Por muito que me esforce não consigo compreender – Júlio Silva

Por Muito Que Me Esforce Não Consigo Compreender!

Estas palavras, não fui eu que as inventei, mas adaptam-se aquilo que eu sinto neste momento. Uma vez que, por muito que me esforce não consigo compreender, como é possível abandonarem um pai, uma mãe, um Tio ou Tia, ou até um parente mais afastado, num hospital depois de este ter sido lá internado e ter alta. Ora se deixar, ao abandono um familiar me mete impressão, o que é que se ade dizer deste numero gigante de 300 idosos, que se encontram neste momento abandonados nos hospitais de Portugal.

A mim, faz-me confusão, custa-me entender, como é que um filho, consegue deixar um pai abandonado num hospital depois de este ter alta, há uma semana, um mês, 3 meses ou até à morte chegar. É que um pai ou uma mãe, não é um saco de lixo, que à noite se coloca no contentor do lixo ou se abandona, como muita boa gente faz, na beira de um pinhal. Porra pá, um pai ou uma mãe é aquele/a que nos deu a vida. Que bem, ou mal nos pôs a andar e a viver neste planeta que é a terra. É a carne da nossa carne, é o sangue do nosso sangue, por esta razão merecem o nosso respeito, o nosso carinho quando estes chegam à velhice. Tal e qual como eles nos deram carinho após nós nascermos, assim devemos de retribuir esse mesmo carinho, aos nossos idosos após estes terem perdidos as forças, e mesmo que por vezes eles nos pareçam um fardo bem difícil de transportar, temos a obrigação de cuidar deles. Se no dia de hoje estamos vivos, a eles o temos que agradecer. Foi da parte deles, que recebemos os primeiros alimentos, os primeiros carinhos, normalmente as primeiras palavras que aprendemos a dizer foram pai ou mãe. Ora perante tudo isto, como é que um filho pode abandonar um pai ou uma mãe num hospital. Como é que esse filho, consegue encarar o seu próprio filho, sabendo que abandonou o seu avô num hospital. Como é que um filho pode viver o seu dia-a-dia normalmente, sabendo que tem o seu pai ao Deus Dará, entre quatro paredes de um hospital, abandonado, como um cão rafeiro. Que exemplo, é que esse filho, está a passar para o seu próprio herdeiro, ao abandonar o seu pai ao Deus dará. E se o filho seguir o exemplo do seu pai, e quando este estiver na situação do seu avô, este lhe fizer o mesmo e o abandonar. Não se admirem se isto vier a acontecer, pois o mais provável é esta situação se tornar num ciclo vicioso. Há uns anos atrás, foi os lares que estavam na moda, os filhos metiam os pais nesses lares. Alguns quase empacotados, dentro de minúsculos quartos, onde ficavam por lá até que a morte chegasse, e os levasse para junto do criador. Nesse dia, lá apareciam e continuam a aparecer todos os familiares todos pesarosos, com as lagrimas algumas verdadeiras outras fingidas, a darem o último Adeus. No entanto, enquanto o velhote/a foi vivo, não se dignaram a visita-lo, porque existiu sempre uma desculpa, mesmo esfarrapada para desculpar essa tal visita que nunca terá acontecido. No meu caso, eu nunca tive dúvidas, quando chegou à hora de tomar conta da minha mãe, uma senhora de 77 anos viúva já há 24 anos, eu deixei a minha vida de emigrante, e optei por cuidar da minha mãe em sua casa, onde ela permanecerá, até à hora da sua morte caso seja a vontade dela. No entanto, eu poderia dizer que não, podia-me recusar a olhar por ela, até porque nós somos três irmãos. Seria até mais fácil colocá-la num lar, e ficaríamos libertos de responsabilidades, de trabalhos e de chatices. Sim chatices, porque por vezes, temos que ter uma grande dose de paciência para aturar as rabugices destes idosos. Mas com amor e carinho tudo se suporta, e ao lembramo-nos de quem é este idoso/a, a calma ressurge do nosso intimo, e com um sorriso nos lábios conseguimos fazer com que os últimos dias dos nossos velhinhos sejam os mais felizes possível. No meu caso, sacrifiquei-me eu, a abandonar a vida estável que eu tinha no Luxemburgo, para vir para Portugal no epicentro da crise, e tomar conta da minha mãe, porque sou eu o filho mais velho. E como os meus irmãos, estavam numa fase de expansão empresarial no Canadá, não quis afetá-los na sua vida de emigrantes. Nunca, mas nunca mesmo, em altura alguma, me passou pela cabeça abandonar a minha mãe. Mesmo que entre mim e ela, não houvesse posses para a sustentar, da panela que eu comesse ela também comeria, uns dias melhor outros pior, mas um prato de sopa haveria de haver para ela. Até porque, eu cresci ouvindo um velho ditado que é o seguinte, “Panela que cozinha para dois cozinha também para três ou quatro” em minha casa, ainda hoje nunca se nega um prato de sopa a quem nos bate à porta.


Eu sei, que nos dias de hoje, e com a crise que estamos a travessar, não é fácil cuidar de um idoso, mas com um pouco de sabedoria, inteligência e muita orientação, consegue-se ter sempre um prato de sopa quente para aquecer o estômago a esse velhinho, o que não é mentira nenhuma pois eles (alguns) até que comem tão pouquinho, que a sua despesa de alimentação torna-se a quase nula. A medicação essa é mais difícil de se orientar, mas para quem não a pode obter pelos seus meios à que a ir pedir às Assistentes Sociais. Mas por amor de Deus, não abandonem os vossos velhinhos nos hospitais como se de velhos se tratassem. Recordem-se daquela história já secular que narra o seguinte episódio. Num país distante, era hábito, quando os pais começavam a dar trabalho, os filhos levarem às costas os pais para o meio da Montanha e abandona-los lá. Deixando-os, apenas com um pedaço de pão, um barril de barro de água, e uma manta. Um belo dia, chegou a vês de um filho que era muito rude para o pai, fazer esta viajem, carregou o pai às costas, e lá foi Montanha acima. Quando chegou ao local indicado, largou o velho pai no chão e deixou-lhe os mantimentos usuais e a manta. Virando costas ao pai começou a fazer o caminho de regresso, então o pai chamou uma última vês e pegando na manta rasgou-a ao meio atirou com a metade da manta aos pés do filho, dizendo-lhe: Filho, guarda essa metade da manta para te agasalhares na altura em que o teu filho te venha aqui trazer para também morreres. Escusado será, dizer que o velho regressou a sua casa, da mesma maneira que subiu ao cimo da Montanha, que foi às costas do filho. O Velho acabou os seus dias de vida na sua casa. Quanto a este costume de levar os velhos a morrer na Montanha, julgo eu que acabou neste mesmo dia em que aconteceu este episódio.

Crónica de Júlio Silva
A opinião de Júlio Silva