Reportagem Nos Primavera Sound 2015

Chegou ao fim mais uma edição do Nos Primavera Sound, este ano o festival decorreu nos dias 4, 5 e 6 de Junho, segundo a organização foi batido o recorde de assistência, pelo recinto passaram mais de 77 mil pessoas, durante os três dias, o mais concorrido foi o segundo, muito provavelmente pelo concerto de Patti Smith. Como não podia deixar de ser conto-lhe tudo, saiba quais os melhores concertos a que assisti. Refiro, que tal como qualquer festivaleiro, tive que fazer escolhas, não sendo possível devido às sobreposições de horários, assistir a todos os concertos que gostaria. Ficamos com a “reportagem do primeiro dia”.

1.º Dia – 4 de Junho

 Cinerama (17:55, palco Nos) – banda inglesa de indie pop, contaram com pouco público, no entanto afirmaram ser divertido tocar a meio do dia, concerto não deslumbrante mas empenhado e com uma sonoridade agradável, adequada à hora do dia, de referir que é a terceira visita a Portugal, tendo tocado sempre no Porto.

Mikal Cronin (18:50, palco Super Bock) – cantor e compositor americano de indie-rock, protagonizou o primeiro concerto digno de registo neste Primavera Sound, entusiasmo, muito empenho e o público em perfeita sintonia.

Mac DeMarco (20:00, palco Nos) – singer-songwriter canadiano, editou no ano passado um dos melhores discos do ano, Salad Days, apresentou-se no Porto divertido, irreverente e energético (Porto!Porto!Porto!), interagia com o público, protagonizou um concerto que ficará na memória e que teve desde stage diving até um final de concerto com nádegas expostas perante uma plateia entusiasmada. À mesma hora Patti Smith era recebida de forma calorosa no palco Pitchfork, para um concerto acústico ao qual não assisti, no entanto o encontro com a lenda viva está marcado para o segundo dia do festival, no qual subirá ao palco principal.

FKA Twigs (21:10, palco Super Bock) – um dos concertos mais aguardados de todo o festival e um dos poucos nomes presentes na edição do Porto e que não estiveram no vizinho Primavera Sound Barcelona. Tahliah Barnett, estreou-se nos LP’s em 2014 com LP1 que obteve o título de melhor álbum do ano para diversas publicações musicais sendo que este concerto marcou a estreia em Portugal. Foi recebida com euforia por alguns fãs mais acérrimos, cantou, dançou, espalhou sensualidade e encantou. O momento alto foi “Two Weeks”, single que tem rodado com regularidade em algumas rádios especializadas, concluímos que foi um bom concerto, no entanto não foi deslumbrante e não terá conquistado os mais cépticos mas não defraudou em nada quem já estava há muito conquistado por ela.

Interpol (22:20, palco Nos) – a banda liderada por Paul Banks era um dos cabeças de cartaz, no entanto não conseguiram conquistar o público que se reuniu em grande número junto ao palco principal, mostrando-se desconhecedor de grande parte da obra musical da banda americana de indie rock. Após diversos concertos em Portugal, ficou mais uma vez comprovado que os seus concertos resultam muito melhor em sala fechada, porque não deixa de ser um concerto intimista e introspectivo apesar de todos os singles “orelhudos” que lhes conhecemos. A setlist percorreu alguns dos seus maiores êxitos, os pontos altos ficaram a cargo de “Slow Hands” e “All The Rage Back Home”. Será que foi um mau concerto? Não de todo, os Interpol não sabem dar maus concertos, foi um excelente concerto até porque são todos excelentes músicos, não conseguiram a resposta efusiva por parte de todo o público presente mas não desiludiram os fãs.

Caribou (01:10, palco Nos), o compositor canadiano de seu verdadeiro nome Daniel Snaith, encerrou o palco principal com um concerto mediano, que só a espaços conseguiu por o público a dançar, nota-se alguma incoerência nas suas músicas, se algumas são monótonas e pouco entusiasmantes, outras há em que é difícil ficar parado, como seria de esperar os momentos altos foram “Odessa” e “Can’t do Without You”.

