Pequenas implicações do quotidiano

E como quem não quer a coisa chegou Agosto, não é verdade? Pena é que ele não tenha trazido o sol e o calor com ele, dava-nos um certo jeito ter uma coisa chamada “Verão”. É que se nos tiram aquilo que temos de melhor (o tempo) o que nos resta? O fado? A saudade? As migas? Sim, resta-nos tudo isso, mas o bom tempo é a nossa maior imagem de marca no estrangeiro. Bom, São Pedro, vê lá isso do sol e do calor que eles fazem-nos falta, ok? Sabem o que também vamos ter para sempre? As pequenas chatices e implicações do dia-a-dia, exactamente. E é precisamente sobre isso que vos falo esta semana em mais uma edição do “Desnecessariamente Complicado”!

No meu top de implicações do quotidiano está algo que não podemos controlar e que acontece muitas mais vezes do que seria aceitável. Imaginem que estão deitados, enroscados nos lençóis, a dormir que nem um bebé. Entretanto acordam e decidem olhar para o relógio para ter noção do quanto ainda podem dormir antes do despertador tocar. E é nesse mesmo momento que constatam que faltam apenas cinco minutos para o maldito despertador tocar e vocês terem de se levantar da cama. Existirá algo que irrite mais do que isto? Perdemos cinco minutos de sono e ainda ficamos frustrados pensando: “Mas porque raio tinha eu de acordar antes do despertador tocar?”. O despertador é, com toda a certeza, uma das invenções mais necessárias e simultaneamente odiadas por toda a humanidade.

O sofá da sala é, ao mesmo tempo, um dos locais mais confortáveis da nossa casa (arrisco dizer que apenas é ultrapassado pela cama) e um autêntico “buraco negro” que “engole” tudo o que nele é colocado. Duvidam? Então digam-me quantas vezes desapareceu o vosso comando da televisão nos entrefolhos do sofá? Pois, agora a expressão “buraco negro” faz sentido, não é? É que o sofá não nos pode ver refastelados que aproveita-se logo para esconder o telemóvel, as chaves, as moedas que tínhamos no bolso e tudo o resto que estiver num raio de vários kms. Como é que ele faz aquilo não sei, mas que já encontrei lá escondidos objectos dos anos 90 que julgava perdidos para sempre disso não duvidem!

Mas os comandos das televisões também têm muito que se lhe diga! Sim, porque poucas coisas são mais irritantes do que querermos mudar de canal (ou baixar/levantar o volume) e o comando não responder ao nosso pedido. É como se ele dissesse: “Ah, tu queres mudar de canal? Querias, que eu agora estou a descansar! Também tenho direito, ou pensas que sou teu escravo? Era o que faltava, baixares o som quando queres e bem te apetece!” E como é que nós superamos esta birra infantil do comando? Dando-lhe umas palmadas (tal como fazem os pais às crianças, refira-se) e obrigando-o a trabalhar, pois está claro. É caso para dizer que os comandos são sadomasoquistas: só trabalham sob o incentivo de uma chapada nas costas ou um arremesso com toda a força contra o chão ou uma mesa.

Andar de elevador não me mete qualquer impressão ou medo. E não sou claustrofóbico. Mas tudo isto passa a ser mentira em alguns elevadores. Mas como o tema desta semana não é “medos” mas sim “implicações” vamos ao que realmente interessa. Por vezes penso que os objectos que nos rodeiam estão a gozar connosco. E a ser verdade os elevadores são reis e senhores. Porquê? Porque sempre que chamamos um elevador é precisamente quando vamos a entrar que ele decide começar a fechar as portas. O que é que acontece então? Somos abalroados por uma porta de metal sem aviso nem razão aparente. O que nos vai obrigar a recuar e a hesitar antes de tentar novamente entrar no elevador. Lá acabamos por entrar (ainda que, por razões óbvias, a medo). Escolhido o andar de destino da viagem voltamos a precisar da porta de metal. Afinal de contas se ela não fechar a viagem nem sequer começa. E como se já não bastasse a “carga de ombro” (perdoem-me os leitores que não apreciam futebol, mas era inevitável usar esta expressão neste contexto) depois temos de esperar largos minutos até que a porta se decida a fechar. Ok, fazemos a viagem e poupamos as nossas pernas e pés à ida pelas escadas. Mas saímos do elevador com uma dor no ombro e com o orgulho ferido. Malditos sejam elevadores gozões! Malditos sejam!

Estas são as quatro implicações que mais me afectam e mais anos de vida me tiram. Mas tenho outras, obviamente. Ficar sem bateria no telemóvel, no tablet ou no ipod. Esquecer-me dos fones e não poder ouvir o ipod durante todo um dia. Perder a página do livro onde tinha deixado a leitura. Ter moscas, mosquitos ou melgas a chatearem-me (principalmente as melgas, sejamos sincero). Ou mesmo não me conseguir lembrar daquela palavra que eu sei que define exactamente o que estou a pensar/sentir/fazer, mas que agora não me vem à mente.

Mas estas implicações também fazem parte do quotidiano. Irritam-nos naqueles momentos mas com o passar do tempo tornam-se memórias engraçadas e divertidas. E a grande lição que podemos retirar de toda esta crónica é que por mais negro que seja o presente (e por maior que sejam as adversidades) o que interessa é esboçar sempre um sorriso e aprender com o que vivemos para que no futuro não cometamos os mesmos erros.

Boas férias (se for caso disso).
Bom “Verão” (assim mesmo, com aspas, pois o que temos não pode ser considerado um Verão a sério).

Boa semana.
Boas leituras.