“A Régua marcava o passo…”

Sérgio anda ao quadro!

Estas palavras nunca deixaram de me causar pânico na escola primária, eu sabia, eu sabia as matérias, mas mesmo assim o nervosismo atacava cada ponto de raciocínio do meu pequeno cérebro!

O giz deslizava suavemente para cima e para baixo sem mais sair do sítio, acompanhado de um “hum, ahhhh, hum!” as mãos suadas, os risos da classe, faziam com que tudo se tornasse pior, cada vez me afundava mais, tipo areia movediça! A professora com falta de paciência, segurava-a na mão! A régua, sinceramente, nunca percebi porque lhe chamavam régua, se a única coisa que aquela porcaria mediu foi o cumprimento das nossas mãos!

Pronto! Pensava eu, Cinco bolos, ouvi eu pela primeira vez. Não me lembro bem quando, mas se não me falha a memória, na 2.º classe! Bolos????

Eram tudo menos bolos! Levar com um toco de madeira, alisado e suavizado pelo tempo e pelas mãos de todos aqueles que tal como eu, levaram “Bolos”, os especialistas, sim porque os havia, putos cujo pão nosso de cada dia era levar os tais bolos, inventavam e diziam-nos as técnicas infalíveis (ou não) para minimizar a dor!

Azeite, esfregar as mãos com azeite para a régua deslizar. Sinceramente nunca experimentei, e duvido que resultasse!

Tirar a mão no momento da reguada! Essa sim, utilizei! Muito! Se bem que o resultado final era sempre o mesmo, em vez de cinco, levava dez e com mais força! Sentava-me na minha velha carteira de dois lugares, cabisbaixo, e a roçar uma mão na outra na esperança que a dormência passasse!

Era engraçado quando o Reitor visitava a escola, a maldita régua era escondida, por baixo de uma tábua de soalho que se soltava, era ali que ela permanecia em quanto o Senhor Reitor visitava as instalações! Quantas vezes pensamos em dizer-lhe, ia ser engraçado, mas não nunca ninguém teve coragem para isso, éramos reguilas mas não loucos!

Com o tempo, e o calejar das mãos tudo se tornou mais fácil, elas caiam mas já não magoavam tanto, cheguei a levar doze em cada mão, não me lembro o porquê mas deve ter sido merecido.

Sabem! Apesar de isto ser uma recordação menos boa, até disto tenho saudades, em que éramos regidos a toco de madeira velho e gasto, era ela, a velha régua que marcava o passo!

Não se esqueçam de recordar e sonhar, porque a vida é feita de sonhos!