Personagens Icónicas do Cinema – Vol. II

Já estava com saudades disto, não? Com os grandes prémios do cinema à porta, não nada melhor que recordar algumas das melhores personagens que magia de Hollywood nos trouxe. Algumas influenciaram períodos da nossa vida, outras deram origem a alguns dos mais conhecidos estereótipos da sociedade moderna.

Tudo isto para dizer que não faltam grandes personagens no cinema americano (verdade seja dita, também não faltam personagens terríveis). Mas para nós, que vivemos nesta neo-civilização Ocidental, é difícil resistir ao carisma de algumas das mais interessantes criações que o cinema moderno nos deu.

Mais uma vez, há quem diga que me estou a esquecer de alguns vultos não tão conhecidos. Mas que posso eu fazer? São personagens icónicas, diga-se, e o vosso caro cronista é um pouco parcial nas suas escolhas!

Então e este ano, como vai ser? Será que o volume III (se chegar a sair) vai contemplar um dos vencedores dos óscares deste ano? A resposta não tardará a chegar, com a gala das estatuetas douradas prestes a ter lugar no Dolby Theatre de Los Angeles.

Segunda chamada para a fita da nostalagia! Junte-se a este humilde cronista e relembre algumas das mais marcantes personagens do mundo do cinema.

The Dude (Jeff Bridges) – The Big Lebowski (1998)

Não se metam com o Dude, man… Acabaram de urinar na carpete dele e o homem ficou meio zangado. The Big Lebowski é, facilmente, um dos melhores papéis de Jeff Bridges, com um elenco invejável e extremamente bizarro. Confesso que é difícil não gostar deste filme, porque o equílibrio entre o inteligente e o estúpido é tal, que as duas horas passam a correr.

The Dude é a descontração em pessoa. No matter what. Não há gangue ou cartel que consiga desafiar o contínuo cigarro de relaxe que representa a vida do senhor Lebowski. Mas porque é o filme se chama The Big Lebowski? The Dude é uma alcunha, pois claro, e por ser homónimo de um grande milionário, o homem mais calmo da California é arrastado para um conjunto de eventos que o quase levam à loucura (ou talvez não).

O filme também conta com outras ilustres personagens: Walter Sobchak, o lunático amigo do Dude que não consegue jogar uma partida de bowling sem sacar uma arma, ou Brandt, ou o mordomo do milionário Big Lebowski, cujo papel, interpretado pelo the one & only Philip Seymour Hoffman, é muito mais importante do que aquilo que possa transparecer.

Mas o foco é sempre o The Dude Lebowski. O homem não vacila. Reflexo do génio dos irmãos Coen, esta magnífica interpretação de Jeff Bridges ficará sempre na minha mente como o verdadeiro símbolo do hollywood style dos anos 90. Pobre Lebow… Dude, não deve ser fácil ser raptado, ser ameaçado de morte por nihilistas e ser perseguido pela máfia do mundo pornográfico…

Norman Bates (Anthony Perkins) – Psycho (1960)

O mais perfeito pesadelo em filme, senhoras e senhores. Hitchcock foi outra coisa, já todos sabemos, mas está mais que visto que Anthony Perkins, na pele do ilustre Norman Bates, eleva os planos do realizador inglês a outra dimensão. E pergunta o leitor: onde está a versão de Gus Van Sant? Não é o mesmo com o Vince Vaughn… o remake é terrível mesmo (foi essa razão que me levou a apenas listar o primeiro filme no título).

As sequelas originais também não fazem jus à primeira produção, com a cadeira de realizador a recair no próprio Anthony Perkins no último filme da trilogia original. A loucura está lá, mas a execução está longe de ser perfeita, algo que justifica a importância icónica de Hitchcock na cadeira de realizador.

A personagem nasceu do romance com o mesmo nome lançado por Robert Bloch em 1959, cujo sucesso levou a um conturbado interesse pelo público americano. Um ano mais tarde, o senhor Bates entraria pela tão famosa casa de banho para fazer o que todos sabemos. Uma cena que iguala a própria personagem, como um ícone que permanecerá com os amantes do cinema para todo o sempre.

O olhar de Anthony Perkins nas fotografias ainda me assusta e está mais que visto que isto não é filme para se ver antes de ir dormir. Norman Bates é um animal em constante mutação (dependendo do andar em que está) e protagoniza o primeiro thriller psicanalítico do cinema. Reflecte a ironia do romance no cinema de um forma subversiva e explora a loucura que apenas o nosso subsconsciente nos pode trazer.

