Já lá vão 40 anos que eu deixei a Escola Primária. Se fosse hoje, processava o meu Professor, e podem crer que este apanharia uma pena de 25 anos prisão (pena máxima). Isto, se tivermos, em conta as reguadas, os cachaços e as vergastadas no alto da cabeça com a cana-da-índia, que eu apanhei deste professor. Desde os 8 até aos 13 anos, a apanhar porrada para aprender é obra. Não que eu fosse burro, é claro que até à terceira classe, apanhava por mesmo não saber, depois já na quarta classe, já mais vivaço, embora não fosse dos mais inteligentes, era o que se chama de desenrascado. Os deveres, era sempre à última da hora e já na escola, que os fazia em cima do joelho. Ainda hoje, tenho esse hábito escrevo sempre no último momento. No entanto nunca chumbei ano nenhum, mas a realidade é que dos alunos eu era o mais castigado. E porquê, perguntaram? Bom pela simples razão, de que eu era o mais traquinas do meu ano. Passava o tempo todo, a pregar partidas aos meus companheiros. Como que não bastasse, já nessa altura e com a minha pouca idade, eu me considerava um revoltado. Revoltado em passar 8 horas dentro de uma sala de aulas. Com uma hora para almoçar, ter que fazer 4 km a pé para cada lado, para poder comer o almoço. Dai eu dirigir, algumas frases menos próprias (achavam eles os profes) em voz alta, em manifesto de retaliação a este modo de ensino. Frases estas, que eram nada mais nada menos que o protesto, do meu estômago a reclamar por comida. Até porque, a maior parte das vezes, a hora do almoço era passa a percorrer os 4 km que eu tinha que fazer para cada lado. Só me restando o eu chegar a casa, dar uma volta à mesa, pegar em qualquer coisa e ir a comer pelo caminho já de regresso à escola. Escusado, será, dizer que foram muitas as poucas vezes que eu cumpria o horário de entrada na sala. Já isso era um protesto, pela parte do professor para me castigar. Em suma, era castigado por ter errado, era castigado por ser traquinas, era castigado por protestar e era castigado por chegar atrasado sempre à hora do almoço. Ora vamos lá a ver uma coisa, se fosse nos dias de hoje todos estes castigos, que eu sofri sem reclamar, reclamar eu reclamava, mas quanto eu mais reclamava mais apanhava. Mas, como eu ia a dizer se fosse nos dias de hoje, quantos processos é que não valeriam ao meu professor todos estes castigos. No meu ponto de vista, este meu professor ainda hoje, talvez estivesse a cumprir prisão.
Tudo isto, para falar do caso da Docente que foi julgada por dar uma reguada a um aluno. Por uma simples reguada, esta professora está com termo de identidade e residência. Aqui e neste caso a culpa é do Governo, em não dar a reforma pelo menos aos 60 anos a esta classe de trabalhadores. Sendo assim, colocaram uma professora da velha guarda, com 68 anos a dar explicações. Resultado, a professora, talvez convencida que ainda vivia no regime Salazarista, à que falar com o carpinteiro e lá mandou fazer uma palmatória, vai dai começa a distribuir reguadas a torto e a direito aos miúdos. Creio que só faltou ela gritar-lhes qual eram os três F mais importantes de Portugal, os quais seriam Fátima, Futebol e Benfica. Perante estes factos, o Ministério Público acusou-a de ofensas à integridade física, razão pela qual vai ser julgada.
É por isto, que eu digo que as centenas de reguadas que eu apanhei nos meus tempos de escola, dariam processos que nunca mais acabariam, e o meu professor teria apanhado uma pena máxima de prisão. No meu caso, eu não sou apologista do ensino à força de cacetada, de porrada seja ela em reguadas, bofetadas ou cachaços. No entanto, julgo eu que se sou o que sou hoje, se aprendi o que aprendi, posso agradecer ao meu professor. Dai, e sem lhe querer agradecer o modo como me ensinou, no entanto, não dou por mal empregue todos esses castigos que eu sofri. Aproveito esta oportunidade, para deixar aqui uma homenagem ao Professor Amadeu de Pardilhó, pela maneira como ele me preparou para enfrentar a minha vida. Não sei, se este professor ainda é vivo, espero que sim, apesar da proximidade de Freguesias, em que habitamos nunca mais o vi. Como já se passaram 40 anos, se o visse hoje, não o conheceria com toda a certeza. Mas se fosse hoje Sr. Professor, quem ganhava era eu, uma vez que o Sr. Era mais forte, mas com o Ministério Público do meu lado e através da ofensa à integridade Física eu é que lhe ganhava.
Olá amigo Júlio silva, deveria-mos reunir o pessoal todo da turma do 6º ano e fazer-mos um jantar de homenagem ao Professor Amadeu, pelo menos para lhe recorda-mos-lhe a porrada que ele nos dava. Velhos tempos amigo, se eu me queixava ao professor levava porrada, se me queixa-se em casa porrada levava, ora bolas aprendi a comer e calar.
Amigo Júlio Silva, muito me apraz ter lido este teu artigo. A comparação que o meu amigo Júlio Silva fez aqui, é perfeita mesmo com 40 anos de separação de culturas de ensino. Outros tempos, novas normas, novas leis meu amigo.Eu recordo-me, ainda como que fosse hoje o dia em que o nosso amigo David do Casal, cravou uma caneta de tipo pena de molhar no tinteiro no seio da professora, depois desta lhe ter dado umas 30 régua-das depois desta ter corrigido um ditado, coisa em que o David não era lá muito bom. Na altura nós, não prestamos a devida atenção, porque até que nos enviaram logo para o recreio, e por mais ou menos um mês acabaram-se as penalizações (os castigos físicos)ao resto da turma.No entanto, acho uma óptima ideia a do Júlio Tavares na possibilidade de reunir-mos o pessoal da turma do 5 e 6º ano, mais que não seja para confraternizarmos uns com os outros, eu pelo meu lado nunca mais vi esse pessoal.
Cumprimentos para ti amigo Júlio Silva, só pelos teus artigos já me tornaste um fã do maisopinião, fico sempre ansioso que chegue a Sexta-feira para eu poder ler o teu artigo e saber do que é ele fala.
Olá meus amigos, Júlio Tavares e José Valente, eu já pensei nisso em fazer um jantar para juntar o pessoal, só que eu não sei o nome do pessoal todo que pertencia às duas turmas, depois existe o senão de que alguns emigraram. E com respeito ao Professor Amadeu, eu posso procurar por ele no centro de Pardilhó, só que até parece mal eu dizer isto, a verdade é que se não me indicarem quem é, eu não o reconheço.
Concordo com uma réguada ou duas quando merecidas. Penso que deveria voltar às nossas escolas com muita moderação e sentido de justiça. Evitava muita tragédia e sofrimentos maiores. Não é agradável, é verdade, mas não é o fim do mundo.
A minha professora até nisso era mestra. Tinha uma régua pequena e quando a situação o justificava usava-a para dar a tal palmada que praticamente não doia mas tinha um efeito dissuasor. Era uma senhora muito sensível e percebia-se que tinha a preocupação de não nos magoar. E sabia dar mimo. Em quatro anos deu-nos quilos de mimo e uma dúzias de réguadas maternais. Agradeço-lhe umas e outras.