Por estes dias – Telma Henriques

Por estes dias irei afivelar a  melhor das minhas máscaras.

Irei cozinhar os sabores da minha memória.

Sorrirei. Jamais serão os mesmos.

Lembrarei os que  partiram. Sem lágrimas. Com afecto. Como eles gostariam.

Discutirei, impreterivelmente, com o meu marido.

Porque não lhe acho o espírito “suficientemente” natalício.

(Reflexo, em espelho, de mim mesma.)

Ele não dirá nada.  Abraçar-me-á. Porque as coisas são como são.

Irei arrepender-me de ser tão “picuinhas”.

Não pedirei desculpas. Porque não é do meu  feitio.

As filhas (tão crescidas) rasgarão papéis de embrulho. Sempre. Como sempre.

A  sobrinha perguntará  (mil vezes)  se  tenho a CERTEZA que o Pai Natal virá.

Dir-lhe-ei que sim. Que já  o avisei onde é. Ele não se enganará na morada.



O sobrinho abanará a cabeça, incrédulo, perante tanta ingenuidade.

Logo ele, que reconheceu o Pai Natal pelas mãos.

(Nesse ano esqueci-me de calçar luvas.)

Os meu pais não ficarão para a ceia. Gostam de se deitar cedo.

Pensarei (mais uma vez)  que será o seu último Natal.

(Deus é generoso comigo. Em cada Natal  prova-ME errada.)

Direi “obrigada” com uma piscadela de olho.

E.

Silenciosamente deixar-me-ei adormecer.

A minha casa cheia de risos.

Barulhos.

Paz.

Crónica de Telma Henriques
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