A Peste do Amor – André Marques

A iniquidade está para as pessoas regateadas como a Peste Branca está para o amor irrealizável.

A mistura desordenada existe desde sempre. E sempre é muito tempo. Assim como o Tuberculose. Enfermidade maligna. Moléstia. Habita o mundo desde os tempos pré-históricos.

A Tuberculose foi descoberta em ossadas de múmias do velho Egito (3000 a.c). Em (2400 a.c), durante umas desobstruções de terra, uma estátua foi batida em duelo. Uma pessoa cedida com os pés inchados, o rosto desmazelado e as costelas salientes, garantindo a presença de Tuberculose. A maldita de Deus. A Descontinuada.

O achacadiço tosse convulsivamente, sem parar. O escarro é esmagador e, por vezes, misturado com sangue. E há tantas pessoas nojentas e insignificantes. A respiração assemelha-se a uma melodia tempestuosa. As mãos sentem-se cobardes, e os pés sentem calor. Daí o amor impossível. Não causa tantos danos, obviamente, mas desconcerta com toda a certeza. A sudorese é uma constante e o coração bate sem parar. Algumas civilizações antigas consideravam este estado um castigo divino. E há males que nunca vêm por bem.

Em 1800, muitos tentaram entender a Tuberculose. Tornaram-na isolada de outras doenças pulmonares e traçadas por (Laennec, 1819). Até 1940, o tratamento era  fundamentalmente repousar e alimentar-se devidamente. Mais tarde, surgiram os destruidores de micróbios e as quimioterapias, resultando na ajuda ao tratamento e cura. Em 1993 , a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a Tuberculose como “doença  reemergente”.

No Brasil, escritores como Castro Alves, Manuel Bandeira, José de Alencar, Álvares de Azevedo e Augusto dos Anjos, faleceram vitimas de Tuberculose. A alma mantém sempre em permanente atualização a obra e vida daqueles que já partiram. A sorte.

Na música, Noel Rosa saboreou o doce amargo da doença fastidiosa. Na Europa, o músico Wolfgang Amadeus Mozart.

O contágio no Homem é caraterizado  por aerossóis, gotículas de cuspo que contém o bacilo, por meio de convulsões ruidosas, espirros ou mesmo em banais conversas, de um paciente bacilífero  para um sadio, e que se instala  nos pulmões deste. O tratamento infeto-contagioso é de longa duração.

A Tuberculose continua a matar em vários países, e pode prejudicar qualquer tecido do corpo humano. Os pulmões são os principais suspeitos, mais propriamente os alvéolos. A febre baixa ao cair da tarde. O suor surge ao início da noite. Segue-se a tosse crónica, a perda de peso, a falta de apetite e o cansaço fácil.

Para diagnosticar a enfermidade infecciosa utiliza-se o raio-X, uma série de exames clínicos e anamnese. É realizado o teste de PPD, exames basiloscópicos de escarro com o teste de BARR (Bacilo Álcool-Ácido Resistente), de Ziehl-Neelsen para a deteção destes bacilos onde as micro-bactérias se pintam de vermelho em prol da Fucsina e da cultura em Meio de Lowenstein-Jensen.

A lavagem das mãos é deveras importante. A devida orientação da higiene pessoal é fundamental. Assim como levar a mão à boca sempre que se tosse ou espirra.

O amor é fodido. Quem o diz é Miguel Esteves Cardoso. E com razão. O amor é incurável. À semelhança da Tuberculose. Arrisco-me até a executar uma comparação. Ainda que ilógica. Mas uma comparação. O amor. A Tuberculose.

O coração, por vezes, é um seguro contra todos os riscos. Sem mensalidades, mas cobrador; de sentimentos, de emoções, de pessoas. Para pessoas. Um cobrador de sensações. Mas, sobretudo, o coração protege aquela pessoa que inúmeras vezes recordamos com esperança. Choramos a falta. E que, mesmo no outro lado do mundo, acha-se perto. A pessoa. O amor incorrigível.

A vida parece um poço sem fundo. Insuficiente. Nada mais absurdo. Ou não, dependendo da perspetiva de cada um. O grande problema é que procuramos demasiado o amor, e só encontramos o sofrimento. É a injustiça embrulhada na justiça. Nem só de doenças vive o ser humano. Vive essencialmente de amor. A cura de muitas doenças.

Afirmam que o tempo cura tudo. É capaz de ser verdade. Particularmente, desafino. O tempo apenas sonega o irreparável, oferecendo o lugar a outras inquietações.

No amor, assim como na doença, nunca devemos colocar a carroça à frente dos bois. Nem sempre tudo está perdido. Devagar é o adverbio correto a ser utilizado.

AndréMarquesLogoCrónica de André Marques
Crónicas Improváveis
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