2.º Dia – 5 de Junho

Ao segundo dia do Nos Primavera Sound Porto, todos os quatro palcos estiveram a funcionar em pleno, o destaque óbvio deste dia ia para Patti Smith que interpretava na íntegra o disco de estreia Horses, editado em 1975, no entanto este era também o dia de subirem ao palco os Belle and Sebastian, os The Replacements e Antony and the Johnsons, que teve direito a algo nunca visto, foi o único concerto a decorrer aquela hora, como consequência tínhamos à 1:40 da manhã, três concertos com início em simultâneo: Run The Jewels, Ariel Pink e JUNGLE, a escolha recaiu sobre JUNGLE, mas sobre esse concerto falarei mais à frente.

Banda do Mar (17:00, palco Nos) – o projecto luso brasileiro composto por Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Fred Ferreira, abriu o palco principal, ainda com muito sol, público deitado na relva a saborear a voz doce de Mallu em contraste com a voz poderosa de Marcelo, o concerto conquistou quem assistia, muita simpatia, bela interacção com o público e músicas que convidam a sonhar e a experimentar uns toques de “sambinha bom”.

Yasmine Hamdan (17:35, palco ATP) – cantora e compositora libanesa que mistura os sons árabes com a electrónica, mistura interessante mas que precisa ser ouvida com mais atenção, devido à estranheza inicial. Como seria de esperar o concerto não cativou o público que desconhecia na sua grande maioria o trabalho de Yasmine.

Giant Sand (17:55, palco Super Bock) – mítica banda americana de rock alternativo, liderada pelo carismático Howe Gelb, contam com aproximadamente três décadas de existência, e essa experiência nota-se bem na cumplicidade existente em palco e na qualidade dos músicos, existe alguma intensidade e obscuridade no som que advém dos anos e anos de carreira, o concerto esteve longe de ser hipnotizante e deslumbrante mas foi sem sombra de dúvida intenso.

Viet Cong (18:45, palco ATP) – banda canadiana de post-punk, que editou recentemente o disco homónimo de estreia. O concerto foi curto, sombrio e pouco intenso, talvez a maior desilusão deste festival. As músicas reproduzidas ao vivo perdem alguma da intensidade que adquirem em álbum, o momento alto foi sem surpresas “Continental Shelf”, a música mais conhecida deste colectivo e que será um dos grandes sons deste ano.

Patti Smith and Band (19:00, palco Nos) – enchente no palco principal, público de diversas idades, mas nota-se a presença de grande franja de pessoas já com muitos cabelos brancos. O motivo desta enchente era só um: Patti Smith a lenda viva do punk rock de regresso a Portugal, e que regresso. Provavelmente o concerto mais aguardado do festival e provavelmente o melhor concerto deste Primavera Sound, um concerto que ficará na memória de todos e que perdurará para sempre como um dos melhores a que a cidade do Porto já assistiu. Aos 68 anos, Patricia Lee Smith, mantém a voz em excelentes condições, mas um concerto não é apenas voz, é entrega, sentimento, emoção e atitude e Patti Smith deu-nos isso tudo e muito mais. Ela declamou, cuspiu, gritou, cantou, interpretou, incentivou o poder do povo e dedicou músicas aos malogrados Jim Morrison, Sid Vicious, Jimi Hendrix, Lou Reed, Joe Strummer e Johnny, Joey e Dee Dee Ramone entre outros e no final arrebatou-nos e emocionou-nos, algo que só uma artista com a sua longa carreira seria capaz. O momento alto foi “Gloria” cantada a plenos pulmões por público e por Patti. No entanto é difícil destacar apenas um momento de um concerto que foi memorável. Começou o concerto em grande com “Gloria”, seguiram-se “Redondo Beach”, Birdland”, Free Money”, “Kimberly”, “Break It Up”, “Land – Horses+Land of a Thousand Dances+La Mer(de)+Gloria”, “Elegie”. Saiu do palco e regressou após tamanha ovação para um encore glorioso com “Because The Night” e despediu-se ao som de “People Have the Power”.

