Portugal: o país do quase – Bruno Neves

É verdade e temos de o admitir. Portugal é o país do “quase”. Somos um país fantástico, temos paisagens maravilhosas e um povo que recebe e acolhe como ninguém. Contudo sempre fomos, e muito provavelmente sempre seremos, o país do “quase”. E é este o tema desta semana.

Seja qual for o momento da nossa riquíssima história vamos sempre chegar à mesma conclusão. O nosso primeiro Rei “quase” que bateu na mãe (sim, porque embora muito boa gente o dê como um dado adquirido é apenas um mito urbano). Outro dos nossos Reis “quase” que regressou são e salvo de uma batalha em Álcacer Quibir. Fomos alvo de um terramoto que “quase” destruiu por completo toda a capital. “Quase” que fomos dominados por Napoleão. Tivemos um ditador que “quase” matou todo um país à fome (fome não só de comida mas também de conhecimento). Na Guerra Colonial “quase” que dominávamos as colónicas assim como “quase” que ganhávamos a guerra.

Na actualidade então as provas são mais do que muitas. No campo da justiça é só escolher: O caso Casa Pia “quase” que dava em alguma coisa. O Vale e Azevedo “quase” que era considerado culpado…ahhhh bolas, ele foi considerado culpado recentemente, as minhas desculpas! Vou corrigir imediatamente com base nos acontecimentos do futuro: Vale e Azevedo “quase” que cumpria a pena de prisão assim como “quase” que pagava a indemnização ao Benfica. E recuando um pouco no tempo, a Fátima Felgueiras “quase” que era apanhada antes de fugir para umas férias no Brasil.

No campo desportivo também existem alguns exemplos: o Benfica “quase” que ganhava tudo na última época. O Vítor Pereira “quase” que renovava contracto com o Porto. O Sporting “quase” que conseguia descer de divisão. A Selecção de todos nós “quase” ganhava o Euro 2004 e Scolari “quase” que era elevado à categoria de herói nacional. “Ah, mas estás a ser muito pessimista! Então e o Mourinho e o Ronaldo, por exemplo?” Eu não estou a ser pessimista, estou a ser é realista, isso sim! O Ronaldo “quase” que é o melhor do mundo (pode sê-lo para nós, mas as memórias apaga-as a história porque o que conta são os prémios individuais e esses, ganha-os o Messi). E o Mourinho “quase” que triunfou na sua passagem pelo Real Madrid.

Este é um país onde sempre morremos à beira-mar, naqueles momentos depois de molharmos os pés na água mas ainda antes de termos tempo de dar um mergulho. Mas esta é muito possivelmente a posição mais esperançosa de todas. Com o “nunca” ficaríamos totalmente desmotivados e sem vontade de lutar fosse pelo que fosse. E com o “sempre” não saberíamos o que esperar de seguida, ficando no marasmo e numas autênticas “águas paradas”. Assim, apesar de ainda não termos lá chegado estamos mesmo mesmo “quase” a fazê-lo como tal não vamos desistir! E enquanto estivermos vivos vamo-nos agarrando a essas esperanças, por vezes infundadas e irrealistas. Mas é isso que nos mantém vivos.

Portanto bem vistas as coisas, e apesar de todas as consequências negativas esta é a melhor posição em que podíamos estar. Este é um país que por vezes nos dá nervos, nos irrita e nos trata de forma injusta mas acima de tudo é a nossa pátria. Foi aqui que nascemos, e é a este país que chamamos de “nosso”. Por tudo isto e muito mais é que eu, e certamente que o leitor concorda comigo, tenho muito orgulho em ser português.

Boa semana.
Boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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