Os Ujos no Coliseu de Lisboa – O Último Concerto

Ora bem vindo de novo ao meu humilde espaço. Espero que esteja de seu agrado! A última vez que nos vimos, mandou o Ideias e Opiniões abaixo, graças à reportagem do espetáculo Uma Nêspera no Coliseu. Por isso, deixo aqui o meu muito obrigado!! Mas vamos ao que importa, desta vez venho convidar o/a caro/a leitor/a a ler a reportagem ao último concerto de uma série de 28(!) concertos de António Zambujo e Miguel Araújo, também conhecido por Ujos.

Os Ujos, chamemos-lhes assim para facilitar, fizeram algo absolutamente incrível. Deram 28 concertos, quase seguidos, nos Coliseus de Lisboa e do Porto, cantando e encantando todos aqueles os que foram ver os seus espetáculos. É algo nunca antes visto em Portugal, sobretudo estando sempre cheio ou perto de estar cheio. E o dia de ontem (2 de Outubro) não foi excepção! Um concerto memorável, dos melhores a que já assisti em Portugal. Tive a sorte de já poder ter visto um concerto de ambos a nível individual e gostei sempre bastante do espetáculo que entregaram. Mas, sem dúvida, que o deste domingo, dia 2 de Outubro, foi memorável. Dois encores e mais de 2 horas de concerto, diz bem da qualidade deste concerto.

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Desde logo, houve uma excelente utilização da luz no início, ao apenas destacarem o músico que estava a cantar e a tocar. O som também estava no ponto, não tendo havido qualquer problema. Foi Miguel Araújo que começou o concerto por volta das 22h05, com um solo de guitarra muito bom e original. Seguiu-se uma deslumbrante actuação de “Foi Deus”, um fado que me deixou todo arrepiado. Logo aí era como se o dinheiro que eu dei pelo bilhete tivesse sido bem empregue. É que a voz de António Zambujo é extraordinária e aquele fado assenta-lhe que nem uma luva. Deu-se a vez de Miguel Araújo cantar de seguida, ele que também é possuidor de uma voz muito melódica.

O 28º concerto dos Ujos, contou com surpresas, com bom humor, com boas histórias, com regresso ao passado, com recordar os primeiros concertos desta longa aventura. Contou com uma cover de “American Tune” da autoria Simon & Garfunkel, que ficou na responsabilidade de Miguel Araújo, que explicou que fora esta música a que o fez interessar pelo mundo da música. Ou seja, era ali exposta um pouco de si na interpretação daquela canção dos grandes Simon & Garfunkel. Mais tarde foi a vez de António Zambujo nos presentear com a sua cover, versão de “Cucurucuru Paloma”.  Continuaram em frente para uma parte diferente do concerto, a parte dos seus êxitos. E por ali se ficou um bom tempo, entre “Pica do 7” entoado por todos os presentes no mítico Coliseu dos Recreios, ou até mesmo “No Rancho Fundo”, uma música de uma telenovela brasileira que entoada pelos Ujos fica extraordinária. Aliás, já não consigo ouvir a música sem ser cantada pelos dois.

Pude ainda desfrutar da possibilidade de ouvir uma música que não conhecia, a “Fui Colher uma Romã”. Percebi que não é uma canção original de nenhum dos dois, mas mais uma vez foram os Ujos que lhes deram corpo e a tornaram conhecida para o resto das pessoas, na qual eu me incluo. Ainda no contexto dos êxitos, os Ujos deram-nos a música “Romaria das Festas de Santa Eufémia”, uma das minhas preferidas, devo confessa-lo. E ainda houve tempo nesta parte para nos mostrarem duas músicas com referências futebolísticas. Primeiro, foi a música de António Zambujo de nome “Zorro”, que fala do Benfica, que gerou uma reação mista na sala. Posteriormente, foi a vez do Boavista campeão, na música “E Tu Gostavas de Mim?” que, segundo disse Miguel Araújo, foi escrita para o álbum Desfado de Ana Moura. Mesmo sem Ana Moura, tivemos direito a Ukelele ou Cavaquinho para os mais tradicionais. E ainda tivemos antes dos Encores, a Recantiga de Miguel Araújo.

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E passemos aos Encores. Para mim, os Ujos esmeraram-se nestes encores, sobretudo no primeiro onde vieram tocar músicas como “Bohemian Rhapsody” em conjunto com o público presente na sala. Aliás, a certa altura tanto Miguel Araújo, como António Zambujo deixaram de tocar e cantar, respectivamente, para ouvir o público cantar a mítica canção dos Queen. Só não conseguimos meter inveja ao público presente em 1986 em Wembley, porque desafinamos um pouco, porque fora isso foi um momento muito bonito. Pensei que tinha sido único, mas posteriormente pesquisei na internet e verifiquei que já o tinham feito, noutros concertos. No entanto, não deixou de ser especial terem tocado uma música emblemática que eu adoro. Seguiram-se outras especiais como a “Lambreta”, da autoria de António Zambujo, ou até, a música das esposas passivo-agressivas, assim descreveu Miguel Araújo a sua “Marido das Outras”.

Porém, tivemos direito a convidados especiais. Num momento em que os Ujos perguntavam ao público que canções queriam ouvir, destacou-se a “Será Amor” onde foi convidada uma pessoa do público para cantar. E embora não soubesse muito bem a letra lá se safou, até pela muito boa voz que tinha. Mas para mim, um dos momentos mais altos da noite foi quando António Zambujo convidou o irmão para cantar consigo uma música alentejana muito bonita e engraçada.

Houve ainda tempo para cantar “Flagrante” e “Dona Laura”, isto já no segundo encore. Neste, os Ujos foram o mais simples possível sentavam-se e perguntavam ao público o que queriam ouvir. Houve ainda tempo para a música “Anda Comigo Ver os Aviões”, que também foi cantado em conjunto com o público, que quis, sempre que pôde participar no concerto. Neste encore sai a música mais “estranha”. “Menina estás à Janela” de Vitorino, mas que também ficou famosa pelos UHF a terem gravado anos mais tarde. E nesta música foi Miguel Araújo quem contou uma história em que foi expulso de uma discoteca, depois de um mosh, ao som desta música. No entanto, a música que terminou o concerto foi mais uma cover. Foi com “Porto Sentido” de Rui Veloso, que os Ujos terminaram o seu último concerto, num total de 28 espetáculos.

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Para mim, tal como referi mais acima, este foi um concerto maravilhoso. Gostei de cada canção, cada momento, cada piada dos dois cantores portugueses, que formam a melhor bromance da música portuguesa. Mais uma vez seria muito bom para os fãs que não conseguiram ir aos concertos, editar um disco ou um DVD com momentos de cada um dos 28 concertos. Algo tão incrível foi conseguido em Portugal, um país onde a Cultura é posta de lado pelos políticos, mas é cada vez mais apreciada pelas pessoas.

Obrigado António Zambujo e Miguel Araújo, por nos terem proporcionado uma série esplêndida de concertos.