RTP: prenuncio do fim? – João Cerveira

O mundo pode não ter acabado ontem, mas parece que tudo está encaminhado para o fim da RTP, pelo menos como a conhecemos.

Vamos rapidamente contextualizar. O Sr. Relvas (chamemos-lhe assim), da sua alta sapiência adquirida ao longo das 4 cadeiras da sua licenciatura, achou que o plano elaborado por Nuno Soares Sarmento, ministro com a tutela da RTP no Governo de Durão Barroso, não era suficiente. Então pediu mais à administração da RTP. Mais cortes, menos gastos. Então a administração da RTP elaborou um plano e, segundo o mesmo, a partir de 2013, já com menos um canal de TV e menos 1 (no mínimo)  de rádio, a empresa seria auto-suficiente, ao nível da tesouraria. Mas para o Sr Relvas isso não era suficiente. Então a administração demite-se, é indigitado o Sr da Ponte, que acompanha o Sr. Relvas a Angola para negociar… precisamente a RTP (entre outras coisas, dizem eles). O Sr. da Ponte que, inicialmente, diz ser só um gestor e que tem de ouvir quem está na empresa para a conhecer melhor, diz, dias depois, que o serviço público só é possível com 2 canais de televisão. Nunca mais se ouviu o Sr da Ponte falar nisso, até porque o Sr. Relvas não deve ter gostado.

Resumida que está a contextualização, importa agora falar dos (outros) factos. Um comentador da Antena 1 ousou criticar a ida do Sr. Relvas a Angola para negociar a RTP. Foi afastado da rádio pública. Nuno Santos, um dos principais obreiros em vários projectos televisivos (desde a SIC, SIC Noticias, até pela própria RTP, onde foi director de programas), ousou insistir (e investigar) a licenciatura do Sr. Relvas, foi afastado (ele demitiu-se, mas é evidente que acabaria por ser afastado se não o fizesse) por ter autorizado algo que, quer ele, quer o ex-director adjunto de informação nunca viram autorizado, mas o ex-subdirector de informação e a ex-directora de produção juram que sim. Só posso concluir que foi em sonhos diferentes que o viram. Mais: o inquérito foi concluído antes do visado/acusado se puder defender (o Sr da Ponte tem um sentido de justiça peculiar).
Como se não bastasse, a administração da RTP decidiu não continuar programas de verdadeiro serviço público, como o magazine cultural “Câmara Clara”, da RTP2. Também não se sabe o futuro do espaço de debate “Sociedade Civil”, também na RTP2. Sabe-se que o histórico TOP+, o programa semanal à mais tempo no ar, vai terminar. E, mais recentemente – e curiosamente pouco tempo depois de o Provedor do Espectador ter feito um programa sobre a importância do centro de produção RTP Porto -, a administração anunciou que pretende passar o programa “Praça da Alegria” para Lisboa, tendo indicado como contraponto que uma enorme produção está pensada para breve para o referido centro de produção situado no Monte da Virgem em Gaia. Como isto anda, só se for a “Gala  de Encerramento do Centro de Produção do Porto”.

Sou só eu que chego à conclusão que o Sr. Relvas está a acabar com os programas de serviço publico e a desmantelar a RTP, para que, daqui a uns tempos, a possa vender com a justificação de que a empresa não cumpre o serviço público? Valha-nos a (santa) Constituição, senão já não existia nada público. Era tudo dos angolanos.

 

 

Crónica de João Cerveira

Diz que…