A Republica Popular da China na Lua – José Ligeiro

Enquanto falava com uns amigos sobre o futuro da exploração espacial humana e as guerras constantes que nos estão sempre a abranger e a prejudicar o futuro, um deles mencionou a chegada de um rover da Republica Popular da China (RPC) à Lua no Sábado, dia 15 deste mês.

Não era um assunto estranho para mim, pois sabia que estava para acontecer por um destes dias, mas confesso que não estava a acompanhar, apesar do devido respeito que os cidadãos e cientistas que a RPC me merece.

Quando cheguei a casa, procurei de imediato informações sobre este evento científico. Pela net dizia-se que a sonda da RPC de nome “Chang’E 3”, nome na mitologia chinesa em homenagem a uma lenda tradicional oriental e que segundo a qual uma deusa com esse nome habita a Lua, pousou na cratera lunar Sinus Iridum, transformando este país asiático no terceiro, logo após Estados Unidos e União Soviética, a conseguir uma alunagem controlada e bem-sucedida 37 anos e quatro meses depois da anterior. O último pouso controlado de uma nave na Lua foi a da sonda soviética Luna 24 no dia 18 de agosto de 1976.

A “Chang’E 3” fora lançada no dia 2 de Dezembro e pousou com sucesso às 13h12, hora de Lisboa. Toda a manobra, transmitida ao vivo pelos vários canais da televisão estatal chinesa, durou cerca de 12 minutos, mostrando o aparelho que descreveu uma parábola até se situar a cerca de 100 metros da superfície, momento no qual planou suavemente até pousar quase sem levantar poeira lunar.

A zona de alunagem, a cratera Sinus Iridum, foi escolhida devido a sua superfície plana que facilita as comunicações e para que o rover lunar “Yutu”, coelho de Jade e um símbolo de amabilidade, pureza e agilidade, receba luz solar suficiente para carregar as suas baterias. Este pesa cerca de 140 quilos e foi concebido para suportar as mudanças drásticas de temperatura na superfície lunar. Sua missão deverá durar cerca de três meses.

O local foi escolhido por se tratar de uma área da Lua ainda não explorada in loco. Este rover é parecido com os que foram lançados para Marte pelos EUA e até a sua função é quase idêntica. Exploração é a palavra de ordem.

A RPC lançou sua primeira sonda lunar, a Chang’E 1, em Outubro de 2007 Tinha uma massa de 2350 kg, uma capacidade de carga de 130 kg e transportava um total de 24 equipamentos científicos. Durante a missão a nave transmitiu um total de 175 gigabytes de dados. A segunda, a Chang’E 2, foi equipada da mesma forma, mas com equipamentos mais recentes e lançada em Outubro de 2010. Ambas fizeram apenas trabalho de orbita, não lançando nenhum aparelho à superfície e durante meses recolheram imagens e informações. Terminado seu período de actividade, caíram na superfície lunar de acordo com o previsto.

Seguidamente será lançada a Chang’E 4 em 2015 e a Chang’E 5 em 2017, que completarão a terceira fase do programa. A última deverá conseguir retornar à Terra. Ambas têm as mesmas características desta, mas também com equipamento melhorado. Para além das sondas, fala-se sem uma data fixa para isso, embora se espere que seja por volta de 2020, da possibilidade de ter uma base espacial permanente na superfície lunar.

Até agora, os EUA são o único país que conseguiu enviar astronautas à Lua, a primeira vez em Julho de 1969 e a ultima em Dezembro de 1972 com as missões do programa Apolo. Nos anos 80, tanto os EUA como a Rússia abandonaram totalmente os voos lunares e embora tenham sido retomados nos 90, década na qual o Japão se uniu à corrida da exploração lunar, todas as sondas enviadas desde então não realizaram alunagens suaves, fazendo impactos contra a Lua lembrando as velhas sondas Ranger dos EUA.

Na mesma conversa, acabamos a concluir que futuramente, quando a primeira base lunar da RPC existir e for devidamente apetrechada para o comum dos mortais, as primeiras lojas serão equipadas com ferramentas, roupas apertadas e cheias de lantejoulas, lâmpadas que duram três dias e artigos de cozinha. Esperemos que o programa espacial deles seja melhor que alguns dos seus artigos…

Caros leitores, deixem que vos diga que é tudo natural e sem espinhas.

JoséLigeiroLogoCrónica de José Ligeiro
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