A Questão do Paga ou Não Paga

A recente polémica em relação à situação fiscal do Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho, releva-nos diversas características de caráter dos nossos protagonistas políticos da atualidade. Abordaremos aqui toda esta questão do paga ou não paga, tentando ver de todos os lados de forma imparcial, o conteúdo das reações.

1.º Na minha opinião, tudo começa com as declarações da Procuradora Geral da República que recentemente afirmou existir “uma rede no aparelho do Estado”, que eu entendo como “redes”, que minam e favorecem a corrupção no seu interior;

2.º Existem de facto no aparelho do Estado – leia-se funcionalismo público – pessoas de todos os quadrantes e simpatias políticas. Por isso acho que certas pessoas, ligadas a diversos quadrantes, poderão ser tentadas a bisbilhotar a vida privada e fiscal de personalidades públicas, com vista a “venderem” essas informações à comunicação social menos escrupulosa, tirando daí dividendos pessoais (corrupção) ou dividendos político-setoriais (armas de arremesso político);

3.º A prova do que atrás descrevo está já na detenção de alguns funcionários públicos, suspeitos de utilizarem as suas privilegiadas autenticações nas plataformas de governação do Estado, para obterem ilegalmente essas informações que se requereriam sigilosas e que são atentatórias da devassa da vida privada e violadoras do acesso a dados pessoais das pessoas pesquisadas, independemente se são ou não pessoas públicas;

4.º Por outro lado, existe ainda, da parte das individualidades públicamente reconhecidas, da necessidade de se progerem contra esses eventuais ataques. Não haverá nada mais eficaz para cada um se proteger desses eventuais ataques do que: i) não fornecer esses dados; ii) não colocar esses dados em plataformas públicamente acessíveis; iii) ter a sua vida pessoas e fiscal bem resolvida, com vista a que não tenham nada a pontar-lhe;

5.º Neste aspeto, foi onde o cidadão Pedro Passos Coelho (PPC) falhou, uma vez que não possuía a sua vida pessoal e fiscal bem resolvida. Tendo sido desde muito novo um protagonista político, como presidente da JSD, deputado e posteriormente candidato a presidente do PSD e a Primeiro Ministro, não deveria ter deixado pontas soltas “lá atrás” na sua vida pessoal e fiscal para que não pudesse um dia dar de bandeja argumentos aos seus opositores para o atacarem a esse nível, quando não fosse possível – ou fosse difícil – atacá-lo de outra forma;

6.º É possível que PPC se tenha desleixado de pagar a Segurança Social no passado, ou até que tenha deixado isso a cargo de terceiros e tivessem sido esses terceiros a falhar (por exemplo, o contabilista, a esposa, o/a secretário(a), etc.), porém, nunca poderá alegar que desconhecia essa obrigação que existe em Lei desde 1982, ainda mais tendo ocupado os cargos que ocupou. No seu próprio curso de Gestão, com certeza que terá lecionado cadeiras na área da fiscalidade ou contabilidade, que lhe forneciam esse conhecimento;

7.º Alegando ter conhecimento dessa dívida, PPC apressou-se a liquidá-la (resta saber por que não na totalidade), mas ficamos por saber se o fez devido a pressão jornalística ou se o fez em consciência ou ainda, para que eventualmente conseguisse passar “por entre as gotas da chuva” sem ser notada a sua falta. Todos ou muitos de nós já foi multado, já se atrasou a pagar constribuições ou coimas, mas nós somos apenas cidadãos comuns, não uma personalidade que se propos a Primeiro Ministro e que foi protagonista de tanta exigência fiscal e austera ao país;

8.º Da parte dos seus opositores, compreendo que queiram aproveitar a situação para tentar deixar cair a imagem austera, mas séria e honesta que PPC por enquanto ainda possui na maioria da opinião pública, mas que, com este episódio e com a trapalhada das desculpas e ainda mais com a altura em que se passa (a poucos meses de eleições), tudo serve para que a oposição retire popularidade e votos à atual maioria. O que não se compreende é que todos aqueles que atacam [a vida pessoal e fiscal do PM] o tentem fazer sem o mínimo de pudor, como se elees e os seus pares fossem totalmente imaculados, como se não tivesse já existido problemas de irregularidades ou ilegalidades em governantes de todos os partidos, desde o CDS ao BE. São todos uns santos? Nenhum deles tem qualquer mácula? Nunca fizeram qualquer coisa de mal? Todos? Não acredito!

Resumindo: se PPC pagou, fez bem; se ainda não pagou tudo, então que pague tudo; se é preciso dar explicações, que as dê então com a certeza absoluta do que está a afirmar, para não vir a ser apanhado em algumas afirmações contraditórias. Para a oposição, que tenham um pouco mais de pudor, pois penso que nem tudo serve como arma de arremesso político. A vida pessoal de qualquer cidadão é da sua conta e não da conta pública. Como Jesus fez com a mulher que os Judeus lhe apresentaram como pecadora, por ter cometido adultério, que lhes disse: “«aquele que nunca pecou atire-lhe a primeira pedra». Ao ouvirem estas palavras foram saindo dali um a um, a começar pelos mais novos… Jesus levantou-se e perguntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ninguém, Senhor! Respondeu ela. Também eu não te condeno- disse Jesus. Vai e não tornes a pecar.»” Jo 8, 1-11

Eu digo o mesmo!