Rodrigo Leão – O Aniversário (Review)

Rodrigo Leão celebrou 25 anos de carreira com cinco concertos repartidos pelo Coliseu do Porto e Coliseu de Lisboa. Apenas salas conceituadas como estas teriam capacidade de acolher um espetáculo tão completo como “O Aniversário” numa data tão importante para o músico.

O Ideias e Opiniões já lhe tinha revelado alguns factos sobre Rodrigo Leão, por isso o que faltava? Marcar presença no Coliseu de Lisboa e contar-lhe tudo, claro! Estivemos num dos três concertos de “O Aniversário” na capital e se não esteve por lá, é caso para se arrepender porque será certamente um daqueles que fica na memória por muito tempo.

Francisco Sales

A primeira parte esteve a cabo da jovem promessa nacional Francisco Sales. O guitarrista surpreendeu o público e não deixou ninguém indiferente pela variedade sonora que ofereceu, algo incrível para quem transportava consigo apenas uma guitarra e sintetizadores conjugados de forma perspicaz. Conhecíamos apenas um ou outro single mas ficámos rendidos com esta amostra ao vivo, e até com vontade de o ver a solo. A opção não poderia ter sido mais acertada.

Francisco Sales envolveu a plateia, abrindo de forma subtil as portas para aquilo que aí vinha: um concerto brilhante de Rodrigo Leão iluminado com os músicos e vozes que o vêm acompanhando há muito.

Na composição inicial estiveram João Eleutério no teclado, baixo, melódica e outros instrumentos; Marco Alves no trombone e metalofone; Bruno Silva com a viola de arco; Carlos Gomes no violoncelo e Viviena Tupikova no teclado e violino, sempre exemplar. Algumas músicas depois surgiu Celina da Piedade, que ficou até ao final com o seu mítico acordeão, sempre tocado de forma sublime.

Algumas músicas contaram também com a voz íntegra e robusta de Ana Vieira, a voz angelical de Ângela Silva e a voz irrepreensível de Selma Uamusse, tudo nomes que já conhecemos dos trabalhos de Rodrigo Leão e que nunca desiludem.

Selma Uamusse

Durante cerca de hora e meia de concerto foi possível revisitar temas que marcaram o início de carreira como “Ave Mundi” ou “Carpe Diem” de 1996. Foi também possível ouvir “Imortal”, “A Corda”, “Rosa”, “Cinema”, “Histórias”, “Lonely Carousel”, “Vida Tão Estranha”, “Melancolia” ou “Solitude”. Foram ainda tocados temas vibrantes como “La Fête” e “A Comédia de Deus”, que nos fazem bater o pé. Para encerrar ficou guardado o tão adorado e enérgico “Pasíon”. Um resumo perfeito desta autêntica viagem que todo um Coliseu fez em conjunto.

Rodrigo Leão tem a particularidade de proporcionar um concerto em que não é necessário, ou por vezes possível, estar a olhar para o palco. Há temas que quase nos obrigam a fechar os olhos e deixar-nos levar para outra dimensão, permitindo-nos sonhar, viajar, sentirmo-nos sós ainda que no meio da multidão. São músicas como “Cinema”, “Alma Mater” ou “Histórias”, em que o violino de Viviena chora nas suas mãos. São músicas que se entranham e nos levam todos os males.

Contudo, em “O Aniversário”, seria benéfico mais algum trabalho cénico, que complementasse melhor a magia que Rodrigo e os seus músicos fazem em palco. Este detalhe não chega a ser problemático, verdade, mas pode ter influência sobre o público que ainda não é fã e está a começar agora a embrenhar-se no mundo do compositor.

O momento alto da noite, que reuniu mais palmas no Coliseu de Lisboa, foi quando Selma Uamusse se entregou em plenitude ao tema “O Pastor”. Terminou entre ovações e palmas, tendo sido inclusivamente aplaudida de pé por alguns espetadores.

Rodrigo Leão

Rodrigo Leão já tem lugar garantido na história da música portuguesa. Já o tinha com os Madredeus. Consolidou-o nos Sétima Legião. E passou todos os limites imagináveis com a carreira a solo. A nós resta-nos agradecer. Pelo magnífico concerto (em que não se notou absolutamente nada o cansaço que certamente teria com tantos, e tão complexos, concertos de “O Aniversário” seguidos em duas cidades diferentes). Pela música que já nos deu e pela que dará. E por termos a sorte de ter visto nascer em Portugal tamanho talento.

Não poderíamos terminar este relato, sem informar os que acompanham o trabalho de Rodrigo Leão, que temos boas notícias. Tendo em conta declarações recentes, tudo indica que vamos ter novo álbum para o ano! Agora resta esperar.

E enquanto espera nada melhor do que continuar a revisitar a obra deste músico que consegue na maior parte das vezes fazer com que o poder de um instrumento bem tocado se faça notar.

Se por acaso faltou à chamada para “O Aniversário” não repita a “brincadeira” muitas vezes. Estes são concertos únicos de um compositor ímpar em Portugal. Veja-o o quanto antes ao vivo, senão vai mesmo arrepender-se.