A palavra do ano de 2014: greenwashing

Nesta altura muitos órgãos de comunicação social escolhem as palavras (ou qualquer coisa que nos valha) do ano, resolvi não ser excepção e é algo que a continuar estas crónicas irei fazer com a regularidade anual que se impõe. Pareceu-me óbvia a escolha deste ano:  greenwashing.

O que é o greenwashing?

Em resumo podemos referir que os significados mais próximos traduzidos para português são: “branqueamento ecológico“, “branqueamento verde“, ou “eco-branqueamento“.

A definição mais comummente aceite é que o greenwashing é um termo em inglês que faz referência ao uso inadequado de procedimentos de marketing a fim de formar uma imagem de responsabilidade ecológica e/ou sustentável em instituições publicas ou privadas, serviços e/ou produtos que estas prestam e/ou vendem e que não são verdadeiramente ecológicos e/ou sustentáveis.

A sua origem é recente, surge pela primeira vez em 1989 num artigo da revista New Scientist intitulado Aid to disaster, no decurso desse artigo surge noutra revista em 1991, a Mother Jones Magazine a sua definição, que é efectuada por analogia com o termo brainwashing, mas só a partir de 2006 é que o termo se torna popular e há uma difusão do mesmo, esse facto acontece porque é a partir desse ano que se começa a generalizar a denuncia do uso abusivo por parte das empresas deste instrumento para aumentarem as suas vendas.

Como é que nós como consumidores conseguimos identificar o greenwashing, existem algumas regras e/ou procedimentos usadas pelas instituições públicas e privadas que recorrem as estes procedimentos e que nos ajudam a estar alerta e a identificá-los: Custo ambiental camuflado: Uma ação económica que visa a resolução de um problema mas acarreta outro, obrigando a uma escolha, este custo ocorre quando a uma questão ambiental é lhe dada mais importância em detrimento de preocupações mais sérias – o exemplo do papel que não é necessariamente preferível do ponto de vista ambiental apenas porque sua origem é de uma floresta que seja gerida de forma sustentável; Falta de provas: Quando as afirmações ambientais não são apoiadas por elementos de prova ou de certificação – um exemplo comum são as embalagens que trazem informações sobre as percentagens de conteúdo reciclado, sem fornecer qualquer detalhe; Incerteza: Ocorre quando o rótulo/publicidade do/ao produto e/ou serviço é tão vago de particularidades como de sentido efectivo – o uso do termo “Natural” é um exemplo desse procedimento, outro é referirem que o arsénio, urânio, e mercúrio que são todos naturais mas venenosos, são apenas naturais, deste modo o rótulo “Natural” não é necessariamente “Verde“; Falsos rótulos: Quando quem vende um produto e/ou presta o serviço cria uma falsa sugestão, um rótulo ou uma imagem parecida com certificação para induzir os consumidores a pensarem que um produto/serviço passou por um processo de certificação de produto/serviço verde – um exemplo é o uso de expressões vagas, como “ecologicamente amigável” ou “eco-friendly“; Falsa analogia: O uso injustificado de cenários naturais para vender produtos/serviços ambientalmente inadequados e não sustentáveis – exemplo veículos nada eficientes e fortemente poluidores vendidos com estes a passearem em florestas e/ou venda de champôs com químicos e com produtos que implicaram a destruição de enormes florestas usando o cenário das florestas que irão destruir. Irrelevância: Surge quando é dada importância a um problema ambiental não relacionado como o produto/serviço – por exemplo, a alegação de que um determinado produto é “isento de CFCs“, mas se o uso dos CFCs é proibido por lei, porquê levantarem a questão; O “menos pior”: Ocorre quando o rótulo/publicidade do/ao produto e/ou serviço afirma ser “Verde” sobre uma categoria de produto e/ou que não tem benefícios ambientais – um dos exemplos é referirem que os cigarros são orgânicos quando na realidade têm todos produtos orgânicos mas também todos fazem mal e são maus; Mentira: É quando as alegações ambientais são falsas e é de longe o mais usado – um exemplo comum é afirmar falsamente venderem produtos com certificação de economia de energia ou prestarem serviços em que controlam a pegada ecológica. Esquecimento de malefícios: venda de produtos e/ou serviços que contenham ou tenham na sua origem materiais poluentes – exemplo da venda de equipamentos electrónicos eficientes energicamente mas que contêm materiais muito prejudiciais ao ambiente e à natureza; Produtos verdes duma empresa fortemente poluente e nada sustentável – o exemplo de lâmpadas eficientes feitas numa fábrica fortemente poluidora de aquíferos; Uso de gíria científica incompreensível: Alguns alimentos e/ou produtos e serviços têm a tendência de usar nos rótulos/publicidade informações/explicações que a maioria das pessoas não é capaz de entender – um dos exemplos é venderem produtos naturais e/ou biológicos declarando que usam conservantes “x” sabendo nós que não existem conservantes químicos naturais.

