Problemas de expressão – Teresa Isabel Silva

É estranho como os seres humanos gostam de venerar os criminosos depois da morte. Fazendo com que o maior vilão seja honrado pelo seus actos.
Aliás o ser humano é tão versátil e volátil que consegue dizer mil e uma coisas negativas sobre um sujeito vivo, fazendo dele um traste de primeira estância. Porém quando este mesmo sujeito morre, as pessoas tem a coragem sempre de dizer “era tão boa pessoa”.
Pessoalmente não compreendo de onde é que vem esta admiração pós morte. Já diziam os antigos que as pessoas só são valor ás coisas depois de as perderem, mas chegar ao ponto de tornar imaculado um sujeito que antes era uma nódoa parece-me exagerado.

A sociedade ainda tem medo da morte. E tal como os antigos venera-a. Mas não a celebra. Aliás, é extremamente proibido socialmente festejar a morte de alguém, mesmo que esse alguém seja a pessoa mais vil que já se conheceu. Aliás nos meios pequenos como as aldeia, é muito frequente isso acontecer.
Morre lá o Sr. X ou a Sr.ª Y, e tanto um com o outro são pessoas de quem ninguém gosta. Contudo no funeral vai o povo em peso para a igreja chorar e dizer que ele ou ela eram tão boa pessoa. Entretanto neste cenário de lamentações pelo defunto entra alguém que diz alto o pensamento de toda a gente, relembrando a escumalha que aquele morto era em vida. Nesse momento toda a gente se indigna e olha o constatador do facto como se ele tivesse cometido a maior heresia de todo o mundo.

Depois desta reavaliação de personalidade do morto por parte dos vivos. Pergunto-me se afinal aquela peste morta vai para o céu ou para o inferno. Quer dizer até o sujeito passar o limiar do mundo dos vivos era um vilão, mas assim que esticou o seu malévolo pernil passou a ser um santo? Isto é mais complicado do que parece e nem a ciência consegue explicar esta relação amor e ódio.

Crónica de Teresa Isabel Silva
Crónicas Minhas