Polémicas do Futebol Nacional

Sem ter qualquer simpatia sportinguista, tão pouco nada contra alguma coisa nesse emblema, nutro porém de algum apreço pelo estilo diretivo/presidencial de Bruno de Carvalho. Menos gestor e mais desportivo, maior distância dos números e mais proximidade com a equipa (principalmente a de futebol). Eu próprio também já fui presidente de um clube desportivo, apesar de ser uma associação de caráter distrital, era esse o tipo de presidência que me norteava: sempre junto dos jogadores, indo diversas vezes para o “banco” como delegado ao jogo, transportava alguns jogadores dos escalões jovenis aos jogos fora (muitas vezes na minha própria carrinha), participava ativamente nas atividades que o clube desenvolvia para angariação de fundos, até treinava com a equipa às vezes, entre outras coisas.

Nesse clube, também me pautei por esforço numa mudança de mentalidades, recusando a agressão verbal, a má educação e conduta em campo (tanto atletas como o público adepto ao clube) e pela fomentação do “fair play”, visto que os adeptos e conterrâneos desse clube eram fervorosos participantes e muitas vezes ultrapassavam as linhas do razoável e essas atitudes prejudicavam muitas vezes a imagem do clube junto das instituições: associação distrital, conselho de arbitragem distrital, árbitros, etc.

Muito foi melhorado nesses 2,5 anos, tendo a direção por mim presidida conseguido trazer o clube de uma situação de 2ª divisão distrital e inúmeros e habituais castigos, ao 5º lugar e depois ao 3º lugar do campeonato da 1ª divisão distrital e uma das equipas mais disciplinadas da associação, assim como percursos interessantes nas taças distritais.

Na altura, debatemo-nos com inúmeras injustiças das arbitragens, que normalmente beneficiavam (por regra) os clubes mais fortes e comandantes do campeonato. Ainda nos insurgimos por escrito contra essa situação, mas de nada nos valeu. Não haveria melhor alternativa do que sermos disciplinados e amigos do “fair play” desportivo, para conseguimos assim ganhar apreço junto de adversários e dirigentes futebolísticos.

Voltando para o nível nacional, recordo-me de quando o Benfica há uns anos realizou um dossier acerca do chamado “apito dourado”, não teve o apoio dos seus congéneres. Também me recordo que nos últimos 25 a 30 anos, os sucessos do FC Porto a nível nacional, a muito se deveram alegadamente a esse tal “apito”, no qual houve condenados e outros por condenar, mas que continuam a passear-se pela passerelle da ribalta desportiva e/ou política, sem que o povo de oponha a tais indivíduos. Antes pelo contrário: parece que o povo até gosta de ser “roubado” e volta sempre a votar naqueles que continuam a levar “a água ao seu moinho”, sem qualquer marca de escrúpulos.

O dossier que Sporting está a preparar, pelas mãos do seu presidente de postura inovadora, apenas tenta reclamar para si pontos perdidos, atuais e passados, alegadamente devido à atuação das arbitragens ruinosas.

Não sei se o mesmo dossier também fala dos pontos ganhos e não merecidos…

Não sei se o mesmo dossier fala dos campeonatos que outros clubes perderam na secretaria ou também às custas de arbitragens ruinosas e sempre e favor dos mesmos.

Não sei se o mesmo dossier fala dos constantes atropelos à legalidade nas leis do futebol, dos quais são normalmente vítimas os clubes com menor poder, menor número de adeptos e que militam habitualmente na 2ª metade da tabela.

Penso que não, esse dossier apenas “fala” para o próprio umbigo, esquecendo que todos já foram prejudicados pelos erros de arbitragens – uns mais outros menos, outros nada ou quase nada, é certo.

Não gostaria de ver um dia no meu país uma 1ª liga constituída apenas pelos 4 ou 5 “grandes”, aos quais por vezes se adiciona um ou outro clube “outsider”.

Também não gostaria de assistir à atual e permanente “lavagem de roupa suja” em público, como tem acontecido nas recentes reuniões do chamado Conselho de Presidentes e a sua recente guerra com o o Presidente da Liga, o qual, após terem aleito democraticamente, querem agora destituir, acusando-o de má gestão e de querer legar à ruína os campeonatos profissionais.

Entendam-se senhores, o futebol é do povo! Aliás, é das únicas coisas que neste momento unem o povo e o distrai das amarguras da economia. Já pensaram que a instabilidade no futebol português pode vir a prejudicar a Seleção Portuguesa, à beira da sua participação no Mundial do Brasil?

Não me cabe a mim provar o que quer que seja, sou apenas um observador incógnito que aprecia e acompanha o futebol nacional há mais de 30 anos: já ganhei, já perdi, já empatei, mas nunca desisti de acreditar ver um dia pessoas sérias, honestas e íntegras à frente dos desígnios do futebol e, já agora, do país também.

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro