Pequeno motim natalício

O corredor está livre. Vamos lenta e silenciosamente avançando, encostados à parede e com a respiração ansiosa. Os homens-aranha seguem à esquerda como combinado. Nós, os hulks, seguimos pela direita, mais difícil, pois temos mais portas a cruzar. Ninguém nos pode ver nem ouvir. Temos de apanhar o Pai Natal em flagrante. As luzes tornam-se mais claras. Já estamos perto.

Finalmente chegámos à sala. As luzes cintilam como antes, desde a janela até ao pinheirinho verde que ainda temos de rever (pois ainda deve ter algum chocolate escondido lá pendurado). O cheiro doce da canela tenta-nos distrair, mas conseguimos ser mais fortes.

Não acredito! Não pode ser. Mais um ano que não conseguimos sequestrar o Pai Natal. Como é possível ele já cá ter passado a deixar estas prendas tão…tantas…?

Oh, que se lixe! Agora queremos é saber o que está por baixo deste papel tão lindo, tão colorido. Ahh! E olha a mesa! Está cheia de rabanadas, de pão-de-ló, de aletria, de pais natais de chocolate por toda a mesa…

Mas não podemos abrir os presentes sozinhos… os pais iam ficar tão chateados… Já sei. Levamos uns chocolates… e umas fatias pequeninas de bolo… ninguém vai dar pela falta deles. Sempre nos serve de consolo até de manhã… e mais uma rabanada…

O corredor está livre. Vamos lenta e silenciosamente…

Sonho que estou num trampolim. Pois… porque o colchão não pára de saltar.

Bocejo como posso entre toda esta agitação matinal. São os pequenos pimpolhos inquietos e radiantes por ser a manhã de Natal. Os filhos e os primos uniram-se num motim natalício, mesmo aqui debaixo das nossas barbas… Até os tios e os avós eles conseguiram acordar… «Não sei se serão para vocês… Vocês acham que se portaram bem o suficiente para receber todos estes presentes?».

Claro que sim… São os nossos pimpolhos. Ansiaram tanto pela chegada da família… E estão tão nitidamente ansiosos por descobrir e por saborear; por brincar e fazer-de-conta; por crescer e viver sempre com a mesma energia momentos como este.

Quem não se lembra daquelas borboletas na barriga quando fazíamos a contagem decrescente dos dias até à manhã de Natal? A manhã em que finalmente podíamos abrir aquela caixa colorida tão fascinante e palpitante na nossa imaginação?

Só queremos que ela se abra e seja o espelho da nossa felicidade, no calor de quem nos ama. Não importa a quantidade, não importa o preço. Importa é que esteja e faça sonhar, ao calor de uma lareira chamada Família.

A todos, um Natal de Sonho!