Pluralidades – O abismo aqui tão perto de nós

As últimas declarações do Presidente francês Nicolas Sarkozy já deveriam ser o suficiente para não o reeleger para a Presidência francesa. Afinal de contas, Sarkozy fantasiou sobre uma país e um continente que não existem, numa tentativa clara de venda de sonhos a um eleitorado cada vez mais descrentes nas suas políticas, e que se prepara para vê-lo pelas costas, de acordo com as últimas sondagens que colocam o seu adversário político, Francois Holland, na frente das intenções de votos.

A par disso, o ainda Presidente francês anunciou uma taxa sobre transacções financeiras de 0,1% e uma subida considerável do IVA nacional, de 19,6 para 21,2%.  O que significa que esta implementação de medidas austeras simboliza a corda a apertar a garganta da França, algo que tem já sido indiciado pelas Agências de Rating, sempre vigilantes e desejosas de cortar a notação à França (facto que já se consumou, com a perda do tão precioso Triple A, um rude golpe nas políticas de Sarko).

Como tal, não se entende, mesmo, como é que, segundo o próprio, “a Europa já não está à beira do abismo”. Senão vejamos: a economia francesa, segunda maior da Zona Euro, estagnou no último trimestre de 2011, de acordo com o Banco da França, e retrocedeu no quarto trimestre. Além disso, as previsões de crescimento francesas para 2012 situam-se abaixo do 1%. A terceira maior economia, a italiana, é “particularmente permeável aos efeitos sistémicos da crise do euro, devido ao seu alto endividamento e baixo potencial de crescimento” (segundo a Fitch).

Já a Grécia, maior foco da crise, já percebeu que não resulta mais atirar dinheiro para cima do buraco, porque os problemas estruturais não são assim resolvidos. A sua situação é tão deplorável que a própria Alemanha (que não poderá eternamente suportar a UE nos ombros) já sugeriu uma transferência de soberania financeira, numa clara desconfiança face à saída do marasmo grego.  Portugal está também numa situação cada vez mais fragilizada, com os juros da dívida em máximos históricos, e um risco de default a atingir os 70%. Ou seja, em 100%, existem 70% de possibilidades de falência, com perspectivas fatais de que tal vá mesmo acontecer.

Por isso, não se consegue entender como ainda existem políticos que contam as mais variadas histórias de ficção sobre a situação real dos países. Já se sabe que em tempos de eleição, todos têm tendência para efabular. Mas sejamos sinceros: não será eternamente possível omitir a veracidade dos factos. E onde que a bolha estourar, vai estourar para todos. Uns sofrerão mais que outros, mais ninguém escapará ao ruído que ela fará.

Crónica de Joaquim Ferreira
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