Pluralidades – O Natal, uma máscara Pagã

É durante a meia-noite de 24 para 25 de Dezembro que comemoramos o Natal, uma festividade cristã, onde nos ensinaram que nasceu Jesus, o Messias filho de Deus que se sacrificou pela Humanidade. “Ensinaram-nos” isso na catequese, qual verdade absoluta, que não possui o reverso da medalha. Não nos indicaram, contudo, o caminho do espírito crítico, nem as versões alternativas da história.

Acontece portanto que, o vulgo Natal, não é mais do que o Yule pagão, uma festividade que pretende assinalar o Solstício de Inverno, dia de festejo do Sol, do Trovão, e das Deidades do Fogo. Nesse tempo (tempos muito idos que remontam a idades distantes), grandes fogueiras eram acesas nas ruas em homenagem ao Sol, e em casa faziam-se fogueiras com o Tronco de Yule (madeira de freixo).

Os Antigos tinham também o hábito de decorar as árvores (há séculos atrás as casas estavam praticamente todas situadas em locais ermos e verdes, muito diferentes das urbanizações de hoje em dia). O costume de trocar prendas era igualmente uma característica dessa data, dada a celebração da passagem dos ciclos da vida (nascimento, casamento, entre outros.). Por troca de prendas, não se deverá entender, obviamente, a transacção capitalista de fundo consumista da contemporaneidade, mas sim a troca de animais, por exemplo, comida, produções manuais, etc. Vem daí a ideia de que as pessoas trocam prendas para celebrarem o ano que passou, relembrando e reflectindo sobre o ciclo antigo.

Por conseguinte, muitas das práticas desta época derivam de tradições celtas. Na Bíblia, não existe qualquer referência a 25 de Dezembro como data para o nascimento de Cristo, sendo o livro parco em dados. Aliás, o Novo Testamento refere que os pastores tinham levado os rebanhos para as altas pastagens, e que dormiam com as ovelhas durante a noite, o que não podia acontecer no Inverno. Ao que consta, os pastores só vigiavam os rebanhos aquando da época do nascimento dos cordeiros, para ajudar as ovelhas a parir, e essa época é a Primavera. Além disso, uma tradição oriental refere que Maria deu à luz num dia 25, mas não refere em que mês.

Decorria o ano de 320, quando os sacerdotes romanos escolheram o mês de Dezembro, de forma a fazer coincidir a festa cristã com a dos pagãos, numa tentativa tácita de cristianização de sociedades, através da apropriação, roubo e usurpação da identidade de povos, que foram forçados a aceitar uma nova lei, sob pena de ostracização e expropriação de bens, além de outras punições já bem conhecidas.

Nos dias de hoje, o sentido primeiro do Yule está já completamente desvirtuado da sua substância criadora. Caímos em tempos superficiais, pouco abertos à reflexão, que se limitam a copiar práticas sociais, sem questionarem a sua origem. O Natal resume-se à troca de prendas, aos eventos sociais, à festa, e não tanto à reflexão, à simplicidade e ao recontacto com a Natureza. Por isso quando se diz que “o Natal é das crianças”, diz-se uma grande asneira. Ele é de todos, e para todos. Valha-nos pelo menos as reuniões familiares, o convívio saudável, e o “espírito da quadra” que paira no ar e que deixa as pessoas mais solidárias e unidas. Nem que seja por poucos dias.

Crónica de Joaquim Ferreira
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