José González (20:10, palco Super Bock) – não era fácil para ninguém cantar a seguir a Patti Smith, mas José González, não se intimidou e teve direito a uma moldura humana considerável no palco secundário, o concerto foi intimista q.b. porque não nos podemos esquecer que estamos num festival de música, ou seja um concerto acústico funciona sempre muito melhor numa sala fechada, ou num concerto em nome próprio. O cantor e compositor sueco tem do seu lado o facto de possuir diversos singles conhecidos, alguns dos quais fizeram campanhas publicitárias, o concerto conseguiu aquecer alguns corações apaixonados mas também se revelou perfeito para o grupo de conversadores que assolam os festivais.

The Replacements (21:20, palco Nos) – banda histórica proveniente dos Estado Unidos da América, são considerados por muitos como uns dos percursores do rock alternativo, fundados em 1979, (já se separaram e reuniram algumas vezes sendo que a última reunião ocorreu em 2012 e dura até à actualidade) o que permitiu a passagem pelo Parque da Cidade no Porto. Apesar de não serem uma banda reconhecida em Portugal e de nunca terem alcançado o verdadeiro reconhecimento no nosso país, proporcionaram um excelente concerto, com  muito rock, muito talento, muita energia e provaram que se encontram em alta rotação. Foi, no entanto, com alguma surpresa que anunciaram neste dia que este seria o último concerto ao vivo, sorte para quem os viu e pena para quem perdeu este belo concerto.

Belle and Sebastian (23:00, palco Super Bock) – Stuart Murdoch e os seus Belle and Sebastian (ao todo eram treze músicos em palco) deram um dos melhores concertos do festival. Logo no início o carismático líder e vocalista avisava num português arranhado: “Esta noite vamos ter festa” e tivemos de facto uma grande festa, é necessário antes de mais tirar o chapéu a uma banda que se soube reinventar nos últimos anos, nunca perderam a sua essência mas adaptaram-se aos tempos modernos. Na bagagem traziam o último e belíssimo disco Girls in Peacetime Want to Dance e defenderam-no com mestria, foi um concerto energético, sem momentos baixos, visualmente apelativo, e Stuart Murdoch é um autêntico mestre de cerimónias. Momento alto? Foram muitos, por exemplo: “Nobody’s Empire”, “The Party Line” e “The Boy With the Arab Strap” onde convidaram o público a subir ao palco e juntar-se à festa.

Antony and the Johnsons (00:15, palco Nos) – Antony Hegarty, regressou ao nosso país para proporcionar um dos concertos que mais dividiu opiniões neste festival, se houve quem ficasse indiferente, e reagi-se com estranheza, e até algum desrespeito, houve quem tivesse adorado, eu fui daqueles que adorou. Concerto imaculado e mais um para figurar nos melhores deste festival. Acompanhado por orquestra, o carismático Antony ofereceu um concerto teatral, repleto de sentimento, onde o próprio se fez apresentar com uma túnica branca personificando em si, e na sua voz uma carga angelical, de referir que a sua voz esteve imaculada, numa contenção que emociona e nos transporta para outro lugar bem distante de um festival de verão, ficamos com a sensação que não ouvimos mesmo assim metade do seu alcance vocal. É certo que o concerto era tudo menos festivaleiro, mas também não há razão para não educar um público para um tipo diferente de música, interpretada por uma grande voz acompanhada por uma enorme orquestra composta por pessoas que realmente estudam música. Momento alto: todo o concerto, no entanto “Blind”, retirada da sua colaboração com os Hercules and Love Affair recebeu a maior resposta por parte do público, que já tinha ouvido “aquilo em algum algo”. O único senão vai inteiramente para alguns integrantes do público que demonstram uma enorme falta de respeito para com aqueles que querem assistir a um concerto e pelo qual pagaram um bilhete, que não é barato e se deslocam a um festival de verão para ouvir música e assistir a concertos. Essa falta de respeito e de civismo demonstram-na estando um concerto inteiro a conversar e muitas vezes de costas para o palco, nada contra quem não gosta ou não aprecia artista x,y ou z, mas simplesmente senão gostam afastem-se e dirijam-se por exemplo para a zona de refeições e não incomodem os outros.

