que são, inclusivamente, utilizadas para fins medicinais.
Por estes factos, perdoo-lhes as ferradelas e vou aceitando uma coexistência ainda que baseada em ódio mútuo e bastante atribulada.

Mas e as cobras? Por muito que insinuem que são excelentes para eliminar roedores, não me convencem – os gatos também o fazem na perfeição.
E não adianta dizerem que o seu veneno é usado para o fabrico de determinados medicamentos – a abelha já efectua esse serviço!

Tubarões, o que dizer destas criaturas? Lindos de morrer, literalmente…
Os tubarões já existem há cerca de 450 milhões de anos – bem que podiam ir andando que já perderam a validade!
Fonte de matéria-prima para a indústria do calçado? Brincamos…
A pele é usada em tapeçarias e usada para polir metais? Continuamos a brincar!

Há muitos anos atrás, num espectáculo de circo, quase abandonei o marido e o filho por causa de uma cobra que alguém insistiu em passear pelo meio do público.
Não há banho de mar que lave o meu terror da possibilidade de ficar cara a cara com um tubarão.

Das duas, uma: ou Deus necessitava de um dia intercalado de descanso ou tem um sentido de humor apuradíssimo e peculiar.
Eu vou mais pela segunda hipótese.


Crónica de Laura Paiva
O mundo por estes olhos