A retrete ( ainda ) é um lugar sagrado

A certa altura da consulta, a psicóloga comentou: “Já reparei que a mãe tem uma veia humorística, use-a para educar e manobrar os seus filhos, por vezes é o que resulta melhor, conversar a serio, mas também com algum humor”. Saí da consulta a sentir-me a melhor mãe do mundo, valeu a pena os setenta e cinco euros que gastei.

Sou mãe de dois meninos, cinco e dez anos, nestas idades os putos são chatos, insolentes e rabugentos, e é também nesta altura que a retrete ganha um grande destaque na vida de uma mãe. A casa-de-banho é a divisão da casa mais importante para uma mãe, sim, nós precisamos do quarto para dormir, da cozinha para cozinhar, da sala para ver televisão, da marquise para fumar um cigarro ( não se preocupem leitores, eu não fumo, sou uma gaja sem vícios, para já ), mas a casa-de-banho é sagrada. Lugar sagrado e de culto, não serve só para chorar no chão de cansaço, enquanto se puxa o rolo do papel higiénico para limpar o ranho e as lágrimas, não serve só para tomar banho enquanto aquecemos o corpo a pensar no vizinho, não serve só para as famosas rapidinhas no lavatório, serve, principalmente, para as nossas necessidades primarias, são os nossos cinco minutos de sossego, onde cagamos à vontade, damos uma olhadela ao facebook daquele colega gato do escritório, ou uma espreitadela no facebook da “bitch” rival, cinco minutos onde podemos respirar, não ouvir o barulho irritante da televisão no canal dos desenhos animados, cujas falas já sabemos de cor e salteado, cinco minutos que não gritamos com os chavalos só porque eles andam a fazer do sofá um escorrega, e acabaram de partir o vaso que a rica sogra nos tinha dado no Natal. Cinco minutos…ou talvez não. Eu assumo, eu assumo perante os milhares de leitores que seguem rigorosamente as minhas crónicas que…eu não posso cagar à vontade em minha casa! O que significa que, de 24 horas que o dia tem, se eu não tenho cinco minutos para respirar, então vou morrer cedo, na minha lapide será escrito: “Sandra Castro, um doce de mulher, seus filhos e pais bla bla bla saudades, morreu aos 35 anos porque não conseguia obrar”. A retrete é o meu refúgio, a minha salvação depois de um dia exaustivo, mas sempre que me sento na sanita e fecho a maldita porta, não tenho sossego. “Mãe, o mano bateu-me”, “mãe, tenho sede”, pior, “mãe, quero fazer cocô”. Rais parta o miúdo, maldita a hora que escolhi uma casa só com uma casa-de-banho, vou lhes dizer para irem cagar ao quintal dos vizinhos! Mas, espera, de que adianta isso, até podias ter dez casas de banho cheias de gumbolls e homens aranhas nas paredes, inclusive sanitas com playstation incorporadas, que era na porta da casa de banho que tu estás que eles vão bater, afinal, casas de banho há muitas, mãe há só uma.

Como disse a mãe de Bridget Jones no filme Bridget Jones“Honestamente, ter filhos não é assim tão bom. Se tivesse outra oportunidade, não sei se teria.”