Prevenir o Cancro – a doença “da moda”

No dia 4 de Fevereiro, assinalou-se o Dia Mundial da Luta contra o cancro. Sendo esta a doença “da moda”, e, sendo possível, em alguns casos, preveni-la , decidi este mês dedicar o texto a esta causa.

Actualmente o cancro é responsável pela morte de cerca de 25% da população (1 em cada quatro pessoas). Apesar de nos últimos anos se ter verificado uma ligeira descida nas taxas de mortalidade (resultado não só de tratamentos inovadores mas, sobretudo, de um maior investimento na prevenção e melhor conhecimento por parte da população), o panorama ainda é assustador: noticias recentes revelam que morrem em Portugal, por dia, cerca de 70 pessoas vitimas de cancro.

A palavra cancro tem origem no latim “cancri” (que significa caranguejo), por se espalhar em várias direcções, como as patas desse animal. Esta palavra engloba cerca de 270 doenças diferentes, em que as células com mutação se multiplicam sem limites, invadindo as estruturas do corpo e colocando a vida em risco.

O diagnóstico de cancro implica muitas vezes sentimentos de medo pela noção de catástrofe, de morte ou amputação, muito associada a estas doenças. De certeza que todos nós temos alguém conhecido que tem ou teve cancro. É possível prevenir este impacto! Vamos primeiro perceber como surge…

Ao longo da vida, todas as células do nosso corpo vão sendo renovadas. Imagine o corpo como uma fábrica de produção de células: cada célula dá origem a duas, e todas as células produzidas são sujeitas a um processo de avaliação em que as têm “defeito” são eliminadas. Agora imagine que entra um “funcionário infiltrado”, que vai causar uma deficiência (mutação) no fabrico das células. Esta mutação passa despercebida no momento da “avaliação” e estas células com defeito não são eliminadas. Para agravar a situação, elas têm uma capacidade extraordinária de se multiplicar e de invadir os tecidos normais, “roubando-lhes” os vasos sanguíneos (comida e oxigénio), causando lesões e alterações da função do corpo, que podem levar à morte.

Esses “funcionários infiltrados” são os chamados factores cancerígenos, e podem ser de três tipos:

  • Factores do estilo de vida: tabagismo, alimentação, consumo de álcool, exposição à luz solar e práticas sexuais (os vírus que podemos adquirir destas também podem provocar mutações, um exemplo é o Papiloma Virus Humano (HPV), responsável por cancro do colo do útero)

  • Factores ambientais: exposição a poluentes na rua e nos ambientes profissionais, como, por exemplo: produtos químicos (incluindo os presentes nos alimentos pré-cozinhados e refinados), drogas, vírus, radiações (raio-X e raios UV), pó, tintas…

  • Factores genéticos: situações hereditárias como algumas doenças (cólon irritável, doença de Chron, doença de Paget)

A probabilidade de desenvolvermos um cancro não é igual para todos nós, pois vai depender da nossa carga genética e da exposição que temos a estes factores cancerígenos. Por exemplo, em Portugal os cancros mais frequentes e mortais são os do estômago e intestinos, sendo, em grande parte devidos à tradição gastronómica de enchidos e conserva por fumados e salmoura. Os fumadores têm 12 a 25 vezes maior risco de desenvolver cancro, e não é só o do pulmão.

Pode-se prevenir o cancro de duas formas: evitar que os tumores apareçam ou evitar que tenham um grande crescimento. Ambas permitem diminuir a mortalidade causada pelo cancro.

Para evitar que os tumores apareçam é necessário diminuir a exposição aos “funcionários infiltrados” que são os factores cancerígenos.

Já para evitar que os tumores tenham um crescimento acentuado e que não seja tão difícil combate-los, é necessário estar atento aos sinais que o nosso corpo nos transmite. Apesar de os diversos tipos de cancros poderem manifestar-se de diversas formas, há sete sinais que não devem ser ignorados:

A Alteração nas idas ao wc (intestinos e bexiga)
T Tosse ou rouquidão persistentes
E Excrecção ou hemorragias anormais
N Não cicatrização de feridas
Ç Caroço na mama ou noutro local
A Alterações óbvias de verrugas ou sinais
O Engolir ou digestão difíceis

É importante que tenha noção que o aparecimento destes sinais de aviso devem ser comunicados ao médico para que ele os possa investigar. No entanto, não entre em pânico! Pois não é porque aparecem que tem obrigatoriamente um cancro!

É importante também desmistificar que tanto a dor como a perda de peso, se surgirem, são sinais tardios de cancro. Relembro que o que se pretende é identificar o cancro o mais cedo possível! Por isso, esperar que estes apareçam e ignorar os restantes sinais é desperdiçar tempo de diagnóstico e tratamento, diminuindo as hipóteses de cura.

Como prevenir      

Alguns aspectos que deverá ter em atenção no dia-a-dia, para evitar que o cancro apareça ou para detectá-lo o mais cedo possível:

  • Tenha especial atenção com lesões pré-cancerosas como pólipos do intestino, sinais pigmentados, alterações no papanicolau, ou a bactéria H. Pylori no estômago
  • Evite expor-se ao sol entre as 11h e as 16h. Utilize sempre protector solar.
  • Vigie lesões em locais sujeitos a inflamação e traumatismos recorrentes (sítios de próteses dentárias, óculos, cintos…)
  • Faça uma alimentação variada e o mais natural possível (quanto menor a lista de ingredientes e menor o número de conservantes (os Exx dos rótulos), melhor); Diminua a ingestão de açúcar, trigo e outros produtos refinados e processados
  • Evite desodorizantes anti-transpirantes (não permitem a libertação de toxinas)
  • Não descure a protecção individual no trabalho, especialmente se é marceneiro, pedreiro (devido aos pós), se o seu trabalho implica exposição continuada a produtos químicos (como o amianto ou laboratórios, fábricas de tintas), ou radiações (raio-X)

  • Fuja o mais possível de ambientes poluídos, como o trânsito e zonas industriais
  • Deixe de fumar; Se não fuma, evite ambientes fechados onde seja permitido fumar
  • Não tenha comportamentos sexuais de risco

  • Faça regularmente o auto-exame da mama ou dos testículos (uma vez por mês, durante o banho) e da pele (pesquise pela regra ABCDE)

  • Não ignore os sete sinais que lhe apresentei anteriormente (ATENÇÃO)
  • Não descure os exames de rastreio de cancro (as idades de inicio referidas podem variar, se houver história familiar de cancro):
    • Pesquisa de sangue oculto nas fezes
      • Por vezes, o tumor ou os pólipos dos intestinos sangram e esta análise permite detectar pequenas quantidades de sangue nas fezes. Deverá ser realizada anualmente, a partir dos 50 anos
    • Colonoscopia
      • Para despiste de cancro do colon e do recto, é recomendado que seja realizada de 5 em 5 anos, a partir dos 50 anos
    • PSA
      • Anualmente, a partir dos 45 anos
    • Mamografia
      • É recomendável que as mulheres, a partir dos 40 anos, façam uma mamografia anual ou de 2 em 2 anos; A partir dos 45 anos devem repetir de 2 em 2 anos;
    • Papanicolau
      • Serve para rastrear o colo do útero e, apresentando um resultado normal, deverá ser realizado de 3 em 3 anos

 A titulo de curiosidade, recomendo-lhe este teste, meramente explicativo, para que possa esclarecer mais algumas duvidas que tenha acerca do cancro (http://lifestyle.sapo.pt/casa-e-lazer/testes/artigos/esta-bem-informado-sobre-o-cancro#link)