JUNGLE (01:40, palco Super Bock) – Eu tinha avisado que seria um concerto imperdível e de facto foi. Os JUNGLE de facto “partiram tudo”! Antes de mais refiro que à mesma hora começavam mais dois concertos aguardados, o dos Run the Jewels e o de Ariel Pink, devido à sobreposição de horários optei por JUNGLE e não estou nada arrependido. Projecto musical londrino que editou o auspicioso disco de estreia em 2014, e que foi uma autêntica “pedrada no charco” na música actual, a soul moderna com resquícios de anos 70, convida à dança, se havia alguns cépticos, e algumas dúvidas em relação ao potencial ao vivo, as mesmas ficaram desfeitas e ninguém ficou indiferente. O palco secundário teve aqui uma das suas maiores enchentes, e o público reagiu em êxtase saltando, cantando e dançando sem parar até altas horas, que bem se enquadraram os JUNGLE a esta hora, onde habitualmente a opção é limitada. Sem dúvidas, os JUNGLE vieram para ficar. Momento alto: “Busy Earnin’”, o concerto acabou e o público saiu a cantar: “You think that all your time is used To BUSY EARNIN’ You can’t get enough”

Movement (03:00, palco Pitchfork) – uma agradável surpresa, talvez devido ao meu desconhecimento relativamente a este projecto musical proveniente da Austrália e composto por Jesse James Ward (voz e baixo), Lewis Wade (voz e teclas) e Sean Walker (bateria). A sua música seduz-nos como a noite e vem carregada de uma carga obscura, que nos convida e incentiva a dançar subtilmente ao som dos ritmos nocturnos, será com certeza uma banda que merecerá atenção futura.

3.º Dia – 6 de Junho

 O terceiro e último dia de festival contava com algumas actuações muito aguardadas, entre elas o destaque ia para a última digressão dos Foxygen, a estreia dos Death Cab for Cutie, Damien Rice e Ride, entre outros.

Manuel Cruz (17:30, palco Super Bock) – mais uma vez o dia começou em português e começou muito bem, o músico portuense apresentou um concerto fundamentalmente em formato experimental, como já nos vem habituando. Apresentou canções novas e percorreu músicas de Pluto, Supernada e Foge Foge Bandido, de fora ficaram como seria de esperar as canções dos Ornatos Violeta. A assistir ao concerto, notava-se a presença do Presidente da Câmara do Porto, que aplaudiu a “prata da casa”.

Baxter Dury (18:40, palco Nos) – a inauguração do palco principal no último dia ficou a cargo de Baxter Dury, músico independente inglês actualmente com 43 anos e uma carreira cimentada, ao vivo a sua música é descontraída e despretensiosa e bem disposta, a sua postura essa é interactiva e às vezes provocadora, um misto entre Stuart Staples (Tindersticks) e Jarvis Cocker (Pulp).

Foxygen (19:50, palco Super Bock) –o mês passado tinha também destacado este concerto como um dos imperdíveis nesta edição, e na verdade superou todas as expectativas, segundo a própria banda esta será a última digressão antes do fim da banda. Os Foxygen, são um duo de indie rock americano que ao vivo se apresentam em formato banda e contam até com três vozes femininas de suporte que são muito mais do que vozes de apoio, são bailarinas e participam no teatro montado. Ao vivo a banda assume o concerto como um espécie de circo musical, onde há direito a interpretações, dramatizações e muito arrojo. O vocalista Sam France é imparável, é um louco à solta e faz de tudo um pouco: atira-se para o chão, despe-se, provoca, instaura um caos em palco, navega em cima do público, simula brigas com os restantes elementos da banda e a própria banda simula discussões, havendo mesmo espaço para um espectáculo de espadachim. Parece estranho? E é, é bem estranho, mas cativante e é impossível ficar indiferente. Não há como não nos lembrarmos dos Rolling Stones e de Mick Jagger se este actualmente tivesse vinte e poucos anos. Se for verdade o fim da banda, até sempre Foxygen e obrigado por este espectáculo.

