Parma – Quem Te Viu E Quem Te Vê

Foi no ano de 1913 e através dos esforços de ex-membros do Verdi Foot Ball Club que um histórico clube do futebol italiano nasceu. Falamos do Parma Foot Ball Club. Um clube que passou por várias fases gloriosas e por outras fases menos boas e que agora, ao fim de praticamente 102 anos de existência, volta a estar nas ruas da amargura.

A História do Parma é daquelas repleta de altos e baixos, de feitos marcantes e de incompreensíveis desilusões e fracassos e que dificilmente terá um final feliz. Nos primeiros anos de existência, o Parma passou por divisões altamente secundárias e só em 1924 chegou à Série A (primeira divisão do futebol italiano), descendo logo no ano seguinte após 22 jogos realizados e apenas 12 pontos conquistados, numa altura em que o campeonato ainda se dividia em dois grupos e se disputavam eliminatórias. Nos anos 30, o clube torna-se mais eclético e passa a ter mais modalidades para além do futebol, mudando o nome para Parma Associazone Sportiva. Nas décadas seguintes seguem-se inúmeras promoções e despromoções em divisões secundárias do futebol italiano. Sempre com o Estádio Ennio Tradini praticamente vazio, a falência chega com alguma naturalidade nos anos 60.

O primeiro renascer do clube é conseguido através da sua compra por diversos investidores, que o renomearam Parma Football Club. Um nome que juntava o pé à bola mas que não seria definitivo, assim como a estabilidade do clube. Constantemente assombrado por más gestões, negócios descabidos e, imagine-se, muitos altos e baixos quer financeiros, quer desportivos. Nos anos 70 o clube adopta o nome de Parma Associazone Calcio e seguem-se cerca de 20 anos irregulares.

Só nos anos 90 regressa à Serie A e é precisamente nessa é década, que o clube atinge o seu auge em todos os sectores. Os anos 90, aqueles anos em que eu comecei a ver futebol, os anos em que eu fiquei encantado com o Parma, os anos em que o Parma impunha respeito aos seus adversários e que dispunha, nas suas fileiras, de enormes jogadores que se viriam a tornar verdadeiras lendas do futebol mundial. “Os” anos do Parma.

O sucesso atingido pelo Parma é indissociável da empresa Parmalat, uma empresa italiana de lacticínios, financeiramente muito forte que patrocinou e comprou parte do clube, levando-o a ser respeitado dentro e fora de Itália. Com investimentos fortes, como aquele feito em treinadores como Nevio Scala, que conseguiu não só o regresso à Serie A em 1990, como a conquista de diversos troféus até 1996, ou em diversos jogadores que viriam a brilhar ao mais alto nível na Europa. Jogaram no Parma alguns dos melhores jogadores italianos de sempre, são o caso de Gianfranco Zola, Fabio Cannavaro, Filippo Inzaghi ou Gianluigi Buffon e outros grandes jogadores internacionais. Falo de Faustino Asprilla, Hristo Stoichkov, Liliam Thuram, Juan Sebastián Verón, Hernán Crespo, Amoroso, Taffarel, Ariel Ortega e os portugueses, Fernando Couto e Sérgio Conceição. Verdadeiros craques que muitas alegrias trouxeram aos adeptos Parmensi.

Parma

Curiosamente, mesmo como tanto potencial por explorar, o Parma nunca conseguiu vencer a Série A Italiana. Este facto nem sequer pode ser criticável, porque se o auge do Parma aconteceu nos anos 90, a Liga Italiana também viveu na mesma década o seu último grande fulgor. Era a melhor liga do mundo, com os melhores jogadores do mundo e com alguns dos melhores clubes do mundo. Bem longe da actual Liga Italiana onde a Juventus “passeia” de inicio ao fim do campeonato.

