…Perdão Senhor Padre porque pequei…!

A passada semana tivemos um belo padre a andar a cavalo. Até aqui nada de errado…a não ser o itinerário!…Itinerário esse que não era nada mais que se ir encontrar com uma mulher casada!…possivelmente porque algum dia ela lhe tenha dito que “escorregava na calçada” e ele por precaução queria muito proteger e abençoar!

Pois bem, estamos nada mais nada menos que na altura devida para falarmos de “pecado…reconciliação…confissão”, o tempo chamado de quaresma, o tempo em que jamais algum dos nossos avós deixaria passar sem se ir confessar ao padre! Ainda me lembro tão bem! Esta altura do ano, que antecede a Páscoa, foi sempre uma altura que me marcou pelo carregado simbolismo de jejum, abstinência, acolhimento e perdão!

Hoje, a confissão é de todos os sacramentos o mais criticado e o mais difícil de entender. Confissão ou se quisermos ainda reconciliação, faz parte da história como algo obrigatório que nos era imposto, explicado como o sincero arrependimento dos pecados, com o propósito de não pecar mais e assim satisfazer Deus, Para os católicos, para os nossos avós e pais…era uma obrigação e ponto final.

Mas…sempre houve a grande interrogação… porquê um sacerdote ponderar a gravidade do pecado…se até mesmo ele peca tanto ou mais! E porque teremos que nos confessar ao padre, falar da nossa vida privada! Que eu saiba cada pecado é um ato de desobediência contra Deus! Pois bem isto daria pano para mangas, mas teremos a quaresma inteira (para os católicos claro) para falar sobre isto, o ponto de vista de várias gerações e o que foi mudando, fruto do comportamento dos próprios padres ou se quisermos da própria igreja.

Para os que me conhecem, sabem que eu fui catequista, pertenci a um grupo de jovens, um grupo de oração e só não fui para freira, porque o Mosteiro de Santa Escolástica (em Roriz), já tinha muitas…e eram todas tão velhinhas que eu achei que essa vocação me iria causar envelhecimento precoce! (estou a brincar claro…tenho muito respeito por qualquer vocação). Tenho pena de não ter recebido um “chamamento”!Hoje era mais uma freira velhinha hehehe!

Falava eu que fui catequista, pois bem, todos sabemos que ninguém faz a primeira comunhão sem se ir confessar, certo! Então há que preparar os meninos…para isso existe a catequese! Mas preparar os meninos para a confissão…engraçado mesmo! Eles não entendem ainda o significado do “pecado”! teríamos no entanto que lhes ensinar como se deveriam dirigir ao Sr.Padre! Então a frase era e sempre foi…Perdão padre porque pequei…! Quem se lembra!

…A fila era enorme, padres de um lado e do outro, estamos Roriz, terra dos padres (um previlegio), um dia de confissões, onde todos teremos que dizer:-…Perdão padre porque pequei! O frio colava na barriga, parecia que existiam borboletas no estomago! Credo, que coisa terrível, parece que cometemos um grande crime! Crianças, jovens, homens e mulheres, sobretudo mulheres vestidas de preto! Que cena triste!

Parece que queríamos escolher o padre, o melhor, o mais simpático, o mais velhinho…talvez para não ouvir o que dizíamos…ou ainda o padre que habitualmente nos acompanha na paróquia! Pois bem. Foi esta cena que me marcou. Duas mulheres conversavam á minha frente, uma dizia:- se me calhar o Sr.Padre (pároco), não vou, passas tu á minha frente! A outra dizia, nem penses, eu também não quero ir, tenho vergonha! Não lhe vou contar os meus pecados, depois venho á missa e ele vai pensar o quê! Imaginem bem a minha cara…eu queria sair da fila e não ter que dizer:-Perdão padre porque pequei! Eu ate já achava que nem ia dizer direito! Eu achava que que não tinha inclusive o que dizer! Já aquela mulher tinha…que seria! Naquela idade realmente não tínhamos nada para dizer a não ser…que não eramos obedientes aos pais, discutíamos com os irmãos, ou ainda que faltávamos á escola para ir brincar! Belos pecados esses! Eram absolvidos com 5 Avé Marias e 5 Pai Nossos e ainda com uma Salvé Rainha! Já os pecados daquelas mulheres deveriam ser submetidos a julgamento final na Cruz! E os homens! O que teriam para dizer! Para os homens nada era pecado…era só pecado para as mulheres! Ainda hoje é assim! Só as mulheres escorregam na calçada! Os homens e os padres são “Santos”…servem para julgar e crucificar! Hehehehe
É caso para dizer…o homem que nunca pecou…que atire a primeira pedra! Somos todos pecadores sim, e acredito que o julgamento não será final, mas sim continuo, no dia a dia, pela nossa maneira de nos reconciliarmos com os outros e pela nossa capacidade de perdoar.

Se diariamente muitos fizessem um exame de consciência…se em vez de nos terem ensinado a dizer: “Perdão padre porque pequei”, tivéssemos aprendido que o “pecado” está no valor que cada um é capaz de atribuir e não na forma como julgar, aí sim acredito que não fossem preciso tantos padres…quer a julgar quer a absolver!

…Perdão leitores se não vos agradei com este tema…mas na verdade diariamente eu oiço os idosos a dizer:- isso é pecado!…aquilo é pecado! Eu ando em pecado! Eu fui um pecador!….quero me confessar antes de morrer! …todas as expressões de quem viveu uma vida ao lado deste conceito…”perdão padre porque pequei!”

Aida FernandesLogo

Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa