Pensos – Bruno Neves

Porque não reflectirmos hoje sobre a temática “pensos”? Sim, falo do tradicional e bom velho penso. É incrível como a imprensa nacional, e até mesmo a internacional, não debate este tema, não é? Eu também acho. E como se queremos mudar o mundo temos de começar por nós mesmos, aqui estou eu a debater este tema com vocês.

Não sei se já repararam, mas os pensos estão em vias de extinção! Ai não? Então digam-me a última vez que colocaram um penso ou que viram alguém com um penso colocado……vá, digam lá….não conseguem não é? Eu logo vi. Como quem cala consente….ganhei eu!

Mas é verdade. Dei por mim a pensar que nunca mais tinha colocado um penso. É verdade que já não sou rapaz para muitas feridas e cortes, mas foi algo que caiu em desuso. No meu tempo por tudo e por nada colocávamos um penso. Hoje em dia não, ouvimos logo um bom: “Isso não é nada, isso já passa.”

Durante longos anos eu fui certamente dos maiores utilizadores de pensos que este país já conheceu. Sim, porque o chão e eu tínhamos uma relação muito próxima. Aliás, demasiado próxima. De quando em vez lá chegava eu a casa com uma ferida, um corte ou uma qualquer mazela suficientemente grave para merecer um penso. O alvo eram quase sempre os joelhos e os cotovelos. Ou ambos em simultâneo. Sempre que isto acontecia o meu avô usava uma expressão que ouvi durante muitos e bons anos: “Já esfolaste o cromado!”

Colocar um penso era sinal de que tinha acontecido algo que não era suposto. Mas também era sinal de que no dia seguinte levaríamos um penso para a escola. E isso era fixe. Todos ficavam interessados em saber o que tinha acontecido para termos um penso. E como bons mentirosos que somos enquanto crianças rapidamente inventávamos uma qualquer história que fosse igualmente realista e espectacular.

O objectivo era obviamente impressionar os colegas. Ou melhor, as colegas. Sim, porque toda a gente sabe que as raparigas gostam de rapazes com cicatrizes (é cicatrizes e tatuagens, mas em crianças é mais fácil ter as cicatrizes). É certo que podia ter sido apenas um passo mal dado, obrigando o joelho a arrojar no chão. Contudo, se as raparigas acreditassem que tinha sido a ajudar a salvar um gato bebé segundos anos de este cair de uma árvore com vários metros de altura melhor ainda.

A única parte negativa era tirar o penso. Sim porque todos temíamos a altura em que nos fosse retirado com toda a força o penso, provocando extrema dor. Ok, a dor talvez não fosse assim tão extrema. Mas naquelas idades parece realmente extrema. Alias, parece que nunca sentimos tanta dor na nossa vida. “E o penso deve de ser tirado todo de uma vez ou lentamente, quase pêlo a pêlo?” A segunda opção só faz sentido se for masoquista, e tenho dito!

Se tal como eu tem saudades do bom e velho penso adira a esta causa. Aliás, até já estou a ver toda uma campanha de sensibilização para o regresso do penso. Podiam fazer-se cartazes com caras de reconhecidos génios (mentes brilhantes, como Einstein ou Leonardo Da Vinci) com um penso colocado na testa. O slogan da campanha seria: “Eu penso, e você?”

É ou não é uma ideia genial? Eu também acho que sim!
Boa semana, boas leituras!



Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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