Histórias, lugares e factos – Quando a luz do sol feria seus olhos

Marcos era um rapaz meigo e doce, quando conheceu Débora, apaixonou-se rapidamente. Ela era uma menina romântica e cheia de sonhos. Não demorou muito e Marcos a pediu em namoro. Ela por sua vez, aceitou. E foram aos poucos, conhecendo um ao outro e dividindo suas alegrias, suas tristezas e seus planos. O namoro tornou-se forte e o amor, crescente.
Meses depois, Marcos foi à frente da casa dela, e a pediu em casamento, ali mesmo no portão, sem hesitar. Noivaram, e em meio as diversas idéias e planos para casarem-se, o pai de Marcos ligou, dizendo que surgiu uma oportunidade de irem para Portugal, trabalhar, já que um amigo dele tem uma rede de restaurantes brasileiros lá e estava prestes a abrir um novo restaurante na cidade do Porto. Em meio às conversas, eles resolveram compartilhar com o restante das duas famílias a proposta. Os pais disseram que conhecer a cultura de um país rico como Portugal, seria muito bom para o futuro de ambos. E foi o que fizeram. Organizaram o casamento, às pressas, já que o restaurante inauguraria em poucos meses. Casaram na Igreja e no Civil. Casaram de forma linda e digna. Atribuíram à Deus tudo o que aconteceu. Desde o infinito amor que sentiam, até o casamento que tanto queriam.
Viajaram para Portugal. E quando chegaram lá, em lua de mel, Débora se deu conta de que estavam a um oceano de distância daqueles que amavam. Mas a alegria da lua de mel e as coisas lindas que estavam por vir desviaram um pouco a saudade e os pormenores. Afinal, era uma lua de mel nada mais, nada menos que em Lisboa. Jamais imaginaram que tal coisa pudesse acontecer em suas vidas. Foram ao Oceanário de Lisboa, onde os animais de alto mar são vistos nadando em um ilustre aquário gigante. Visitaram lugares lindos em Lisboa, como o esplêndido Jardim Zoológico, Praça do Império e Sintra, curtindo um ao outro plenamente e de forma inesquecível. Passadas alguns dias, enquanto Marcos dormia, Débora foi à janela observar a noite, as estrelas, e a estação de trem. Um vazio de saudade da família entrou em seu coração, e ela sentiu a distância que estava entre eles. Foi dormir. A lua de mel acabou. Foram seis dias de alegria e emoção. O gerente do restaurante onde Marcos iria trabalhar chegou ao hotel para buscá-los. E os levou a uma casa, onde moravam alguns outros funcionários de um dos restaurantes da rede. Ficariam ali por uma semana, antes de irem para o Porto, onde estava a abrir o novo restaurante, onde Marcos iria trabalhar definitivamente. No outro dia, Marcos começou seu treinamento no restaurante. Dois dias passaram, no terceiro, Débora caiu em desespero, chorou, sozinha em casa, disse que queria voltar para o Brasil. Mas Marcos pediu um pouco de paciência, que tudo ia se resolver, que iriam se acostumar à nova vida, longe de todos. Débora não teve mais condições emocionais para sair de casa, pois sentia-se insegura, afinal, desde que haviam chegado, ela não havia ficado só. O marido ficou preocupado, pois é um país distante do que estava habituados e Débora estava visivelmente abalada psicologicamente. Marcos ia aos treinamentos da empresa contando os minutos para voltar para ver a esposa, que embora o tranqüilizasse, dizendo que estava bem, seus olhos anunciavam outra coisa. Chorava a tarde e a noite. Sentiu medo, já que a porta de seu quarto não tinha chave. Os outros casais que moravam na casa estavam no trabalho. Quando anoiteceu, Débora abriu a janela, e podia ver as luzes das casas da grande Lisboa. Chorou e pensou:
“ – Queria poder ver o rosto dos meus pais em uma daquelas casas distantes”.
Ela não conseguia acreditar que para vê-los, teria que atravessar o oceano. Não era saudade apenas dos pais, mas da sua casa e de seus hábitos. As pessoas ali viviam de um jeito diferente. Dividiam tudo, banheiro, cozinha, casa. Ela não estava acostumada com aquilo, sempre teve sua privacidade de forma plena. Ligou o computador e ficou escutando músicas cristãs, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Orou à Deus pedindo conforto.
