Países sem defesa – Vaticano, Mónaco e os países que ninguém conhece – Bruno Neves

Passamos por tempos difíceis e exigentes. A crise não mostra sinais de abrandar e todos nós vemos o futuro cada vez mais cinzento. Contudo mesmo em período de crise existem despesas que não podem ser extintas. Podem ser reduzidas mas o risco que corremos é enorme. Por exemplo? As despesas com a defesa.

Podemos reduzir e cortar em inúmeras despesas, claro, mas o corte não pode nem deve ser cego. Cortes cegos dão sempre mau resultado. E por mais pacifistas que sejamos não podemos simplesmente ficar sem exército, força área ou marinha, certo? Bem…supostamente sim. Porquê supostamente? Porque certos países não têm defesa. Sim, leu bem: não têm defesa. Em alguns casos nenhuma, noutros a menor possível.

Vamos a exemplos concretos. O primeiro é possivelmente o mais conhecido de todos. Pode não se ter lembrado mas quando ouvir o seu nome as peças do puzzle vão encaixar-se e tudo fará sentido.

Vaticano. Ou melhor: Cidade do Vaticano. A defesa está a cargo da Itália, contudo não existe nenhum tratado oficial entre ambos os países dado que isso iria contrariar a política neutral do Vaticano. A Guarda Suíça apesar de ser, formalmente, uma força militar serve apenas para fins cerimoniais agindo assim apenas como força de protecção pessoal do Papa Francisco e do Palácio Apostólico. Todavia a Cidade do Vaticano ostenta também o Corpo della Gendarmeria dello Stato della Città del Vaticano, que é responsável pela acção policial propriamente dita. Eu sei que supostamente o Papa Francisco tem uma linha especial que lhe permite estar permanentemente em contacto com Deus, contudo é capaz de ser melhor manter alguns guardas pessoais, digo eu, não sei.

Em pleno continente Europeu encontramos outro exemplo: o Liechtenstein. A sua defesa assim como toda a diplomacia está a cargo da Suíça. É certo que são apenas 160 km² e cerca de trinta e quatro mil habitantes, mas têm tanto direito a protecção como todos os outros.

O microestado do Mónaco é o exemplo seguinte. Os 202 hectares de área fazem do Mónaco o segundo estado mais pequeno do mundo, atrás do já citado Vaticano obviamente. Tem cerca de trinta e dois mil habitantes e a sua capacidade militar é muito reduzida (algo como 255 soldados) tornando-o assim totalmente dependente da França.

Por sua vez o caso da Costa Rica é totalmente diferente de todos os outros. Porquê? Porque eles não têm exército…por vontade própria. Aliás, não só não têm como a sua Constituição o proíbe. Eu sei, parece caricato, mas é verdade. Tudo remonta ao dia 1 de Dezembro de 1948 quando o antigo Presidente Jose Figueres Ferrer aboliu as forças armadas após ter vencido naquele ano a Guerra Civil. No ano seguinte esse acto tornou-se oficial com a introdução do mesmo na Constituição da Costa Rica. O orçamento anteriormente previsto para as forças armadas foi então distribuído pela educação, pela cultura e pela segurança. Posteriormente, em 1986, o Presidente Oscar Arias Sanchez declarou o Dia 1 de Dezembro como o Día de la Abolición del Ejército.

Andorra vê a sua defesa ser fornecida em conjunto pela França e pela Espanha. Na Islândia a defesa está ao cargo dos EUA que mantêm para esse efeito a  Icelandic Defense Force. São Marino é detentor de algumas forças de combate, contudo apenas desempenham funções cerimoniais e policiais e como tal a sua verdadeira defesa está a cargo de Itália. É ainda necessário referir o Panamá: tem uma polícia nacional que dispõe de algumas unidades de combate, no entanto a sua defesa é garantida pelos EUA.

Para finalizar nada melhor do que referir aquelas ilhas que praticamente ninguém conhece. E com a anterior afirmação não estou a subestimar os conhecimentos de geografia do caro leitor, apenas acho que as probabilidades de conhecer Nauru, Palau ou Kiribati são reduzidas.

Vamos então por partes. Nauru (anteriormente conhecida como Ilha Aprazível) é um país insular do hemisfério sul, localizado na Oceânia, que compreende uma área de 21 quilómetros quadrados, o que faz dele o menor país insular do mundo. Por curiosidade digo-vos que a primeira língua oficial é o nauruano, o seu Presidente dá pelo nome de Baron Waqa e segundo os dados de 2007 têm pouco mais de 13 mil habitantes. Quanto à defesa, está a cargo da Austrália.

Palau é um pequeno país insular da Micronésia, no Oceano Pacífico, entre os mares das Filipinas a oeste, Indonésia e Papua-Nova Guiné a sul e Estados Federados da Micronésia a leste. A sua capital dá pelo nome de Melekeok, o seu Presidente chama-se Tommy Remengesau e tem uma área total de 459 quilómetros quadrados. A sua defesa é da responsabilidade dos Estados Unidos da América.

Por último, mas não menos importante, o Kiribati  é um país da Micronésia e Polinésia que ocupa uma área muito vasta do Oceano Pacífico, mas que é bem pequeno em termos de área terrestre. É o primeiro país a mudar de ano, na ilha de Kiritimati, devido ao fuso horário, ou seja, Kiribati é o país mais adiantado em questão de horário. A sua capital é Tarawa do Sul, uma das línguas oficiais é o gilbertês, o seu Presidente dá pelo nome de Anote Tong (juro que não é uma piada, mas que dá vontade de rir lá isso dá) e tem uma área total de 811 km². A Austrália e a Nova Zelândia partilham a responsabilidade da sua defesa.

Isto é foi um banho de cultura hein? Quando estiverem a jogar ao jogo do STOP (se é que ainda existe alguém, em todo o mundo, que jogue ao STOP) e ganharem graças aos países acima mencionados vão ter agradecer a este vosso amigo!

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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