Passos, Cavaco e a Grécia

Hoje sabe-se que, ao contrário do que Pedro Passos Coelho (e creio que Aníbal Cavaco Silva também) disse, Portugal não foi dos países que mais contribuiu financeiramente para a Grécia. Diz o jornal Público que possivelmente a confusão partiu de um economista do Bloomberg, que fez os cálculos ignorando que o nosso país, enquanto esteve sobre programa de auxilio, foi dispensado de contribuir para Atenas. E por isso foi dos países menos expostos ao esforço de ajuda aos gregos.  O que poderá indiciar que em São Bento (e em Belém) se presta mais atenção aos media internacionais do que dados oficiais.

Mas soube-se também que, após o primeiro ministro grego Alexis Tsipras ter anunciado que a Troika acabou – fruto de um entendimento entre o mesmo e o presidente do Eurogrupo,  no sentido de se estudar do ponto de vista “técnico” as opções gregas, entre as medidas do actual programa de ajustamento e as medidas do novo governo grego,  para serem apresentadas em reunião dos ministros das finanças da zona euro na próxima semana – os juros da dívida grega estão em queda. Os mercados parecem acreditar que um acordo, uma espécie de meio termo entre as medidas da Troika e as medidas do Syriza, lhes dá a segurança de efectivamente poderem vir a receber o dinheiro que investiram na Grécia.

Ao contrário do que vários países têm dito (até Portugal), eu penso que a renegociação da dívida não dá a ideia de que a Grécia (ou outro país) não quer pagar a dívida. Quer apenas mostrar que estão interessados em negociar a forma de pagamento, pois como está é impossível.  Da mesma forma que uma família que tem um determinado empréstimo bancário tenta negociar com o mesmo ou com outro banco um novo empréstimo, com juros mais baixos, para poder reduzir o esforço do orçamento familiar, também os governos procuram (ou deviam procurar) empréstimos à menor taxa de juro possível, que possam substituir aqueles que têm, reduzindo assim a despesa. Isso, para mim, não é mostrar que não se quer pagar. É querer pagar mas com as melhores condições possíveis para quem os elegeu.

Crónica de João Cerveira