Damien Rice (21:00, palco Nos) – um dos concertos mais aguardados e não desiludiu, posso descrever Damien numa só palavra: GENIAL. Infelizmente mais uma vez houve público que aproveitou a calma do momento para por a conversa em dia e perturbar este momento único. Damien Rice enfrenta o maior palco do festival, sozinho com apenas uma guitarra e um pedal de Loop (onde grava sons de instrumentos e voz, e posteriormente os mistura) e não é preciso mais nada. O cenário era idílico, e Damien é mágico, poucos sabem mas esta foi a segunda visita de Damien ao nosso país após em 2003 ter feito a primeira parte de Lamb no Pavilhão Atlântico (há muito que o público português ansiava por uma visita deste cantor e compositor irlandês). Ao vivo a voz não tem falhas, parece que estamos a ouvir um disco gravado em estúdio, o repertório esse como seria de esperar devido à falta de tempo deixou alguns êxitos para trás tais como: “Amie”, “Cold Water”, “Volcano”, “Coconut Skins” e o fabuloso single do último disco “I Don’t Want to Change You”. Assim sendo o concerto iniciou ao som de “Delicate”, e passou por “Cannonball”, “9 Crimes”, “The Box”, “I Remember”, “Elephant”, “Trusty and True” e “The Great Bastard”, a seguir a tão aguardada “The Blower’s Daughter” cantada em uníssono e para terminar, Damien guardou o melhor para o fim com “It Takes a Lot to Know a Man”, o momento alto de um concerto inesquecível, que teve direito a um final “BRUTAL”. Continuo a aguardar ansiosamente um concerto em nome próprio em sala fechada.

Death Cab for Cutie (22:10, palco Super Bock) – finalmente a tão aguardada estreia em Portugal dos míticos Death Cab for Cutie. A enchente junto ao palco secundário não enganava, este tratava-se de um dos concertos mais esperados e muito provavelmente merecedor do palco principal. Ninguém entende o porquê de ter demorado tanto a estreia no nosso país, mas o Death Cab for Cutie fizeram questão de relembrar que deveriam ter tocado neste mesmo festival na primeira edição, concerto esse que acabou por ser cancelado devido às condições atmosféricas. A banda afirmou estar muito feliz por estar a tocar neste festival, enalteceram a beleza da cidade e afirmaram que andaram a passear uma semana de carro pelo Porto. Mas do concerto propriamente dito, o que temos a dizer é que foi magnífico, de certeza que não fizeram novos fãs, mas também não era esse o objectivo, mas sim proporcionar aos fãs de sempre, que cresceram a ouvir a música alternativa do Death Cab for Cutie, o prazer de finalmente os ver ao vivo e cantarem todas as músicas a uma só voz. O repertório percorreu os mais de 15 anos de existência da banda com especial atenção para o novíssimo Kintsugi, editado este ano. Não faltaram os êxitos “Soul Meets Body”, “I Will Possess your Heart” e “You Are a Tourist”, bem como o mais recente “Black Sun”.

Ex Hex (22:30, palco Pitchfork) – foram a razão para não ter assistido ao final do concerto dos Death Cab for Cutie, e foi muito bem empregue o tempo despendido para ver e ouvir o trio americano de punk rock no feminino Ex Hex, ao vivo são explosivas e incendiárias, a música é curta e vai directa ao assunto sem rodeios nem meias palavras, usam e abusam das guitarras e dos riffs e são uma das surpresas agradáveis deste festival. A banda liderada por Mary Timon, teve que lidar com a concorrência de Death Cab for Cutie e Einstürzende Neubauten e mesmo assim conseguiram uma moldura humana respeitável que ficou rendida a estas senhoras.

