Política Nacional: A Dignidade está de volta

Na semana que passou, todos os partidos e seus respectivos líderes estiveram em destaque, e a meu ver, pela positiva. O 25 de Abril parece ter devolvido aos portugueses alguma da dignidade perdida ao longo dos últimos quatro anos, e para isso também contribuiu a presença dos capitães de Abril no parlamento para a tradicional sessão solene comemorativa da Revolução dos Cravos.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, proferiu um discurso hábil e profícuo em teor político, argumentando que é bom “existirem dois caminhos”, referindo-se, claro está, ao caminho defendido pela esquerda, por um lado, e ao caminho defendido pela direita, por outro lado. Marcelo assume-se como o “fiel da balança”, vestindo o fato de árbitro do jogo político, ou seja, fazendo aquilo que é suposto um Presidente fazer.

Jerónimo de Sousa disse preferir o estilo de Marcelo do que a postura de Cavaco, numa daquelas intervenções que ficarão para a história, fazendo até lembrar os elogios de Álvaro Cunhal ao estilo presidencial de Ramalho Eanes. Jerónimo também já disse – e bem – estar contra o programa de estabilidade que o governo vai levar a cabo nos próximos tempos. Jerónimo esteve bem porque não abre mão dos seus princípios, que também são os mesmos do PCP.

Prosseguindo, direi até Passos Coelho esteve bem (pasme-se!), ao ter lembrado o direito pleno do ex-primeiro-ministro José Sócrates em se defender na comunicação social dos diversos ataques, emitidos sob a forma de editoriais de jornais diários, de que tem vindo a ser alvo desde que foi detido. De facto, não faz mal nenhum o ex-primeiro-ministro fazer uso da palavra para proferir um discurso pacificador e um pouco mais sensato.

Assunção Cristas, no CDS, luta, e bem, pela visibilidade do seu partido. Substituir Paulo Portas afigura-se-lhe uma tarefa demasiado penosa, muito embora a ideia de o CDS pedir no parlamento a votação do programa de estabilidade do Governo ter sido importante para definir uma orientação política do partido mais à direita dos que estão presentes no hemiciclo.

António Costa tem estado mais bem do que mal. Ainda que a assinatura do acordo da TAP tarde, ainda que continuem congeladas as progressões na carreira de funcionários públicos, ainda que uma série de questões continuem por resolver, diga-se que Costa e seus ministros estiveram (muito) bem ao implementarem novos apoios para desempregados de longa duração, na redução das portagens do interior, na assunção por parte da Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, de que os animais devem deixar de ser coisas, entre muitas outras medidas assinaláveis.

Por fim, Catarina Martins e o Bloco de Esquerda. O Bloco tem estado francamente bem na forma como consegue fazer passar a mensagem para a comunicação social. Mostra que à esquerda do PS é o partido que está mais empenhado em apresentar propostas para fazer o país crescer (pese o facto de algumas propostas, como a alteração do nome do cartão de cidadão, serem demagógicas), e para isso tem contribuído muito a forma como a Catarina tem feito o seu papel de líder de parceiro de coligação parlamentar, assinalando os feitos de António Costa mas lembrando, como no caso BANIF, que esse tipo de situações não mais se repitam. Também as manas Mortágua têm defendido bem algumas medidas do Governo, e Marisa na TVI e Francisco Louçã na SIC e nas crónicas do jornal Público têm feito do Bloco um partido indispensável para o PS estar no Governo com alguma apreciável popularidade.

Popularidade? Sim. A devolução de rendimentos é o caminho para a recuperação da economia do país. Primeiro, o Governo, com o apoio da esquerda, está a reabilitar as pessoas e sua dignidade perdida. Só depois o Governo devolverá ao país a rota do crescimento económico, porque primeiro há que reconquistar a confiança. E para isso, o simbolismo de abrir para o público em geral aos Domingos os jardins de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, é impressionante.