Nos anos 90, o Parma enfrentava não só uma Juventus muito forte como também um Inter de Milão, um AC Milan, uma Lázio, uma Fiorentina e até uma Roma emergente. Tudo equipas muito competitivas, com grande capacidade financeira, o que lhes dava capacidade para atrair os melhores jogadores do mundo, manter os melhores jogadores italianos e ainda, dar cartas na Europa.

O melhor que o Parma alcançou foi um honroso segundo lugar no campeonato na época de 1996-1997, onde terminou atrás da Juventus. Em campo doméstico, conquistou três Taças de Itália e a Supertaça Italiana. Fora de portas conquistou duas Taças UEFA (actual Liga Europa), a Supertaça Europeia (curiosamente contra o AC Milan, o campeão europeu) e a já extinta, Taça das Taças. Conquistou também algo que não é feito em prata ou noutro metal precioso, algo que não tem pegas ou asas e que possa ser levantado pelo capitão de equipa num momento de puro êxtase. Conquistou algo que só quem via o Parma dos anos 90 jogar sabia o que era. Conquistou o respeito e a admiração dos amantes do futebol em geral. Conquistou todos aqueles iam ao velhinho Estádio Ennio Tardini ver os craques mostrar a sua magia em campo. E conquistou aqueles que, mesmo não sendo sócios do Parma, mesmo não sendo italianos e não podendo ir ao Estádio ver alguns dos seus ídolos, ficavam deliciados por ver bom futebol no pequeno ecrã, a quilómetros e quilómetros de distância da cidade da cidade medieval de Parma. Falo por mim, mas certamente não serei caso único.

Parma

A parte mais triste desta história é que o Parma, fruto das dificuldades económicas da empresa que lhe deu pujança, a Parmalat, voltou a decretar falência e a descer da série A. A empresa de produtos lacticínios veio primeiro decretar falência em 2003 e o esquema de co-gestão que tinha com o Parma, mas também outros clubes, acabou por desabar e os fortes investimentos terminaram. Com um buraco de 14 milhões de euros descoberto nas finanças da Parmalat, o presidente da empresa, Calisto Tanzi, acabou por ser detido e condenado a oito anos de prisão.

Desde aí que o Parma tem enfrentado graves dificuldades financeiras e já foi comprado por duas vezes (por valores irrisórios), mas agora, sem investidores para adquirir os seus direitos desportivos, foi obrigado a decretar falência uma vez mais. As dívidas, que ultrapassam os 200 milhões de euros, os ordenados em atraso, a incapacidade de pagar a luz do próprio estádio e a falta de um meio de transporte para os seus atletas, fragilidades notadas esta época, anunciavam este fim fatídico. Falta de comparência em alguns jogos, pontos retirados por ordenados em atraso e outras tantas peripécias acabaram por ditar o último lugar na Liga, com apenas 19 pontos. Neste Parma, actuavam os portugueses Pedro Mendes (que entretanto assinou a custo zero pelo Rennes, equipa que milita no principal escalão francês, a Ligue 1) e Silvestre Varela (por empréstimo do FC Porto) que também está de saída do clube.

O maior problema do Parma, é que não desceu para a Série B, nem para a C. Desceu para os escalões amadores do futebol italiano e na época 2015-16 vai actuar na Série D. Tal como aconteceu várias vezes ao longo da sua história, o clube vai mudar de nome. Foi anunciado ontem, dia 1 de Julho de 2015, que o Parma que todos conhecemos é agora o Parma Calcio 1913, um nome em homenagem ao ano da sua fundação. Continuará a actuar no seu histórico estádio, continuará a ter o apoio dos seus mais fiéis adeptos e continuará a ter a compaixão daqueles que por ele se enamoraram nos seus tempos mais gloriosos. Força Parma, força Gialloblu! Que este seja o derradeiro renascimento e que daqui a uns anos se volte a falar de ti com o mesmo entusiasmo e respeito com que se falava há 20 anos atrás.

A tua História ainda não acabou!