Quando Marcos chegou, encontrou a esposa um pouco mais calma e disse à ela que o gerente do restaurante a convidou para passar o dia com a sua esposa, em sua casa, para que ela não se sentisse tão só. No outro dia, ele buscou Marcos para ir ao treinamento, e a levou em sua casa. Logo que entrou, a insegurança a fez querer ir embora. Ficou com medo mas não entendeu porquê e nem de onde ele vinha. Mas tudo o que queria era ficar trancada no quarto da casa em que estavam, sozinha. Ficou durante a tarde com a esposa do Gerente, Alice. As duas se identificaram, pois a moça lhe disse que quando veio morar em Portugal, sentia-se muito mal também, disse que compreendia tudo o que Débora estava sentindo. Ela chorou diante da menina, e disse que tudo estava sendo difícil. Pediu o telefone de Alice emprestado, para falar com a mãe no Brasil. A mãe dela quis saber tudo. Disse, em meio às lagrimas: “Sei pelo que você está passando, é difícil. Senti isso quando casei e vim morar com seu pai em outro lugar. Mas se não der certo aí, você tem a nós, que nunca deixaremos você desamparada. Eu nem tive coragem de mexer em seu quarto. Ele está do jeito que você deixou.”
Débora emocionou-se, e sentiu-se mais forte para ir adiante.
No meio da tarde, no intervalo, Marcos foi buscá-la e a levou para casa. Quando voltou ao trabalho, ela tornou a ligar suas músicas cristãs e orar, entregando à Deus tudo o que estava sentindo. Não sentia vontade de sair de casa. Ouviu o ruído de gato à frente da casa, o que a fez abrir a porta. Quando chegou lá, o gato fugiu com medo, e ela ficou ali, observando a noite, e pensando:
“ – O que será que está acontecendo na minha cidade, na casa de meus pais, neste momento?”
E as lágrimas escorriam de seu rosto. Queria saber quando voltariam a morar no Brasil, cuja resposta somente cabia à Deus.
Apesar das suas aflições, Débora estava convicta de que se acostumaria a viver um tempo longe da sua terra, mesmo que chorasse por um período. Em meio aos seus pensamentos, Marcos chegou cheio de carinho e amor para dar a esposa, e foi correspondido. Ela estava com saudades dele. Compartilhou com ele como havia sido seu dia, o que sentiu. E ele disse à ela que tudo daria certo.
No outro dia, pela manhã, quando Marcos foi trabalhar, Débora levantou-se e foi levar o lixo para fora. Foi quando se deu conta que seus olhos doíam diante da presença do sol. Percebeu o quanto estava permanecendo dentro de casa, insegura de ir para a rua. Voltou para dentro de casa rapidamente, fechou a porta e foi para o quarto. Apesar de dar-se por conta de que não podia ficar dentro de um quarto todo o tempo, sabia que era o único jeito de se sentir um pouco melhor. Pensou em convidar o marido para dar uma volta na rua, mas não conseguia relaxar, não queria passar para ele mais insegurança, então, decidiu permanecer quieta em casa.
Os dias passaram, e eles mudaram-se para o Porto. Aos poucos, Débora começou a acostumar-se com a nova cidade, os novos hábitos, à nova vida. A mudança fez bem, o contacto com a praia, o tempo que estava a passar com o marido, já que ficaria um mês sem trabalhar até abrir o novo restaurante. Marcos disse à ela que tudo iria ficar bem, que aquilo que ela estava a passar era apenas um período de adaptação. Aqueles dias foram revitalizantes para Débora. Ficaram durante todos os dias daquele mês conhecendo lugares e fazendo pequenos passeios. Passados aqueles dias, Marcos começou a trabalhar no novo restaurante, e Débora, a procurar uma oportunidade de trabalho e crescimento profissional. Marcos e Débora encontraram um bom apartamento para arrendarem e morarem a sós, já que a empresa só oferecia residência coletiva. Débora em meio a este tempo, encontrou uma oportunidade de experiência profissional, ao ser a nova colunista de um Jornal do Porto, o que lhe deu muita satisfação. Hoje Marcos e Débora moram em seu apartamento e acostumaram-se à nova vida, e Débora, livrou-se de seus medos e de sua insegurança, retomando sua alegria e sua liberdade, e faz questão de sair de casa e viver tudo o que a vida tem a lhe oferecer.

Crónia de Bárbara Delazeri
Histórias, lugares e factos