A Problemática da Liderança

Muitos dos problemas com que se deparam as nossas empresas, a produtividade dos seus efetivos, a falta de inovação e diversificação tem muito a ver com a falta de capacidade de liderança dos seus quadros: chefes, diretores, administradores e proprietários. Vamos por isso hoje falar um pouco sobre a problemática da liderança nas nossas organizações.

Depois da saída da troika do nosso país, de uma forma mais controladora do que a intervenção ativa durante o processo de ajustamento, há que transformar o paradigma de desenvolvimento do nosso país: como tem sido dito, através do incremento das exportações, do controlo mais rigoroso do crédito, do aumento das poupanças das famílias e das empresas, do rigoroso controlo das despesas públicas, da aposta em setores em que o nosso país pode ser (e é já) forte, como o turismo, as indústrias transfomadoras de produtos alimentares, texteis e calçado, produção de vinho, azeite e outros transformados alimentares, da cortiça e do papel.

O setor terciário no nosso país representa uma fatia enorme da nossa balança produtiva e que, de facto, muitos deles, não representam sequer qualquer fator de acréscimo de mais valor, mas sim o crescente aumento de intermediários, que não trazem ao consumidor quaisquer benefícios ou poupanças, apenas os iludem a curto prazo, para a médio e a longo prazo nada contribuirem para o aumento da poupança destes, através de reduções de preços de serviços. Falo aqui de setores cujas liberalizações profetizavam reduções nas faturas de despesas correntes do consumidor, mas o que se verificou foi precisamente o contrário. Teremos que remontar à década de 90, para denunciar aqui a liberalização dos preços dos combustíveis, por exemplo, que originaram apenas que os operadores nacionais viessem a concertar preços, em seu benefício e em desfavor do consumidor. Mais tarde surge a liberalização das telecomunicações, essas sim, com grande componente de evolução tecnológica, mas que rapidamente se percebeu – e isso ainda hoje acontece – que os diferentes operadores concorrem com pacotes de serviços e preços iguais ou muito parecidos, que apenas se preocupam em “caçar” clientes uns aos outros, sem que isso represente de facto mais valias para o consumidor final. Mais recentemente na área da energia e gás natural, cuja entrada no mercado de mais operadores, isso não conduziu a reduções na fatura energética, mas sim constantes subidas de preços. Os anúncios de pacotes e descontos associados a cartões de consumo e a descontos em compras em supermercados, apenas são mais uma forma de manter o consumidor distraído, controlado e essas são formas de cada operador conseguir controlar os consumos do seu cliente. Por exemplo, frequentemente, para quem tem cartões de desconto em supermercados, associados a descontos em combustíveis, recebemos em casa vales de desconto predominantemente de produtos que o consumidor não tem por hábito adquirir com muita frequência. Porquê? Porque os suermercados sabem o que cada cliente compra através do cartão que utiliza.

Bem, tudo isto, para afirmar categoricamente que a lei da concorrência é muito bonita, mas os principais beneficiários são os operadores e não so consumidores.

Existe assim uma circulação de clientes de uns para outros operadores, sem que isso origine a produção de mais valor no nosso país, ou seja, a criação de bem transacionáveis nos quais se acrescente valor, para com isso fazer crescer o PIB, o emprego e os rendimentos das pessoas. Por isso, as empresas inovadoras e que apostam em produtos com a criação de valor, são aquelas – poucas – que conseguem fazer aumentar as suas exportações, uma vez que no estrangeiro o consumidor aprecia produtos de valor acrescentado, de qualidade e com componente de inovação, a par de alguma tradição e cultura. Por isso nos é mais fácil vender em Angola, Moçambique e Brasil, do que nos países ricos do norte – funciona aqui o fator cultura. Para entrarmos nos países ricos é necessária a criação de valor e vender produtos de qualidade.

Esta visão tem faltado a muitas das empresas portuguesas. E essa falta de visão prende-se principalmente com a falta de formação de muitos dos nossos empresários, que apenas vêm o imediato e que descuram o futuro e antecipação. A lideraça é por isso fundamental.

O líder deve ser aquele que anda à frente em vez de apenas mandar fazer; é aquele que motiva em vez de criticar; é aquele de democratiza em vez de apenas ordenar; é aquele que discute em vez de pensar que sabe tudo e que as ideias dos outros não servem para nada; é aquele que tenta criar ambientes de trabalho acolhedores, onde se promova o convívio, onde se facilite a vida pessoal do colaborador, onde se dê ao colaborador a liberdade de criar, propor, trabalhe muitas vezes a partir de casa, se isso for possível; o líder é aquele que controla sem ser controlador, é aquele a quem se respeita sem ter que impor respeito, é aquele que respeita os seus compromissos com um sorriso e não com um rosnar. No fundo, é aquele congrega e não divide, que inclui e não afasta, que assimila e não dissipa.

Estou certo que, se muitos dos nossos gestores fossem obrigados a fazer um exame de gestão, de recursos humanos ou de planeamento organizacional, assim como os professores são agora obrigados a fazer exames de prova de competências, muitos deles tinham chumbos redondos, a não ser que arranjassem uma forma de “comprar” o resultado, “meter uma cunha” ou outra qualquer forma de desenrrancanso à portuguesa.