Portugal, vou esperar por ti – Maria João Costa

Portugal, tenho 23 anos e tu não me deixas viver. Deixas-me sem ar, conseguiste abafar todos os meus sonhos e a minha vontade de soltar gargalhadas. Um dia disseste que só podia parar aos 90, quando tivesse demasiado frio e pouca força nas pernas, mas tu mentiste-me. Estás sempre a mentir-me, para de mentir. Para de me deixar com ilusões e de me prometer aquilo que não podes dar, para de o fazer, estou a ficar cansada.

Vou-te contar uma história, Portugal. Era uma vez uma menina que sempre quis ter um cão, e quando finalmente o teve, não fez mais do que o abandonar. Foi na hora de ir para a faculdade, foi na hora de ir estudar para outro país, foi na hora de ir trabalhar para outra cidade, e ele deixou de confiar nela, a pessoa que o tinha desejado mais do que ninguém, a pessoa que lhe prometeu estar sempre ao lado dele, a pessoa que o abandonou. Esta história podia ser a nossa, a nossa história.

Obrigaste-me a viver com medo, obrigaste-me a rever as minhas prioridades, a viver em constante ansiedade, com medo de adormecer e de perder a oportunidade pela qual eu tanto esperei. Obrigaste-me a acordar de manhã com olheiras e olhos vermelhos por ter chorado durante a noite, obrigaste-me a crescer quando não era suposto, obrigaste-me a pensar em problemas de gente grande quando eu ainda tinha idade para me preocupar apenas com o teste de história de amanhã. Não gostei, fizeste tudo ao contrário.

Perguntei-te mais do que uma vez porque é que tinha que ser assim, tu começaste a olhar para o outro lado, tropeçaste nas palavras, não conseguiste acabar uma frase e repetiste vezes sem fim, «tem que ser assim». Não, não tem que ser, só o é porque tu deixaste, mandas-me crescer agora, mas quem tem que crescer és tu, és tu que tens que assumir as tuas responsabilidades e cumprir o que sempre me prometeste.

Vou esperar por ti, vou fazer isso por nós … e enquanto não chegas, vou tentar reconquistar o meu cão.

Crónica de Maria João Costa
Oh não, já é segunda feira outra vez!