Sarah Connor (Linda Hamilton) – Terminator Saga (1984-2015)

Se no primeiro volume tivemos Sigourney Weaver como Ellen Ripley em Alien, esta segunda fornada tem como grande heroína a inigualável Sarah Connor. Mais uma vez, é evidente a evolução exponencial desta personagem durante várias décadas. Qual donzela em perigo, qual quê. Sarah Connor é o verdadeiro reflexo da esperança num mundo para lá de perdido.

É complicado explicar a cronologia dos eventos da saga Terminator, mas não há dúvidas em relação à importância desta ‘’mulher de armas’’ na hora de arrumar os mais variados assuntos. Não há Schwarzenegger que lhe resista e ao fim de vários filmes… a SkyNet é só uma brincadeira!

Interpretada em grande parte por Linda Hamilton e mais tarde por Lena Headey e Emilia Clarke (curioso, não?), Sarah Connor é a peça chave para a educação do seu filho John Connor, o “falso protagonista” nas produções mais recentes. Não existe grande simbologia na personagem para além do facto de, à semelhança de Ellen Ripley, pautar uma nova geração de mulheres destemidas no grande ecrã.

Neo (Keanu Reeves) – Matrix Saga (1999-2003)

There is a difference between knowing the path and following the path. Com Keanu Reeves, tudo parece mais fácil. Sou um fã incondicional de muitos dos seus filmes (alguns mauzinhos até) e na pele de Neo, poucos o conseguem alcançar. É verdade que a personagem tem imenso destaque porque o primeiro filme é brilhante, mas também é verdade que só o estilo do Keanu Reeves vale por um filme inteiro.

What is real? Neo é o lado rebelde de Reeves que poucos conseguem ver, a irreverência que ultrapassa a serena personalidade deste actor norte-americano/canadiano. Também conhecido como The One (anagrama de Neo), a personagem desmultiplica-se em simbologias que vão desde da Antiguidade Clássica à história da Bíblia. Esta obra prima dos Wanchowski’s traz para os dias de hoje a história do salvador messiânico que, com muitas dúvidas e inseguranças, reconquista do mundo dos mortais.

De um tímido engenheiro de software, para um mestre de artes marciais que se consegue desviar de balas, Neo é chave para a porta que sempre quis abrir, mas que nunca acreditou que existisse. Não há profecia que aguente uma mente aberta e pronta a conquistar o futuro e com uma determinação em forma de fato (muitos parabéns ao pessoal que criou o guarda-roupa), Keanu Reeves perpetuou a sua presença em Hollywood através da saga Matrix.

Amélie Poulain (Audrey Tatou) – Amélie (2001)

Oh cherrie Amélie! Definitivamente a mais doce destas cinco personagens, Amélie foi um daqueles amores à primeira vista. Andei a namorar o cartaz do filme durante uns bons anos. Aquele olhar em particular e as críticas chamavam a minha atenção, mas só há pouco tempo decidi ver o filme.

Numa história que mistura o amor desajeitado com a fantasia, a pequena, mas grande, a imaginação de Amélie torna o filme uma experiência única e divertida. Semelhante ao nosso amigo Walter Mitty (outra personagem que aprecio imenso) Amélie vê para além do observável nas mais estranhas ocasiões. Mais um exemplo de deslocação do eu para uma outra dimensão temporal (parece-lhe familiar?) em busca da verdadeira realidade das coisas.

A doce curiosidade de Amélie torna o filme lento, mas espectacular ao mesmo tempo, com um interpretação que levou Audrey Tatou aos grandes palcos do cinema mundial. Um passo em frente do cinema francês em relação ao mainstream americanizado, conquistando públicos por todo globo.

No entanto, Amélie está longe de ser inocente. Quando o amor aperta, a nossa criatividade tem tendência para nos levar mais longe. Mas mais não digo, veja o filme caro leitor. Que arrependido que estou por não o ter feito mais cedo!

Independentemente da sua importância em cada história, os filmes são feitos de personagens. O equilíbrio harmonioso que faz-nos dobrar a mente, desejar as realidades de cada produção e pensar para além do nosso universo. As personagens icónicas do cinema marcam e definem gerações em dimensões que apenas poucos conseguem entender.

A descontrução de alguns dos grandes vultos do cinema é nobre, mas no fim do dia, o que conta é a influência titânica que alguns destes nomes tiveram na nossa educação e na nossa perspectiva do mundo. Uma grande personagem é também uma excelente conselheira. Porque nem tudo o que é filme é ficção… mas todos nós somos personagens, hein?

Eu volto em breve com os resultados fresquinhos dos Óscares. Vai ser um mês muito mexido aqui nos States. Bons filmes e boas séries!

Hasta la vista, baby!