Problemas de higiene intima – Miguel Bessa Soares

Estou triste. Não é uma tristeza estilo Cristiano Ronaldo, até porque se eu dissesse ao meu patrão que estava triste, na melhor das hipóteses levava dois berros, e a certeza que seria substituído por um funcionário mais motivado. Tudo isto sem nunca lhe passar pela cabeça renegociar o meu contrato.

Estou triste pela discriminação que há entre homens e mulheres. Durante os últimos anos elas foram enganando a homemzarrada lutando pela igualdade de direitos. Mas hoje assistimos a uma desigualdade com sinal positivo para as senhoras.


Estou triste porque sinto que os homens são diariamente vitimas de bullying da própria sociedade. Para o provar basta abrir um armário de quarto de banho nas nossas casas, e comparar a tralha que está lá dentro dedicada à mulher. Ele é cremes, águas especiais, esfoliantes, esponjas e acessórios. Quando os nossos olhos batem naquele derradeiro produto que é nosso, que é de homem vulgo gilete da barba, os nossos olhos quando lacrimejam (quando se consegue encontrar no meio da confusão). Mas mesmo assim temos de olhar com alguma atenção, mantendo sempre o receio que ela tenha feito uma viagem ao sovaco da esposa, ou seguido em excursão perna acima perna abaixo.

Ao deambular por um corredor de higiene intima nos supermercados a traição é ainda maior. Não basta o facto de aquele ser um corredor quase em exclusivo para mulheres, vemos que esse nosso fiel amigo, tipicamente nosso, que até diz: “Nanam, o melhor para o homem”, se vendeu e agora também há em cor de rosa e até diz que protege a pele feminina, quando nós esperamos que ele nos deixe a cara áspera como um verdadeiro macho.

A confusão toda nesse corredor, para o homem comum, é quando o seguinte letreiro nos desvia a atenção: “Comprimidos vaginais”. Há algo de especial na palavra vaginal, e acreditem ao ler tal palavra nunca ocorre a nenhum homem uma imagem de que uma área dessas possa adoecer ao ponto de precisar de um comprimido.


Eu nunca entendi a expressão: “Hoje não, doí-me a cabeça”. Posso não ser um expert, mas já vi alguns filmes porno, e senhoras posso assegurar-vos que o coito (por tudo o que já vi) raramente envolve a cabeça. Ou pelo menos raramente é de forma tão violenta que vos possa piorar as dores.

Tenho a certeza que a vontade de qualquer homem ao ouvir essa expressão, seria fazer um sorriso manhoso, enquanto com a mão direita agitava alegremente uma caixa de Ben-u-ron. Mas somos cavalheiros, não o fazemos.

Agora tendo a perfeita noção que não sei para que serve um comprimido vaginal, mas tendo a certeza que na hora do sexo o que eu quero usar é a vagina e não a cabeça, não hesitei em comprar uma caixa desses comprimidos milagrosos. Assegurando que na próxima oportunidade em que ouça: “Hoje não doí-me a cabeça”, vou responder alegremente e seguro “Queres que meta um comprimido destes antes ou depois de meter o….”

Crónica de Miguel Bessa Soares
Mundo ao Contrário