Por uma questão de ética

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JORNALISTA – Dr. Santana Lopes, é provedor da Santa casa da Misericórdia há quatro anos. Pretende permanecer no cargo até, pelo menos até dois mil e dezanove ou, como habitualmente, deixar as suas funções a meio, planeando a sua saída em breve?

SANTANA LOPES – Minha senhora, retirou essa notícia caluniosa de algum pasquim?

JORNALISTA – Por acaso, não. A cessação de funções como Primeiro-ministro veio publicada no Diário da República e aquando da demissão de presidente do Sporting, veio-se a saber pela divulgação do comunicado que enviou à direção do clube.

SANTANA LOPES – Já nem me recordava dessa curta passagem por Alvalade. Foi curta, mas asseguro-lhe que saí sem desconfiar de que mais tarde iriam instaurar processos aos antigos dirigentes por eventual dolo.

JORNALISTA – Se soubesse, teria agido de forma diferente, teria tomado medidas diferentes das que levou a cabo?

SANTANA LOPES – Talvez me tivesse demitido mais cedo.

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JORNALISTA – Preferia que em Portugal houvesse um regime de governação presidencialista como existe em França?

SANTANA LOPES – Desculpe, mas por uma questão de ética, gostaria de não responder a essa pergunta.

JORNALISTA – Encara com preocupação a tendência de subida das taxas de juro da dívida portuguesa por causa da Grécia?

SANTANA LOPES – Não, porque estou esperançado de que, mesmo não pensando em demitir-se, o Governo do senhor Tsipras abandone a meio as pretensões de renegociar a aceite as condições dos credores. Um político deve ser prudente e infletir nas suas decisões se lhe surgirem novas oportunidades, mesmo que esteja a meio de um mandato. Se tiver tanta sorte como eu, tarde ou nunca se arrependerá.

JORNALISTA – Se fosse conselheiro do Primeiro-ministro, que diria a Passos Coelho?

SANTANA LOPES – Que metade do que possa ouvir a meu respeito é falso. Eu posso abandonar a meio todos os meus projetos, mas garanto-lhe que não desiludo toda a gente, apenas as pessoas que possam ter acreditado que eu iria concretizá-los, o que dá sensivelmente dois terços do eleitorado.

JORNALISTA – Concorda com a renegociação da dívida pública grega?

SANTANA – Preferia não me imiscuir nas opções tomadas pelos outros Estados. Desculpe, mas por uma questão de ética volto a não responder a essa questão.

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JORNALISTA – Se concorrer às presidenciais, poderá vir a ter um opositor no social-democrata Rui Rio?

SANTANA LOPES – Não sou muito dado a fixar nomes nem caras. É aquele senhor que presidiu muito tempo à Câmara do Porto?

JORNALISTA – Esse mesmo.

SANTANA LOPES – Não tem o perfil desejado para ser presidente da República. Reconheço que foi um excelente mediador de conflitos entre os diferentes Vogais da Câmara e as forças partidárias que tinham assento na assembleia municipal, mas para Belém nada disso é necessário, o ambiente é mais pacífico. Não vê as excelentes relações institucionais que neste momento há entre o senhor Presidente o Primeiro-ministro?

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JORNALISTA – E se for Marcelo Rebelo de Sousa a concorrer consigo? Esse não tem a menor experiência autárquica.

SANTANA LOPES – Mas muita falta lhe fazia. Olhe, para gerir cá fora os conflitos que motivam algumas das suas declarações no telejornal de domingo à noite na TVI.

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JORNALISTA – Para finalizar este tema, tem-se falado também em Durão Barroso.

SANTANA LOPES – É também um mau mediador de conflitos. Veja-se que durante os anos em que foi Presidente da Comissão Europeia, jamais conseguiu uma posição de consenso entre gregos e alemães. Além disso, garanto-lhe que é demasiado tarde para vir a tê-la por essa via. É que conheço-o demasiadamente bem para saber que neste momento não estaria disposto a aceitar um cargo numa Câmara, nem que fosse tão bem remunerado como quando esteve em Bruxelas.

JORNALISTA – É apologista do sistema de presidência aberta iniciado pelo presidente Mário Soares?

SANTANA LOPES – Sou a favor de todas as formas de aproximação do povo ao seu candidato, ainda que ouvi-lo possa contribuir para afastá-los ainda mais. Conheço quem depois de ouvir as propostas de um político, saia dali a correr para ir votar noutro.

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JORNALISTA – Concorda em alterar na Constituição da República o limite ao número consecutivos de mandatos que pode ter um presidente?

SANTANA LOPES – Concordo sobretudo em que devia haver um número limite às alterações que pretendessem fazer, porque em minha opinião a Constituição está muito bem assim.

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JORNALISTA – Consideraria, à semelhança do que sucedeu consigo, destituir um Governo de cariz socialista se mão concordasse com as suas decisões?

SANTANA LOPES – Desculpe, mas por uma questão de ética, uma vez mais não poderei responder à sua pergunta.

JORNALISTA – Muito bem. Quando oficializa a sua candidatura?

SANTANA LOPES – Quando nos artigos de opinião que leio no “Expresso”, insinuarem que sou o candidato de todos os social-democratas e não só dos afetos a Passos Coelho, porque creio que eles são pouquíssimos, em conseq uência destes maus quatro anos de austeridade.

Nesse instante, toca o telemóvel de Santana Lopes e depois de uma breve troca de palavras, este desliga-o e aproveita para se despedir.

SANTANA LOPES – Desculpe, mas tenho de me ir embora. Esperam-me. É um assunto urgente para resolver.

JORNALISTA – Uma vez mais, deixa a meio uma coisa que estava a fazer.

SANTANA LOPES – Sim, mas desta vez a culpa não é minha. Eu ia ficar, porém não se iluda. Era só até chegar a meio do número de perguntas que eu idealizei que me fizesse mas às quais, por uma questão de ética, não poderia responder.

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