A relação mais importante

A relação mais importante que temos na vida é aquela que temos connosco próprios. Basea-se no momento de aceitação em que compreendemos os nossos defeitos e colocamos os pés a caminho para os transformar em virtudes. É esta relação que nos acompanha desde o momento em nascemos até ao último dia das nossas vidas. E não é possível termos outra relação saudável se não soubermos cuidar desta.

Estamos condenados a fazer asneiras. Ora porque arriscamos demais ora porque não o fazemos de todo. E vamos ao chão uma e outra vez. Mas crescemos ao ponto de conseguirmos levantar-nos sozinhos, de entendermos onde falhamos e o porquê de termos falhado. Ficamos cara a cara com um momento que nos faz sentir verdadeiramente adultos, como se tivéssemos crescido quase sem dar por ela. Um momento em que chamam o nosso nome e não há ninguém que nos dê a mão e fale por nós. As nossas palavras são roucas, pesam-nos as pálpebras à força do nervosismo e tremem-nos as mãos sem sítio onde pousarem.

Quando tudo acaba já é de dia. O mundo corre indiferente ao nosso crescimento quase forçado. Somos adultos por muito que vejamos o mundo com olhos de criança. E custam os erros que poderíamos ter evitado, mas crescemos assim. Com tareias emocionais, com palavras duras de quem não nos conhece e que nos define por um pequeno erro. Não há sermões que custem tanto como a desilusão que sentimos connosco próprios. Não chega ouvir alguém dizer “eu avisei-te” ou “devias ter tido mais cuidado”. Nós sabemos disso tudo, ninguém sabe melhor do que nós próprios.

Crescemos sempre com as consequências de decisões tomadas em segundos ou em meses. E não há nada que nos faça crescer tanto como lidar com as coisas sozinhos, prontos a virar o mundo ao contrário para dar a volta à situação. Sem palmadinhas nas costas nem paninhos quentes porque o mundo não pára à espera que nos sintamos adultos. Exige-nos isso assim que possível. Resta-nos estar à altura e prometer a nós mesmos que nunca mais nos olharemos ao espelho com os olhos cheios de desilusão. Um dia havemos de olhar para trás e pensar: “fiz asneira, mas cresci e fui à luta”.

BárbaraBorralhoLogoCrónica de Bárbara Borralho
Riso sem siso