Paulo Portas e a Troika – João Cerveira

Paulo Portas referiu, já em jeito de campanha eleitoral para as europeias, que o facto de as eleições serem uma semana a seguir ao fim do programa de ajustamento, é benéfico para que os portugueses se lembrem de quem trouxe a Troika para o nosso país e para que não votem neles.

Se os portugueses tiverem boa memória, o tiro sai pela culatra ao presidente do CDS. Ora, pensem bem:

– Em 2011, íamos a caminho do PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento) IV, pela mão do Governo PS que tinha austeridade, mas sem Troika. E até já tinha sido pré-aprovado por Bruxelas, havendo a necessidade de ser apenas aprovado na Assembleia da República.
Sócrates disse que, sem PEC IV, não haveria condições para continuar, que se demitiria e provavelmente necessitaríamos de ajuda externa. Todos os partidos da oposição (a saber, CDS, PSD, Verdes, PCP e BE) votaram contra. No dia seguinte houve aquele episódio triste de Pedro Passos Coelho, então líder da oposição, ter dito a Merkel que não se preocupasse que ele se comprometia a fazer tudo o que estava no PEC IV (votou contra, mas garantiu que faria tudo o que lá estava…).
Foi pedida ajuda externa e a Troika fez, salvo erro, nove avaliações. O que quer dizer que, para além de termos tido austeridade bem mais gravosa, se lhe mudarmos o nome, tivemos mais nove PEC’s.
Um dos argumentos da oposição era que o PEC IV existia porque o I, o II e o III tinham falhado. Então e tivemos nove avaliações porquê? As outras oito falharam? Não. Simplesmente o PEC IV era a actualização do III, que por sua vez era a do II, etc, tal como em cada avaliação da Troika, as medidas eram actualizadas (diz-nos a experiência, sempre para pior).
Em suma, quem trouxe a Troika para Portugal foi, a meu ver, a oposição. Foi-lhes explicado o caminho e qual o resultado quer votassem a favor, quer votassem contra. Optaram por votar contra. Ficámos ainda pior.

– Recuperando o que disse atrás, em 2011, Sócrates disse que, sem PEC IV, ficaria sem condições para governar. Mal ou bem, cumpriu a promessa. O plano foi chumbado na Assembleia e ele demitiu-se. Hoje em dia há aqueles que dizem que se demitem e que a decisão é irrevogável e depois aceitam voltar com mais poder que tinham antes da “demissão irrevogável”.
Há quem diga (mas nunca ninguém confirmou oficialmente) que Portas voltou atrás na decisão porque foi coagido com o caso dos submarinos. A confirmar, é pior ainda. Se a dignidade já era pouca por voltar atrás na sua palavra, voltar atrás coagido por uma sua decisão enquanto antigo Ministro da Defesa, que lesou (e bastante) o Estado, é, a meu ver, ainda pior.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…