É esta a questão que martelou na cabeça de Maria, vezes sem conta ao longo da última semana.
Porquê?
O sol já não parecia aquecer mais, as refeições aparentavam saber sempre ao mesmo e as duas pareciam todos iguais, vividos em ponto morto e com mood de segunda-feira.
Porquê?
A torradeira dispara dois foguetes queimados que, supostamente, são as suas torradas para o pequeno-almoço. Estão piores do que os torresmos que passam óleo Johnson baby às 3 da tarde na praia, em pleno verão. O seu café parece pouco mais do que borra acabadinha de sair do cano de esgoto mais próximo. O seu apetite é mais reduzido que um balão de água por encher, mas Maria (ou o seu lado racional) sabe que precisa de se alimentar para ter energia para mais um dia de trabalho.
Porquê?
Abre o seu armário e todas as roupas lhe parecem pretas (mas não são),tal como o estado da sua alma, mais chamuscada que uma chaminé no fim do inverno. Apanha as primeiras calças e camisola que lhe aparece e equipa-se para mais um dia de trabalho.
Porquê?
Lava a cara e sente os largos papos junto aos olhos, fitando o espelho a uma distância de um beijo. Escova os dentes sempre cabisbaixa com medo da história que ele lhe tem para contar. Mas como pentear-se sem a sua ajuda? Ganhou coragem finalmente e ficou horrorizada. Olhos vermelhos, olheiras, uma expressão tão triste no seu semblante. Encheram-se de lágrimas os olhos cansados e um nó na garganta formou-se, permitindo a Maria conseguiu sugar as suas lágrimas.
Porquê?
Desce à garagem e procura a chave do carro na sua mala sem fundo, nada. O nó da garganta aperta mais que mal consegue respirar, enquanto sobe novamente ao seu apartamento para ir buscar as chaves.
Porquê?
Arranca finalmente para o trabalho. A música não é mais do que uma frequência distorcida que lhe faz companhia na viagem. Se lhe perguntarem como chegou ao seu emprego, Maria não o sabe dizer, porque a única coisa que ela se pergunta é: Porquê?
Porque é que ele foi embora sem dizer nada? Porque é que lhe fez juras de amor, sem intenções de as cumprir? Porque é que a amou tão proximamente para um dia largar? Porque é que estava tudo tão bem entre eles e ele simplesmente desapareceu? Porque foi capaz de lhe virar as costas?
PORQUÊ?
O que aconteceu?
Assim que entra no emprego, um sorriso sofrido surge nos seus lábios, a alma tenta ir buscar forças ao corpo franzino, o corpo franzino tenta ir buscar forças à débil alma e mais um dia começa, e Maria sabe que vai ser atormentada pela questão.
Porquê?
Fim.
Mais uma das excelentes histórias desta grande escritora parabéns