Primeiro jogo do Euro 2016 jogou-se em… 1995

No início daquela fria noite de Novembro, no final do ano de 1995, começava o Euro 2016 para Portugal. Baía, Secretário, Hélder, Fernando Couto, Paulinho Santos, Oceano, Paulo Sousa, Rui Costa, JVP, Figo e Domingos foram os homens escolhidos para abrirem as portas do mundo ao futebol português. E a dita geração de ouro não desiludiu, ofuscando com o seu brilho um desamparado Alan Kelly, guarda redes irlandês, que sem alternativa, recorreu ao imortal chapéu feito pelo mestre Rui Costa.

Foi ali que tudo começou, foram estes jogadores que acabaram com 10 anos de míngua, 10 anos sem Portugal marcar uma única presença em fases finais de grandes competições, 10 anos de tricas e talentos perdidos para a nação futeboleira.

Mas esta geração não se limitou a estar uma vez, como algumas, poucas, gerações antes dela tinham estado. Esta foi a geração que se impôs, que se habituou ao ouro desde bebé, e que não queria outra coisa. Esta foi a geração da ambição.

E enquanto outros viram naquele jogo uma final, eles viram um começo.

Um começo que os levou ao Euro96 apresentarem um futebol de grande qualidade técnica, virtuosismo imenso, enfim, uma identidade. Ou melhor, na falta duma, roubámos outra, lembram-se da forma como éramos falados? “O Brasil da Europa”. E talvez fruto desse brilho, um altruísta Poborski tenha imitado Rui Costa oferecendo um chapéu feito do nada a Baía.

Era o fim do sonho, sim, apesar de tanto tempo fora das grandes competições, o povo acreditou que era possível, que um grupo de novatos poderia ganhar.

O normal seria voltar às nossas vidas, aliás, Marc Batta tentou atirar-nos para essa suposta normalidade, e todo o povo que tinha sonhado, percebeu isso mesmo, tudo não passava dum sonho, a expectativa de 89, confirmada em 91, alimentada em 96, teria morrido em 97, com a expulsão dum dos seus filhos mais cintilantes.

Mas não, esta também foi a geração que disse não. Não iria deixar a porta fechar-se. Não iria deixar que a porta emperrasse de novo. Não iria deixar que outros Battas fossem mais fortes que a sua chave de ouro, o seu talento.

E lá estávamos nós, chatos, teimosos, diria até chateados, meros quatro anos depois, mais experientes, mais crentes, mais imponentes.

Começámos com uma vitória épica, sem mentir um milímetro ao que vínhamos, 3-2 à Inglaterra depois de estarmos a perder por 2-0. Com, o agora maior símbolo da geração de ouro, Luís Figo a liderar a reviravolta num golo imortal.

Seguiram-se uns quantos Países menores, sim, menores, porque nós já éramos maiores que muitos, e menores que muito poucos. Mas não esquecer o que fizemos contra um desses. A lenda conta-nos que uma equipa de suplentes liderada por um tipo nervoso chamado Sérgio Conceição, abalroou com três golos a arrogância alemã. Diria que nesse dia, o ditado mudou, no futebol são 11 suplentes contra 11 titulares, e no final goleia Portugal.

Como se sabe, se existe uma verdade no futebol, o azar duns, a sorte de outros. O homem do hat-trick roubou o lugar ao anterior rei da geração de ouro, João Vieira Pinto.

Quem encontrámos na meia-final? A recentemente aposentada maldição francesa. E mais não digo.

Mas estar em duas competições num curto espaço de tempo, já tinha sido feito pela geração de 80. Faltava agora o mundial, faltava a qualificação que aquele francês a puxar para o alemão nos retirou. Com o mesmo timoneiro daquela fria noite de Novembro, António Oliveira, ainda com a dita geração de ouro, conseguimos essa qualificação.

Correu mal? Sim, correu muito mal. Mas o certo é que estávamos lá, o certo é que foram alvo duma tentativa de linchamento popular à chegada a Portugal. O trabalho estava feito. A exigência já não era só estar lá, já não era só participar, era vencer.

Nenhum membro da dita geração de ouro conseguiu alcançá-lo, mas se hoje o alcançamos, se hoje somos campeões europeus, temos que nos lembrar dela. A geração que teve no seu talento, a chave de ouro que abriria as portas para esta conquista tremenda. Foram eles que tudo mudaram.