Alguns rótulos são mais legítimos do que outros. A linha do meio é constituída por rótulos ecológicos não verificados, as linhas de fundo e de topo têm rótulos ecológicos oficiais.
Alguns rótulos são mais legítimos do que outros. A linha do meio é constituída por rótulos ecológicos não verificados, as linhas de baixo e do topo têm rótulos ecológicos oficiais.

A palavra do ano de 2014

Nem sequer pensei nas empresas, quando a escolhi, pois são cada vez mais denunciadas aquelas que se sujeitam ao papel de serem “bombos da festa” neste uso despudorado, a UNILEVER foi só o mais recente caso desse uso, mas a DOVE usa à muitos anos esse artificio e até teve uma guerra com a Greenpeace por usar a formula e esconder que com isso acabava com florestas inteiras tropicais que no anuncio dizia proteger e até existe um portal virtual que denuncia e avalia as centenas de anúncios/campanhas publicitarias que por este mundo são efectuadas usando a técnica do greenwashing.

O meu foco, e até porque esta crónica tem a ver com as Políticas ambientais, é sobre o que este governo de coligação de direita (o centro ideológico já foi um chão que mirrou algures no caminho desta governação) do PPD-PSD/CDS-PP e que vem aplicando e implementando com maior intensidade no decurso do ano de 2014, usando um greenwashing público e político despudorado e inconsequente, enganando e mentido aos cidadãos e usando a técnica e a falácia da apresentação de documentos sobre reformas “verdes” e que alegadamente são discutidos com a sociedade civil e publicamente, mas nos quais considera nenhuma opinião para além daquela que já tem como pré-definida!!!

O Ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva, tomou posse em 24 de Julho de 2014, e seis meses após começa a lançar uma série de documentos que se enquadram neste greenwashing permanente desde a Reforma da Fiscalidade Verde, até ao Compromisso para o Crescimento Verde ou a cumplicidade na atribuição à Ferrostaal das licenças atribuídas ao consórcio Ventivest roubando a todos os contribuintes mais de 555 milhões de euros que esta companhia deveria ter pago em contrapartidas. Mas o greenwashing continua por exemplo na omissão que é não referir que pretendem que as linhas de comboios sejam concessionadas/privatizadas como pretendem que aconteça com a Linha de Cascais, com a privatização dos sistemas de fornecimento de água ou a não existência de uma política efectiva de desenvolvimento dos Portos adiando obras ou remetendo-as para uma espécie de limbo e por fim não tendo nenhuma pista de como retomar programas que este governo arrasou no inicio do mandato por pura reserva mental e ideológica e que eram programas que desenvolviam o país, de entre outros: a política das florestas; o acabar com institutos e organismos com história e saber nesse campo; o congelamento atribuição de licenças para a produção de energia, ou de auto-produção de energia; com o remeter para o esquecimento de um programa que não exigia custos ao governo de promoção de uma rede de postos de abastecimento eléctricos de veículos desenvolvido por I&D português, a REDE MOBI.E, e com parceiros privados e que foi aplicado e replicado noutros países com sucesso como já referi aqui o caso holandês da Fastned.

Este governo e o governante que tomou posse em Julho do ano que passou, transformaram-se por razões puramente ideológicas nos piores inimigos de qualquer política pública sustentável verde e amiga do ambiente, o Ministério se tivesse a denominação de Ministério do Greenwashing, Desordenamento do Território e do Aumento dos custos energéticos, teria com certeza no seu nome a explicação resumida das políticas que até agora promoveu.

É absurdo passar pelos média e ver que nas áreas ligadas a estes assuntos apenas se vêm fugazmente noticias copiadas de press realeases feitas por este Ministério que se limitam copiando a promover as mentiras que esses senhores espalham. Continuarei por esse motivo, e neste ano de 2015 que se iniciará daqui a dois dias, a denunciar esse greenwashing permanente e a fazer Luz sobre os mais incautos dos cidadãos de tudo o que é silenciado na área das políticas ambientais, fá-lo-ei porque acho que o que se passa na grande maioria dos média e meios de comunicação social é ou por desconhecimento ou por cumplicidade um rasurar total e uma denuncia nula do que até agora tem sido efectuado.