Revolução no viaduto – Francisco Capelo

Para os mais distraídos destas coisas das artes, “Revolução no viaduto” é uma das mais célebres obras desse gigante incontestado da arte moderna que é Paul Klee, mestre da imaginação e criador de um mundo que é inevitavelmente “o museu completo do sonho”.

Klee foi perseguido pelos nazis, acusado de ser judeu e colocado na lista negra da também célebre – mas pelos piores motivos – “arte degenerada”, classificação que esses parentes pobres da humanidade acharam por bem criar para lá despejarem tudo o que não queriam que acontecesse na arte moderna.

Ora, nesta pintura um viaduto “revolta-se” contra o seu próprio destino de fila- indiana- de- meras- colunas, e, cada uma por si, cada uma dessas colunas apresenta-se com uma cor diferente das demais e avança em direcção ao espectador, como se de um indivídio com alma e vontade própria se tratasse.

Vem isto agora a propósito do seguidismo da moda das praxes e da vontade pouca dos praxados em fazer algo diferente do que ser humilhado em praça pública sabe-se lá porque diabo.
Bom. Vamos lá a ver então o que se passa aqui.

Faltam ao movimento associativo universitário duas coisas principais:

. descomprometimento político (a associação de estudantes é sempre da cor da oposição, dê por onde der, neste país à beira- mar plantado…)

. e um ideal a seguir.

Quanto ao primeiro ponto, há que ter um pouco de vergonha na cara por parte das juventudes partidárias e um pouco mais de participação democrática nos órgãos internos das universidades por parte dos seus alunos.

Quanto ao segundo assunto, o melhor mesmo é desistir de embandeirar em arco por causa das propinas (péssima coisa em termos da representatividade das preocupações estudantis) e estudar qualquer coisita no que diz respeito à Bauhaus, um dos poucos instrumentos democráticos que o ensino ocidental apresentou ao mundo no século XX – e que surgiu nesse mesmo ninho de vespas chamado 3º Reich que proibiu Klee de lá ensinar…

De facto, além de ter herdado a polémica arte/ artesanato versus massificação industrial, esta instituição pregou (no deserto?) a liberdade criativa total dos alunos no que diz respeito às matérias e influências a aprender e também uma relação estudante – professor totalmente distinta das nossas fábricas de licenciados actuais, onde cada um repete a voz do supremo líder conjuntural, vulgo prof.

Pode mesmo dizer-se que Joseph Beuys muito terá aprendido com este exemplo de pedagogia, na sua posterior acção revolucionária do ensino artístico na Universidade de Dusseldorf.

Para concluir assunto tão espinhoso, resta acrescentar que o esvaziamento do movimento estudantil é atribuível em primeiro lugar ao relaxamento juvenil dos seus líderes; eles pura e simplesmente não tiveram o tipo de conteúdos curriculares ligados à História das Artes Visuais que lhes permitiriam agora alavancar a sua acção com essas referências culturais que formaram as vanguardas do Século XX.

TENHO DITO.

FranciscoCapeloLogoCrónica de Francisco Capelo
O Suspeito do Costume
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