Ride (23:20, palco Nos) – cabeças de cartaz deste último dia, os Ride são uma mítica banda inglesa de rock alternativo, fundada em 1988 e que foram um dos percursores de um movimento que viria a desencadear a Brit Pop, sendo que até já se separaram e reuniram um par de vezes (a última reunião aconteceu no ano passado). O concerto foi competente e coeso, mas não deslumbrou, muito por força do facto de nunca terem alcançado em Portugal o sucesso e reconhecimento que obtiveram na sua terra natal. Não são caso único, e fazem lembrar o que sucede com The Libertines e The Stone Roses, que tiveram nos últimos anos passagens discretas pelo nosso país, (discretas mas não insignificantes, entenda-se, até porque no ano transacto os The Libertines deram um enorme concerto no Nos Alive, mas que passou ao lado de grande parte do público). Esta noite aconteceu o mesmo com os Ride, que receberam de grande parte do público, indiferença, no entanto não podemos afirmar que tenha sido um mau concerto, muito pelo contrário, os Ride provaram que se encontram em excelente forma e não será completamente descabido imaginar que pode estar a caminho disco novo.

The New Pornographers (00:35, palco ATP) – a banda canadiana de indie rock teve direito a uma das maiores enchentes que se viu no palco ATP, e não desiludiram os inúmeros fãs e curiosos que acorreram em massa. Consigo traziam o último disco editado em 2014 Brill Bruisers, que recebeu críticas extremamente positivas. Ao vivo são competentes, não comprometem e completam tudo com um empenho assinalável. O concerto foi, no entanto, prejudicado pela electrónica ruidosa com décibeis acima do aceitável que Dan Deacon descarregava pela mesma hora no Palco Super Bock e que levou à histeria do público presente, no entanto prejudicou significativamente quem queria apreciar apenas uma concerto de cada vez e neste caso concreto os The New Pornographers.

Underworld (01:35, palco Nos) – o duo inglês de música electrónica, apresentou na íntegra o disco de 1994, dubnobasswithmyheadman, percorreram o tecnho e a house progressiva e talvez tenham sido uma das maiores desilusões apresentando um concerto pouco coeso, que só a espaços conseguiu a devida reacção por parte do público. Alternaram o morno com o quente, mas só no final conseguiram “incendiar e queimar” o público com o hino que toda as pessoas queriam ouvir “Born Slippy” e que fez parte da banda sonora do filme Trainspotting. Foi um final épico para um concerto que só por momentos entusiasmou.

HEALTH (02:45, palco Pitchfork) – noise rock americano, os HEALTH, encerraram o nosso festival não com chave de ouro, mas com chave de prata, esperava mais, mas não fiquei completamente desiludido, pareceu-me no entanto que o som do palco Pitchfork, nem sempre era o mais nítido possível o que pode ter influenciado a perspectiva. Os HEALTH preparam-se para editar novo disco em Agosto, Death Magic, e algumas das novidades foram ouvidas esta noite, como por exemplo a nova “New Coke”.

Chegou ao fim mais uma edição do Primavera Sound, que este ano bateu o recorde de assistência, o evento regressa em 2016 à cidade invicta e já tem datas marcadas: 9, 10 e 11 de Junho e manterá a ligação à Nos e à Câmara Municipal do Porto. Há muito que o Porto precisava de um festival assim, que se vem assumindo ano após ano como o paraíso da música alternativa. Aproveito para dar os parabéns à organização pelo excelente trabalho desenvolvido e melhorias que se vão notando. Este é sem dúvida um festival que merece ser visitado e sentido.

Volto no próximo mês até lá não se esqueçam de ouvir boa música…